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OPERAÇÃO MERCADO DE DADOS

Em Americana, PF prende hacker suspeito de participar de esquema de venda de dados do INSS

Informações eram usadas para fins criminosos, como contratação indevida de empréstimos consignados; suspeito já foi investigado por situações parecidas

Por Gabriel Pitor

26 de setembro de 2024, às 19h22

A PF (Polícia Federal) prendeu na manhã desta quinta-feira (26), em Americana, um hacker de 24 anos, que é suspeito de participar de um esquema de venda de dados confidenciais do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para terceiros. As informações eram usadas para fins criminosos, como contratação indevida de empréstimos consignados e saques irregulares de benefícios previdenciários.

O hacker já foi investigado por situações semelhantes em outras oportunidades. Dessa vez, ele deverá responder por invasão de dispositivo informático, obtenção, comercialização e divulgação de dados sigilosos, além de participação em organização criminosa.

Ao LIBERAL, a defesa do suspeito, representada pelo advogado William Oliveira, disse que “essa investigação praticamente repete outra já em andamento sobre os mesmos fatos, na qual ele foi preso e acabou solto por um habeas corpus”.

Operação da Polícia Federal teve início no município de Cascavel, no Paraná – Foto: Polícia Federal / Divulgação

“Desde então, ele estava proibido de usar a internet e vinha obedecendo à determinação judicial. Iremos comprovar isso”, completou o defensor.

A operação, denominada “Mercado de Dados”, foi deflagrada pela PF de Cascavel (PR) após investigações iniciadas em setembro de 2023 e realizadas em conjunto com o Ministério da Previdência.

Segundo a corporação, a organização era composta por três grupos: um de hackers, que utilizava técnicas avançadas de invasão cibernética para acessar diretamente o banco de dados do INSS; outro de servidores da autarquia, que vendia as suas credenciais de acesso ao sistema; e, por fim, indivíduos que comercializavam as informações para interessados.

O suspeito preso em Americana nesta quinta, que trabalha como analista de sistemas, foi apontado como um dos hackers. Ele teria incumbência de acessar o sistema previdenciário e fazer alterações nos dados das pessoas para desbloquear benefícios. O homem ainda teria obtido e disponibilizado credenciais de acesso de servidores para demais integrantes da quadrilha.

O desbloqueio de benefícios é uma medida necessária para que aposentados e pensionistas do INSS consigam realizar empréstimos consignados. O procedimento, entretanto, costuma ser moroso e deve ser feito pelo próprio beneficiário.

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Para agilizar as concessões de empréstimo, agências financeiras acabam pagando para que hackers atuem nos sistemas governamentais, seja obtendo dados sigilosos de possíveis clientes ou realizando desbloqueios que viabilizem os empréstimos.

A PF também aponta que, além de realizar os desbloqueios e vender os números desbloqueados a clientes, o analista de Americana retirava a exigência de representante legal de alguns beneficiários, o que evitaria a necessidade de autorizações judiciais.

Por conta dos indícios de envolvimento, a 4ª Vara Federal de Cascavel determinou a prisão preventiva do suspeito. O mandado foi cumprido nesta manhã, em uma casa no bairro Chácara Letônia, na região da Praia dos Namorados.

Ainda nesta quinta, outros 16 mandados de prisão preventiva foram cumpridos nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Alagoas, Pará, Goiás, Distrito Federal, Paraná e Bahia, bem como foram concretizados 29 mandados de busca e apreensão. Entre os vários alvos estavam três servidores e um estagiário do INSS.

A Justiça também determinou o sequestro de 24 imóveis pertencentes aos integrantes da organização criminosa e o bloqueio de recursos financeiros existentes nas contas bancárias utilizadas pelos investigados, até o valor de R$ 34 milhões.

Os envolvidos poderão responder pelos crimes de organização criminosa, corrupção, invasão de dispositivos informáticos, violação de sigilo funcional, obtenção e comercialização de dados sigilosos e lavagem de dinheiro.

Precedentes

O analista de Americana já foi investigado por situações semelhantes. Em 2017, quando era adolescente, a PF apurou sobre invasão a sistemas de informática e banco de dados públicos.

No ano seguinte, houve a suspeita de que ele estivesse acessando ilegalmente sistemas da Justiça Eleitoral. Já na época, policiais federais encontraram indícios de que o analista desbloqueava milhares de números de benefícios no INSS.

No mesmo ano, em 2018, a Polícia Federal realizou a operação Data Leak, sobre vazamentos de dados previdenciários sigilosos em pelo menos cinco estados – Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Nela, a investigação levantou que o suspeito mantinha contato com um dos alvos da Data Leak, um homem com experiência na comercialização de dados sigilosos.

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No dia do cumprimento do mandado de busca e apreensão contra o analista, agentes flagraram conversas via Skype entre os dois no computador. Ambos negociariam desbloqueios de benefícios.

Já em 2022, o homem chegou a ser apontado em uma diligência do Núcleo de Repressão a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, em Brasília, como responsável por invasões em bases de dados do INSS — caso bastante parecido com o deste ano.

Em 20 de outubro daquele ano, agentes cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa do suspeito, onde relataram ter flagrado no computador do analista negociações em andamento.

Havia, por exemplo, arquivos com milhares de números de beneficiários que teriam sido enviados para o suspeito realizar o desbloqueio irregular nos servidores do Dataprev, empresa pública que gere os dados do INSS.

Ainda nesta última situação, o ministro Rogério Schietti Cruz, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), determinou a liberdade do analista e medidas cautelares. Dentre elas, ele foi proibido de acessar a internet por qualquer meio e de se ausentar da cidade sem comunicar a Justiça.

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