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CADEIA ALIMENTAR II

Em carta, Juninho Barros nega ter recebido propina e diz que foi usado

Ex-secretário de Governo de Americana, preso em operação da PF, acusa delator de esquema de fraude em merenda de mentir em depoimento

Por João Colosalle

07 de dezembro de 2019, às 16h37 • Última atualização em 08 de dezembro de 2019, às 18h17

O ex-secretário de Governo de Americana, Juninho Barros, preso pela Polícia Federal na segunda fase da Operação Cadeia Alimentar, negou, neste sábado, ter recebido propina de um esquema de fraude em contratos para o fornecimento de merenda. Em carta distribuída para a imprensa, ele disse ter sido usado pelo empresário que delatou as irregularidades. Foi a primeira vez que ele se manifestou publicamente após o caso.

Juninho foi preso temporariamente no dia 26 de novembro. Quatro dias depois, ele foi solto e pediu exoneração do cargo na prefeitura. A Polícia Federal diz que o ex-secretário recebeu entre R$ 130 mil e R$ 150 mil em propina em contas indicadas por ele ao empresário José Geraldo Zana, delator do esquema e dono de um frigorífico em Brodowksi que encabeçaria as fraudes.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal_24.06.2016
Juninho Barros negou ter recebido propina em carta divulgada neste sábado

O detalhe da apuração foi revelado pelo coordenador da operação Cadeia Alimentar ao LIBERAL, o delegado Bruno Rigotti, da Polícia Federal de Ribeirão Preto. Segundo ele, o delator diz que as negociações de propina ocorreram dentro da Prefeitura de Americana e envolveram depósitos em contas de familiares de Juninho Barros, que era o articulador político do governo.

O LIBERAL tenta uma entrevista com Juninho desde sua soltura. Nesta semana, a reportagem o procurou na casa onde mora, em Americana, sem sucesso. Na quarta-feira, o LIBERAL enviou 22 perguntas para Juninho por e-mail, forma sugerida por ele, sobre os apontamentos feitos pela polícia na investigação. A resposta veio em forma de carta.

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A reportagem questionou detalhes sobre pagamentos, como qual seria o motivo deles e por que teriam ocorrido na conta de familiares, como a Polícia Federal afirmou. O ex-secretário não justificou.

“Quero esclarecer que não recebi o dinheiro que meu acusador, um réu que fez uma delação inconsistente e mentirosa, diz ter pago. Dentro da legalidade, recebi na conta de familiares um valor ínfimo se comparado ao que vem sendo atribuído a mim”, afirmou Juninho.

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“A mim foram atribuídos falsamente pagamentos feitos por meio de depósitos a terceiros, em contas de pessoas que eu desconheço e que não têm envolvimento comigo”, traz a carta. Juninho cita a cifra de R$ 150 mil informada pelo delegado da PF ao LIBERAL e nega que a soma chegue a esse valor.

A investigação da operação Cadeia Alimentar II, baseada em uma delação premiada de Zana, aponta que o empresário pagava de 10% a 14% de propina a agentes públicos para direcionar licitações em várias cidades. Em alguns casos, usava lobistas na situação.

Em seu depoimento à PF, o secretário de Governo de Americana afirmou que os depósitos eram referentes a um serviço de consultoria que ele prestava ao empresário no contato com outras prefeituras, de acordo com o delegado – na nota deste sábado, Juninho não faz referência ao serviço.

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Porém, o empresário disse à polícia, em delação premiada, que esses depósitos eram para tentar receber valores que a Prefeitura de Americana devia para sua empresa desde a administração anterior.

Na carta, o ex-secretário afirma que foi usado pelo empresário. “Quem está sendo protegido por este homem? Ele me usou para disfarçar os seus reais malfeitos e, provavelmente, para proteger seus cúmplices. Enquanto isso, venho sendo acusado injustamente”.

Juninho diz que a acusação do delator contra ele é “confusa”. “Primeiro ele me aponta por ‘facilitar’ coisas que comprovadamente não ocorreram, como o pagamento relativo a dívidas do passado, e depois sobre uma licitação com a qual eu não tive acesso ou envolvimento. A Secretaria de Governo não é responsável por licitar ou pagar fornecedores e eu jamais tive poder para isso”, se defendeu o ex-secretário.

A operação Cadeia Alimentar prendeu, além de Juninho Barros, o secretário de Negócios Jurídicos, Alex Niuri, e uma servidora. Eles já foram soltos, negam ter cometido ilegalidades e permanecem no governo.

CARTA

Na carta, Juninho diz ter passado por uma semana de “muita tristeza e angústia”. “Neste momento, estou concentrado na minha defesa e na retomada da minha vida, depois do que passei. Tenho confiança de que, na esfera adequada, elucidarei todos os fatos, desmontarei essa farsa e a Justiça será feita!”, finaliza o texto.

Leia a íntegra da carta divulgada:

“Após uma semana de muita tristeza e angústia, mas também de muita reflexão, gostaria de me manifestar a respeito dos eventos que envolveram o meu nome recentemente. Assim como fiz nos meus depoimentos à Polícia Federal, exijo responder apenas pelos meus atos, e não por aquilo que se atribuiu a mim falsamente. Quero esclarecer que não recebi o dinheiro que meu acusador, um réu que fez uma delação inconsistente e mentirosa, diz ter pago. Dentro da legalidade, recebi na conta de familiares um valor ínfimo se comparado ao que vem sendo atribuído a mim.

A mim foram atribuídos falsamente pagamentos feitos por meio de depósitos a terceiros, em contas de pessoas que eu desconheço e que não têm envolvimento comigo. O Liberal aponta que eu teria recebido até R$ 150 mil desse senhor; é mentira [a informação é da Polícia Federal]. No meu depoimento me questionaram sobre uma série de nomes, que ele diz terem recebido por mim, e eu sequer conheço a maioria deles.

Quem está sendo protegido por este homem? Ele me usou para disfarçar os seus reais malfeitos e, provavelmente, para proteger seus cúmplices. Enquanto isso, venho sendo acusado injustamente.

Se há uma coisa que fiz desde 9 de janeiro de 2015, quando me tornei secretário de Governo, foi prezar para que todos os meus atos ocorressem de forma honesta.

A minha acusação é confusa; primeiro ele me aponta por “facilitar” coisas que comprovadamente não ocorreram, como o pagamento relativo a dívidas do passado, e depois sobre uma licitação com a qual eu não tive acesso ou envolvimento. A Secretaria de Governo não é responsável por licitar ou pagar fornecedores e eu jamais tive poder para isso!

Na verdade, os contratos da atual administração sequer são investigados, e em um ano e meio entre as fases da operação tenho certeza que a polícia o faria se tivesse visto irregularidades. Eu fiz parte dessa administração por quase cinco anos, me orgulho do trabalho que fiz e posso dizer com tranquilidade que nenhum tipo de falha moral foi cometida por mim ou diante dos meus olhos.

Eu desafio aqueles que me investigam a chamarem cada um desses nomes que meu acusador disse terem recebido por mim. Em momento algum meu nome será citado. Se receberam, em nome de quem receberam? Quem é esse, ou quem são, esses beneficiários que se escondem enquanto eu sou falsamente acusado?

Neste momento, estou concentrado na minha defesa e na retomada da minha vida, depois do que passei. Tenho confiança de que, na esfera adequada, elucidarei todos os fatos, desmontarei essa farsa e a Justiça será feita!

Dirineu Soares de Barros Júnior”

 

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