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Dia da Mulher

Empoderamento da mulher passa pela independência financeira

Mulheres empreendedoras de Americana contam desafios e acertos de seus negócios

Por Isabella Holouka

06 de março de 2021, às 08h44 • Última atualização em 09 de março de 2021, às 09h36

A busca pelo empoderamento feminino e pela equidade entre os gêneros – assuntos prioritários nos debates em torno do Dia da Mulher, celebrado na próxima segunda-feira (8) – passam pela necessidade de que as mulheres sejam independentes financeiramente. Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas o empreendedorismo vem se mostrando uma ferramenta para isso.

É o que demonstra a paulistana Maria Assunta, de 60 anos, que vive em Americana há 23. Ela conta que ficou 34 anos afastada do mercado de trabalho, mas há 2 anos foi abandonada pelo marido e precisou empreender, abrindo com uma das filhas o Little Pet, petshop especializado em banho e tosa.

Maria Assunta recorreu ao empreendedorismo, junto com a filha Isabella, após separação – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

“Eu era professora, era independente, mas parei de dar aulas para cuidar da família. Criei meus filhos, cuidei da família, levava as crianças na escola e buscava, cuidava da casa, fazia comida, fazia mercado, ia ao banco, embora não estivesse trabalhando, eu era atuante. E tive que voltar ao mercado de trabalho, com a cara e com a coragem, pois além de ter o abalo emocional, tive o abalo financeiro”, lembra.

Maria e sua filha Isabela se especializaram, investiram no próprio negócio e hoje se mantêm sem pensão ou ajuda do ex-marido. Mesmo com as dificuldades trazidas pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a empreendedora considera ter dado a volta por cima. Ela reflete que, afinal de contas, se libertou de um relacionamento abusivo.

“Como eu era dependente, eu tinha que muitas vezes aceitar humilhação. Valia a pena aceitar um monte de coisas que eu era obrigada, por causa de um prato de arroz e feijão? Eu acho que em toda situação que começa a ser abusiva, e a mulher começa a se tornar nula para sobreviver, ela precisa buscar sua independência e lutar pela sua dignidade. Mulher nenhuma deveria precisar sofrer abuso, seja moral, físico ou financeiro, por depender de alguém”, afirma.

Eliane Rosandiski – Foto: PUC-Campinas / Divulgação

A economista Eliane Rosandiski, do Observatório da PUC-Campinas, observa que o papel duplo da mulher, de trabalhar e de ter o cuidado da casa, acaba criando uma situação de dependência financeira.

“O cuidado da casa toma tempo e não é remunerado. Na sociedade machista, questionamos pouco esse papel. Além disso, a mulher aceita trabalho com uma flexibilidade maior para conciliar essas duas vidas, e com um salário que não pague o suficiente”, esclareceu.

“A independência financeira garante um pedaço da trajetória de empoderamento da mulher. Mas esse caminho ainda envolve romper padrões de comportamento, educar os filhos sem comportamento machistas, dentre outros. É um movimento que ainda tem que caminhar muito para se ter uma igualdade para além do salário”, avalia a economista.

Chefes da família

Assim como a Maria, a paranaense Aparecida de Fatima Araujo Gonçalves Guardia, de 60 anos, que vive em Americana desde a adolescência, é a responsável pelo negócio que sustenta sua família desde os anos 2000.

Ela é a fundadora da marca Kimonos Araújo, que confecciona vestimentas e acessórios para artes marciais, com homologação, registro e padrão de qualidade nacional e internacional, e vendas em todo o Brasil e em alguns países no Exterior.

Cida e a filha, Bárbara, na confecção da Kimonos Araújo – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

Os primeiros Kimonos Araújo foram confeccionados por Cida à noite e no chão da sala, inicialmente para o filho que lutava karatê, depois para conhecidos, até que ela pôde deixar a confecção em que trabalhava durante o dia para se dedicar inteiramente à nova empresa.

“Foi com o dinheiro daqui que formamos dois filhos na faculdade, tudo com o dinheiro do kimono que começou na minha sala. Crescemos devagar, com os pés no chão. Sinto muita satisfação em ver onde chegamos”, conta.

Cida conta que as mulheres são maioria em sua empresa e ressalta a importância da persistência e sabedoria para o crescimento de qualquer negócio.  

“Trabalhamos com respeito e temos o respeito do pessoal. Demorou para eu conseguir conquistar esse respeito sendo mulher. Tive que batalhar muito para chegar onde eu estou hoje. O pessoal fica surpreso, em eventos sempre perguntam quem é dono da empresa e eu digo que sou eu que cuido de tudo e sempre cuidei”, acrescenta.

A responsabilidade de trazer a maior parte da renda familiar para dentro de casa também é compartilhada pela empreendedora Maressa Gonçalves, de 27 anos, doceira desde 2014.

A americanense produzia doces para casamentos, aniversários e eventos corporativos – que por conta da pandemia estão impossibilitados de acontecer. A reação dela foi adaptar o negócio e começar a vender bolos, além de trabalhar em uma empresa como assistente administrativa.

O marido de Maressa é corretor de seguros e foi grandemente afetado pela crise financeira, então o empreendimento que começou como uma forma de reunir renda extra hoje é o principal sustento da família.

Maressa Gonçalves apostou e viu seu negócio de doces crescer – Foto: Ernesto Rodrigues / O Liberal

“Eu estava desempregada e o meu namorado, que hoje é meu marido, me incentivou. Então eu comecei a fazer brigadeiros e ele a vender onde trabalhava. Começaram a chegar as encomendas e o negócio foi fluindo, tomou uma proporção que a gente não imaginava”, relata a empreendedora.

“Tivemos a ideia de produzir bolos e eu me especializei nisso. Hoje em dia, graças a Deus, os bolos e doces são a maior parte da nossa renda”, conclui.

Brasil tem 26 milhões de mulheres empreendedoras
Engana-se quem pensa que as mulheres são minoria entre os empreendedores brasileiros. De acordo com uma pesquisa feita pelo Sebrae e pela GEM (Global Entrepreneurship), 50% dos empresários que estão tentando abrir um negócio ou que já têm um empreendimento com até cinco anos de mercado são mulheres. No total são 26,5 milhões de brasileiras que comandam o próprio negócio.

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