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Depoimento

Infectado na capital, médico de Americana relata hostilidades

Jonatas Villa, de 26 anos, achou que vizinhos seriam solidários quando recebeu o diagnóstico do novo coronavírus

Por Marina Zanaki

05 de maio de 2020, às 08h15 • Última atualização em 05 de maio de 2020, às 15h50

Quando recebeu a ligação de uma vizinha no interfone do apartamento onde mora, em São Paulo, o médico americanense Jonatas Villa, de 26 anos, achou que receberia uma oferta solidária. Na ocasião, ele estava infectado com o novo coronavírus (Covid-19) e não saía do apartamento nem para comprar comida.

Jonatas trabalha no Hospital Santa Paula, em Moema – Foto: Divulgação

Contudo, o que ouviu foi uma série de xingamentos. “Imaginei que ela fosse se oferecer para fazer compras, me ajudar de alguma forma. Mas não quis se identificar e começou a me ofender, usar palavras de baixo calão, me chamar de irresponsável”, lembra o médico.

Para o médico, a reação da vizinha está relacionada à ignorância sobre o assunto e ao medo.

“Mesmo quando eu falava que como médico eu garantia que não tinha necessidade de ficar isolado em local só com doentes, ela me ofendia como se minha decisão de ficar em casa fosse irresponsável”, recorda.

Otorrinolaringologista no Hospital Santa Paula, em Moema, o médico recebeu o diagnóstico no final de março, afastou-se do trabalho e isolou-se.

Ele avisou o síndico do prédio onde mora sobre o resultado positivo para que o condomínio reforçasse as medidas de higiene.

Um aviso foi colocado no elevador informando os moradores, sem informar quem era o paciente. Contudo, a identidade de Jonatas se espalhou.

Depois do primeiro telefonema hostil, o médico recebeu outras ligações e até deixou de atender.

“O que aconteceria se eu precisasse sair de casa porque estava passando mal? Se eu encontrasse alguém no prédio seria hostilizado, às vezes até agredido, enquanto estava em um momento de fragilidade?”, questionou.

“A gente vê na sociedade manifestações de apoio aos profissionais da saúde, acho muito válido. Mas o que aconteceu quando fui colocado na condição de paciente foi hostilidade”.

Estigma

Mesmo sem ter sofrido hostilidade direta, o advogado barbarense Marcel Guarda Breviglieri, de 27 anos, notou que há um estigma em torno da Covid-19.

Já curado, ele acredita que o fato de ter postado um depoimento em suas redes acendeu um alerta entre seus conhecidos.

“A gente percebe pelo olhar, diferente de como me olhavam antes e como olham hoje, a gente sabe quando tem um certo receio”.

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