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Esperança e incertezas marcam o primeiro mês da vacinação em Americana

Município imunizou 3,8% da população, mas teve que interromper campanha por falta de doses; região têm 29.189 vacinados

Por André Rossi

21 de fevereiro de 2021, às 08h02 • Última atualização em 22 de fevereiro de 2021, às 10h16

Quando a enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19 no Brasil, em 17 de janeiro, o enfermeiro Jonathan Trindade de Souza não conseguiu segurar as lágrimas.

Vendo a cerimônia pelas redes sociais, o profissional de Americana disse ter se enchido de esperança por dias melhores. “Chorei de verdade. Fiquei realmente muito emocionado”, contou.

O início da aplicação da CoronaVac na RPT (Região do Polo Têxtil) completa um mês neste domingo. Durante o período, 29.189 pessoas foram imunizadas nas cinco cidades, das quais três já encerraram a aplicação da primeira das duas doses for falta de estoque: Americana, Nova Odessa e Sumaré.

Jonathan, de 36 anos, estava no grupo prioritário para receber a vacina, que acumula 9.513 imunizados até o momento em Americana. O enfermeiro trabalha na UTI neonatal do Hospital Unimed e viralizou nas redes sociais ao postar um vídeo da própria vacinação usando um chapéu de “jacaré”.

O meme faz referência à declaração do presidente Jair Bolsonaro, que insinuou que as vacinas poderiam transformar as pessoas em répteis. Para além da brincadeira, postar fotos nas redes sociais tem outro significado para o profissional.

“Todo mundo brinca que para fazer efeito [a vacina], tem que postar. Mas a gente posta porque a gente está dentro do hospital. A gente não tem dúvida se o vírus mata ou não. A gente tem certeza. Não temos dúvidas se a vacina vai vir para o bem ou para o mal. A gente tem certeza que vai ser para o bem”, afirmou Jonathan.

O enfermeiro recebeu a primeira dose em 26 de janeiro e a segunda em 18 de fevereiro. Sua esposa, a também enfermeira Bruna Busnardo, de 37 anos, já recebeu as duas. A profissional trabalha no Samu de Sumaré e testou positivo em 2020.

O casal de enfermeiros Jonathan e Bruna, imunizado, e as filhas – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

O casal tem duas filhas: Eduarda, de 11 anos, e Isabela, de 6. Agora vacinados, os profissionais celebram o fato de poderem trabalhar de forma mais tranquila.

“Para nós que trabalhamos na área, é o maior alento que a vacina nos dá. Saber que a gente pode sair para trabalhar com segurança, que estamos mais longe da forma grave da doença”, disse Jonathan.

Caminho das doses
A vacinação teve início em Americana com os profissionais de saúde que atuam na linha de frente. Depois, avançou para idosos e profissionais de ILPIs (Instituições de Longa Permanência), além dos idosos acamados.

Já no dia 2 de fevereiro teve início a vacinação dos profissionais de saúde que atuam na rede privada, mas não na linha de frente. E, na sequência, começou a imunização para a população em geral, com os idosos acima dos 90 anos.

Inicialmente, todas as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) aplicavam as doses, sem necessidade de agendamento. Também havia um ponto de drive-thru na UBS Cillos.

Angela Maria Ribeiro, 90 anos: Americana vacinou profissionais de saúde e idosos com mais de 85 anos – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Quando a vacinação avançou para os idosos de 85 anos ou mais, em 12 de fevereiro, a campanha foi centralizada em nove UBSs, além do drive-thru. Como não havia agendamento, algumas pessoas com menos de 85 entravam na fila, mas acabavam barradas.

“Faltam dois, três meses para completar 85 anos, mas eles querem tomar hoje a vacina. Dificulta muito, aumenta a fila, eles ficam bravos. Chega aqui e a gente ainda não está vacinando”, contou a técnica de enfermagem Jussara Motta da Silva, na UBS Cillos, em 12 de fevereiro.

Entretanto, na última sexta, a prefeitura teve de interromper a campanha por falta de estoque. Existe a previsão de que um novo lote comece a ser distribuído pelo Ministério da Saúde a partir da próxima terça, mas sem data definida.

A recepcionista Cíndia dos Santos Domingos Angelucci, de 39 anos, recebeu a primeira dose no dia 12 por trabalhar no Instituto Pró-Visão. O alívio, no entanto, é parcial, já que seu esposo, seus filhos e a maior parte da população ainda vão demorar para se imunizar.

“Fiquei feliz por estar recebendo a vacina, mas no mesmo momento eu fiquei triste. Várias pessoas estão esperando e vai demorar. Pessoas que precisam com urgência, que têm problemas de saúde. A preocupação fica do mesmo jeito”, comentou Cíndia.

Críticas
A forma como o calendário de vacinação foi elaborado incomodou moradores. O município seguiu o cronograma do do Estado e ampliou a campanha para profissionais de saúde que não são da linha de frente e para trabalhadores autônomos de saúde, como cuidadores.

Fila para vacinação de profissionais de saúde autônomos na UBS da Vila Gallo – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Na visão da advogada Adriana Paula Mathias Ferreira, de 54 anos, os idosos deveriam ter sido priorizados. Ela concorda que todos os profissionais de saúde da linha de frente e funcionários de hospitais precisavam da vacina, mas discorda da aplicação para os demais.

“Estou bem insatisfeita. Minha mãe tem 83 anos, está há um ano em isolamento, privada de ver filhas, netas, numa depressão profunda. Que eles repensem esse plano e revisem os grupos prioritários. Para não haver esse tipo de injustiça”, afirmou Adriana.

Por outro lado, a falta de imunizantes para os trabalhadores de saúde autônomos também gerou queixas. A UBS da Vila Gallo centralizou a vacina para esse público na quinta-feira pela primeira vez, já que até então eles não estavam contemplados. No entanto, a demanda foi superior à oferta e forçou a campanha a ser encerrada antes do horário previsto.

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