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Covid-19

Índice satisfatório de isolamento social só durou duas semanas em Americana

Taxa de ao menos 50% de moradores em casa foi alcançada apenas no começo da quarentena; número pode atrasar retomada de atividades comerciais

Por João Colosale

26 de abril de 2020, às 08h36 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 10h25

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal (1).JPG
De máscara, passageiro embarca em ônibus em Americana

O isolamento social considerado satisfatório pelo governo estadual, que atinge pelo menos 50% da população, ocorreu em apenas duas das quatro semanas de quarentena em Americana.

Nesta sexta-feira, 24, as restrições impostas pelo Estado como forma de combate à proliferação do novo coronavírus (Covid-19) completaram um mês.

As taxas de distanciamento social, monitoradas pelo governo a partir de uma parceria com operadoras de telefonia celular, são uma das principais variáveis para se decidir sobre a retomada das atividades econômicas no Estado.

Na sexta-feira, o governador João Doria (PSDB) disse, em coletiva de imprensa, que se não houver isolamento de ao menos 50% no Estado, a reabertura de serviços como o comércio, prevista para ocorrer a partir do dia 11 de maio, poderá ser revista.

Nesta quinta, a taxa de isolamento foi de 48%. “Sinal amarelo. Precisamos voltar a taxa acima de 50%”, disse Doria.

“Cidades que não estiverem respondendo adequadamente, nós teremos um outro comportamento”, afirmou o governador. “Faço um apelo aos prefeitos que não se precipitem, que não cedam à pressão local para liberar, ainda que parcialmente, o comércio e outras áreas de serviços”.

Em Americana, as medidas do decreto estadual começaram a valer no dia 21 de março, na mesma tarde em que o governador João Doria (PSDB) fez o anúncio e três dias antes da publicação oficial que passaria a vigorar para todo o Estado.

Na ocasião do anúncio, o prefeito Omar Najar (MDB) antecipou o fechamento do comércio em geral, de bares, e restaurantes, salões de beleza, dentre outras atividades, com exceção dos serviços essenciais.

As primeiras medidas de prevenção ao coronavírus, porém, já haviam chegado à região nove dias antes. Em 12 de março, o Estado pediu para que pais de alunos com sintomas de gripe não levassem os filhos à escola.

Daí em diante, houve um escalonamento das restrições: aulas foram suspensas, procedimentos de saúde foram adiados e eventos particulares passaram a ter de obedecer a limitações de participantes.

Na semana seguinte, entre os dias 16 e 20 de março, medidas mais restritivas foram adotadas como forma de reduzir a circulação e aglomeração de pessoas. Até então, nenhum caso havia sido confirmado na região. No dia 18, houve a primeira morte pela doença no Brasil, em São Paulo.

As medidas começaram a fazer efeito no isolamento na cidade. Nos dias 12 e 13 de março, quando os anúncios de restrições tiveram início, entre 28% e 30% dos moradores permaneciam em casa, segundo o monitoramento.

Uma semana depois, quando as determinações dos governos se intensificaram, os percentuais subiram para 40% e 42%.

O decreto da quarentena, anunciado no dia 21, entretanto, inverteu o movimento na cidade. Se até então a maioria continuava nas ruas, logo após o anúncio do governador, mais da metade da população de Americana passou a ficar em casa.

Entre os dias 23 de março e 7 de abril, os índices de isolamento variaram entre 50% e 54% durante os dias úteis. Aos sábados e domingos, chegaram a 59%.

A variação no distanciamento social tem sido semelhante em todo o Estado, mas na RPT (Região do Polo Têxtil), Americana e Hortolândia cumpriram as recomendações melhor do que Santa Bárbara d’Oeste e Sumaré, com uma diferença de até quatro pontos percentuais. Cidade menos populosa da região, Nova Odessa não tem entrado nas estatísticas.

QUEDAS. A redução no isolamento social se deu a partir da terceira semana de quarentena. Uma das quedas mais significativas nos percentuais ocorreu entre os dias 8 e 9 de abril, quando o índice baixou de 49% para 46%.

A variação negativa coincidiu com ao menos dois fatores. Na noite do dia 8, o presidente Jair Bolsonaro fez seu quinto pronunciamento em rede nacional sobre a crise do coronavírus.

No discurso, ele voltou a criticar o isolamento decretado por governadores e prefeitos, pregou o uso da cloroquina como solução para a Covid-19 e defendeu a volta ao trabalho.

“Tenho certeza de que a grande maioria dos brasileiros quer voltar a trabalhar. Essa sempre foi minha orientação a todos os ministros, observadas as normas do Ministério da Saúde”, afirmou nos televisores e rádios de todo o País.

No dia seguinte, a véspera da Sexta-feira Santa e do domingo de Páscoa também ajudoupara que menos pessoas seguissem a recomendação de ficar em casa. Sem interrupção no funcionamento, os supermercados ficaram cheios.

Desde então, Americana e municípios da região não conseguiram mais alcançar o percentual de 50% no isolamento em dias úteis – apenas aos sábados, domingos e feriados. Em Americana, inclusive, nem mesmo o sábado antepassado, dia 18, alcançou a marca recomendada.

Na data, uma carreata com 1,2 mil veículos e cerca de 2 mil pessoas, segundo estimativa da Polícia Militar, foi às ruas de Americana e Santa Bárbara d’Oeste cobrar a reabertura do comércio. No dia, o índice de isolamento ficou em 49%.

Na sexta-feira anterior, 17, a taxa já havia caído para o seu menor patamar durante a quarentena, de 45% de isolamento.

A queda coincidiu com outros dois fatos importantes na crise do coronavírus: a demissão do ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, defensor do isolamento social, após atritos com Bolsonaro, na quinta-feira, 16, e a prorrogação da quarentena em São Paulo até o dia 10 de maio, na manhã de sexta.

O descumprimento do distanciamento recomendado pelo Estado continuou aumentando. Na última semana, em três dos cinco dias úteis, Americana registrou percentuais abaixo dos 50%, chegando novamente, por duas vezes, ao índice mais baixo, de 45%.

Apenas na terça, feriado de Tiradentes, o isolamento foi pouco maior, de 51%. O índice desta sexta não foi divulgado.

Foto: Ministério da Saúde
uso de máscara  Recomendada, utilização diminui risco de contágio

IDEAL E POSSÍVEL. Junto com a queda no distanciamento social e de atos locais, de municípios que flexibilizavam a quarentena, o Governo do Estado também recuou nas metas de isolamento que cobrava das cidades.

De início, o Comitê de Contingência criado para lidar com o coronavírus recomendava taxas de 70%, que nunca chegaram a ser alcançadas no Estado ou na RPT.

Agora, especialistas do governo defendem um isolamento que varie entre 50% e 60%, percentual que parte dos municípios paulistas tem conseguido atingir, mesmo com a resistência à quarentena.

O secretário estadual de Saúde, José Henrique Germann, diz que os números se diferem por serem cenários possível (50% a 60%) e ideal (70%), e ressalta a necessidade de se manter o isolamento, sob o risco de ver o número de casos e mortes subirem em percentuais de dois dígitos.

“Estamos em curva ascendente, numa velocidade baixa. É satisfatório do ponto de vista de expectativa. Precisamos manter o isolamento social para que continue num crescimento numa velocidade mais baixa, e com isso, o sistema de saúde não é colapsado”, comentou, em coletiva na última quinta-feira.

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