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Boas Histórias

Formado em engenharia, haitiano quer empreender e inspirar

Aos 29 anos, Guerlinx Doriscard se torna o primeiro haitiano a se formar no Unisal de Americana e desenha planos para o futuro

Por Isabella Holouka

12 de fevereiro de 2020, às 09h58 • Última atualização em 12 de fevereiro de 2020, às 10h01

“Eu não posso falar em dificuldade, eu aproveito demais. Dificuldade tem, mas eu sou um vencedor. Eu já sofri tanto, mas nunca vai ser fácil, não espere isso”. Este é o estado de espírito do haitiano Guerlinx Doriscard, de 29 anos, o primeiro aluno haitiano a ingressar na Unisal (Centro Salesiano de São Paulo) em Americana e concluir a formação.

Ele, que vive na cidade há 6 anos, está entre os formandos do curso de Engenharia Civil da Unisal e hoje se define como um empreendedor.

Na sala de uma casa simples no bairro Antônio Zanaga, enfeites em ferro forjado à mão retratando paisagens haitianas dividem o espaço com uma escrivaninha e diversos produtos cosméticos comuns no Haiti. Ele revende os itens enviados da terra natal pelo pai, além de vender espetinhos no bairro e prestar serviços de pintura.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Guerlinx Doriscard obteve o diploma de Engenharia Civil no Unisal; a turma dele foi concluída no ano passado

A ideia inicial de GD, como ficou conhecido na faculdade e no bairro, era se dedicar à um curso técnico, embora já tivesse algumas formações no Haiti. Entre idas e vindas em busca de oportunidades, iniciou a graduação.

A bolsa de estudos integral foi conquistada com a participação em projetos da faculdade. Dentre eles, o desenvolvimento de um tijolo ecológico, logo no primeiro ano de curso, que já é fabricado em Hortolândia.

“É uma ideia de construção rápida, barata e segura, que a gente queria levar para o Haiti, depois do furacão de 2016”, conta, apesar de ter esbarrado na burocracia para exportar o projeto.

Pensar em desistir, nunca. Apenas alguns rápidos momentos de desânimo. Trocando o R pelo L, ele conta que teve dificuldade nas aulas que envolviam bastante português. Em compensação, a matemática e a física sempre estiveram afiadas.

“Sempre correndo atrás de empreender”, ele chegou a vender chocolates no Centro de Americana, Sumaré e até em São Paulo, para onde ia aos finais de semana. Outro negócio que fez durante um tempo foi intermediar ligações de haitianos para os familiares que ficaram no país, uma atividade que já não rende, com a facilidade dos aplicativos de mensagens.

Fez cursos de português, pintura e textura, empreendedorismo e oficina de concreto, além da própria faculdade. Para se divertir, karatê e futebol, que rendeu até um troféu no último final de semana, em um campeonato no bairro.

Depois de cinco anos de muito esforço, a formatura é uma alegria, mas não tão grande quanto a de ter a mãe por perto. Aos 49 anos, ela perdeu a casa no Haiti depois de um incêndio supostamente criminoso e veio morar no Brasil com o filho mais velho, onde também está batalhando nos estudos.

Para o futuro, Guerlinx sonha em ter uma empresa na área de engenharia, e procura um sócio. Mas além disso, quer começar um canal no YouTube e talvez até escrever um livro.

“Eu estou na dúvida se faço em português ou criolo, para motivar mais pessoas. Hoje em dia eu vejo muitas pessoas falando sobre o empreendedorismo, e é bom ser empreendedor. Mas é preciso ter conhecimento, habilidade e atitude”, defende.

Para o professor Flavio Rossi, que atua na integração dos alunos haitianos na universidade, GD foi uma figura importante para a aproximação da comunidade haitiana. “Trouxe para dentro da universidade uma capacidade de colaboração, de fazer acontecer e materializar o que se aprende na sala de aula, colaborando para uma transformação social e gerando um impacto muito positivo”, conta.

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