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Caminhos para Americana

Segurança pública: delitos em queda, interlocução em falta

Apesar de a violência diminuir em Americana, a inexistência de uma secretaria municipal de segurança é alvo de cobranças

Por João Colosalle

10 de novembro de 2020, às 18h49 • Última atualização em 14 de novembro de 2020, às 15h12

Ainda que, vez ou outra, Americana se evidencie no noticiário por crimes graves, a cidade está longe de ser conhecida pela violência. Delitos como roubos e assassinatos registram no município baixos índices para uma população de cerca de 240 mil habitantes.

Gama conta hoje com pouco mais de 300 patrulheiros – Foto: Ernesto Rodrigues – O Liberal.JPG

Um ranking do Instituto Sou da Paz, divulgado em agosto, que mede a exposição dos habitantes à criminalidade violenta, coloca a cidade positivamente na parte debaixo de uma tabela com 133 municípios com mais de 50 mil habitantes. Enquanto as piores cidades alcançam índices acima de seis pontos, Americana se encontra na faixa dos dois pontos.

Considerado um dos crimes mais preocupantes e mais combatidos, o roubo tem mantido patamares em queda na cidade nos últimos anos. Os dados da SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), que compila estatísticas de registros de boletins de ocorrência, evidenciam a redução.

Entre 2002, início da contabilização, e 2010, os distritos policiais de contavam cerca de 943 assaltos por ano, em média. A redução começou a ocorrer a partir de 2011. Entre aquele ano e 2015, o número de roubos registrados caiu sucessivamente, chegando ao patamar mais baixo da série histórica – 593.

Em 2016, uma explosão na quantidade de casos – 976 – não passou de um ponto fora da curva. De 2017 até então, os roubos voltaram a despencar.

No ano passado, por exemplo, Americana teve o segundo menor número desde 2002, estatística que deve ser melhorada pelo período de pandemia. A média de assaltos por mês em 2019, que girava em torno de 50, em 2020, caiu para 33.

Com somatórias menores, por outro lado, a queda no número de homicídios exibe percepções mais contidas. Desde o início dos anos 2000, morre-se, em média, 12 pessoas por ano. Nos últimos anos, porém, a cidade registrava entre 8 e 13 vítimas dos homicídios.

Diferente de delitos contra o patrimônio, que geralmente envolvem modos de atuação que indicam padrões de determinados criminosos ou quadrilhas, os assassinatos são crimes de difícil controle por parte das polícias.

Isso porque nem sempre estão associados a uma violência possível de investigação e prevenção. Nas estatísticas das mortes, contabilizam-se casos de feminicídio e desavenças banais, que vão de brigas de bar a disputas comerciais.

FURTOS. Se por um lado os crimes violentos alcançam patamares mais controláveis, por outro, um velho conhecido da polícia em Americana continua a dar trabalho nas estatísticas da cidade.

A quantidade de furtos de veículos ainda resiste em índices considerados altos. Um mapeamento feito pelo LIBERAL na chamada taxa de delito nas principais cidades do Estado coloca Americana como a mais violenta para o crime dentre as cidades localizadas no interior paulista.

Enquanto na década passada furtava-se, em média, 1.065 veículos por ano, nesta década, que não inclui 2020, a média subiu para 1.175. Comparado com a evolução da frota no período, o número não assusta. Mas em relação a outros municípios, a estatística é ruim.

Leia as reportagens do LIBERAL da série sobre os caminhos e os desafios para Americana:

Abastecimento de água
O desafio de trocar 500 km de rede

Saúde
Contratação de servidores e pandemia desafiam em Americana

Educação
Melhoria passa por contratação de professores

Trânsito
Crise de mobilidade urbana

Economia
A busca pela recuperação na pandemia

Esportes e lazer
Parcerias podem ser ‘ajuda’ para espaços esportivos

Habitação
Apesar de investimentos, fila da casa própria tem 6 mil famílias

Cultura
Sem verbas, prédios históricos estão ocultos

A partir de dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) e da SSP, o LIBERAL comparou a proporção entre os registros de furtos de veículos e o tamanho da frota. Como parâmetro, considerou-se apenas as cidades com frotas acima de 100 mil veículos – Americana tem pouco mais de 180 mil.

O resultado mostrou que a taxa de furto em relação a 100 mil veículos na cidade só é menor do que Santo André, Osasco e Mauá, cidades da Grande São Paulo. Ou seja, a quarta pior do Estado.

O combate a este tipo de crime é tão complexo quanto o de roubos. O furto, na maior parte das vezes, ocorre sem qualquer testemunha que possa, sequer, indicar características dos autores.

O trabalho, então, depende do mapeamento dos locais de ocorrências e do patrulhamento direcionado e da ação contra outros elos da cadeia como forma preventiva, mas, ostensivamente, carece do trabalho repressivo a, por exemplo, desmanches que revendem peças de veículos furtados.

Apesar dos índices ruins em comparação com o Estado, em Americana o número de furtos tem caído. Depois de se manter na casa dos 1,2 mil casos entre 2015 e 2018, em 2019, finalmente houve uma queda expressiva, de 200 casos, fechando em 1.004.

ESTRUTURA. Na região, Americana é localidade importante para o policiamento. A cidade é sede da Delegacia Seccional, que comanda a Polícia Civil em outras oito cidades, e do 19º Batalhão de Polícia Militar do Interior.

Além das forças de segurança mantidas pelo Estado, sobre quem, legalmente, recai a responsabilidade por conter a criminalidade, Americana tem uma das guardas municipais mais atuantes entre as cidades paulistas.

Hoje, a Gama funciona como uma autarquia, com regramento e hierarquia próprios, e praticamente sem qualquer subordinação que não ao prefeito. A corporação conta, atualmente, com 315 patrulheiros e 28 viaturas, segundo a prefeitura, e, além do trabalho preventivo e ostensivo, também opera um sistema de monitoramento por câmeras que cobre mais de 20 pontos na cidade.

O que a torna tão atuante na cidade é o fato de que sua presença nas ruas e avenidas não se restringe à proteção do patrimônio público. No ano passado, por exemplo, a Gama fez 284 apreensões de drogas e realizou 184 prisões, a maior parte por tráfico, de procurados ou por furtos e roubos.

“Americana tem realmente essa efetividade devido ao próprio efetivo, que é maior do que em outras cidades. Unido à PM e à Polícia Civil, a gente consegue ter eficiência no combate à criminalidade”, diz o instrutor de policiamento da corporação, Willian Scarazzatti.

O patrulheiro faz ressalva, porém, à necessidade de melhoria na estrutura administrativa da Guarda, algo que exige, segundo ele, a abertura de concursos públicos para cargos internos, o que não ocorre desde 2010, e a recriação de uma Secretaria de Segurança Pública municipal.

A demanda por este último item é semelhante à sugerida pelo ex-subcomandante do 19º Batalhão da PM em Americana, o tenente-coronel da reserva Rogério Takiuchi. Ele ressalta que cidades menores, com efetivos menores e sem guardas possuem uma pasta focada na segurança, voltada para a gestão de políticas públicas, e não apenas para o operacional de uma corporação.

Seria o papel de um secretário, de promover a comunicação entre as forças de segurança e com outros órgãos de governo, e tornar eficiente a discussão de políticas públicas e demandas comuns à responsabilidade do Estado e do município.

“Pelo tamanho dela [de Americana], pela dimensão das forças policiais e da guarda, não ter uma secretaria, faz, às vezes, que essa lentidão [nas tomadas de decisões sobre segurança] aconteça, por falta de um interlocutor”, comenta Takiuchi, que hoje também atua como consultor na Blinda Gerenciamento de Crise.

“O próprio diretor da Guarda acaba tanto fazendo a parte operacional quanto a política. Mas, para que a gente possa manter um convênio com o governo federal, por exemplo, é por meio da prefeitura. O melhor caminho para isso seria por meio de uma secretaria de segurança pública”, defende Scarazzatti.

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