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Acessibilidade

Gilmar levou dois anos para poder ver túmulo do pai

“Gostaria de ter visto o caixão entrar e fechar, mas não vai adiantar. Passou", lamenta o homem de 42 anos, que luta por acessibilidade no Cemitério Parque Gramado

Por Marina Zanaki

18 de outubro de 2020, às 08h06 • Última atualização em 18 de outubro de 2020, às 08h10

Na tarde de sexta-feira (16), Gilmar Pereira Santos, de 42 anos, conseguiu ver a lápide do pai no Cemitério Parque Gramado, em Americana, pela primeira vez. A distância entre a porta do cemitério e a lápide de Vivaldo Pereira Santos é de poucos metros, mas o filho levou mais de dois anos para conseguir superá-la.

Deficiente físico por conta de uma paralisia infantil, Gilmar passou os últimos anos lutando pela acessibilidade no cemitério. Nesse período, ele já pediu ajuda a funcionários, abriu um protocolo na prefeitura e moveu uma ação judicial. Esta última teve decisão favorável de no dia 8 de outubro determinando prazo de 90 dias para a prefeitura realizar melhorias, mesmo que temporárias.

O primeiro encontro de Gilmar, com o túmulo do pai Vivaldo, no Cemitério Parque Gramado – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Nesta sexta-feira, ele foi ao cemitério para conversar com o LIBERAL e mostrar as dificuldades. Dois funcionários do local acompanharam toda a movimentação da reportagem e do entrevistado e um deles fez com que Gilmar chegasse à lápide. Foi necessário levantar a cadeira de rodas para subir degraus, passar por um trecho de terra e lidar com desníveis e a grama.

A situação foi diferente do ocorrido no Dia de Finados do ano passado. Na ocasião, ao pedir ajuda a um funcionário do cemitério, Gilmar foi informado que seria “impossível” chegar até a lápide. A sugestão foi que ele se adaptasse aos entraves do local, comprando uma cadeira com rodas maiores e mais grossas.

Gilmar ainda busca uma forma de chegar sozinho à sepultura do pai – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Apesar da ajuda dos funcionários, Gilmar entende que o problema precisa ser resolvido de maneira ampla e não pontual. O cadeirante disse que busca uma forma independente de chegar à lápide e acredita que depender de favores não resolve o problema da acessibilidade no Cemitério Parque Gramado.

“Gostaria de ter visto o caixão entrar e fechar, mas não vai adiantar. Passou. Mas se resolver o problema, está ótimo, pra mim, outros cadeirantes, idosos”.

Sobre ter sido empurrado? “Deu medo de quebrar rodinha, empinar e cair pra frente. Mas a gente acredita em um mundo melhor”, comentou.

A cadeira de rodas de Gilmar não consegue se locomover na grama. Por isso, seria necessária uma passagem de cimento no local.

Ele apontou essa necessidade à prefeitura, mas foi informado por uma servidora que dificilmente seria colocado cimento pois o cemitério leva no nome o termo “gramado”.

“Não importa o nome. Importa a acessibilidade para a gente se sentir ser humano. Não quero brigar, só quero meu direito de ir e vir, me sentir uma pessoa normal”, afirmou.

A Secretaria de Obras e Serviços Urbanos disse que foi executada uma passagem para o público ter acesso aos túmulos.

“Este acesso vai receber melhorias no sentido de garantir ao requerente a acessibilidade ao referido túmulo, atendendo a liminar, que tem prazo de 90 dias para ser cumprida”, afirmou a prefeitura, sem especificar se faria uma passagem de cimento.

“Não estamos falando de um único individuo, estamos falando de todas as pessoas com algum tipo de deficiência e não conseguem ter acesso a um espaço público”, analisou a advogada de Gilmar, Vitória Lavrador.

INQUÉRITO
Após tomar conhecimento da ação movida por Gilmar, o Ministério Público instaurou inquérito para apurar as condições de acessibilidade no Cemitério Parque Gramado.

O promotor Jorge Umberto Aprile Leme, que atua na área de direitos humanos relacionadas a idosos e pessoas com deficiência, emitiu parecer favorável ao pedido de tutela de urgência, uma decisão rápida, no processo.

“Como a questão provavelmente é mais abrangente e afeta o direito de todas as pessoas com deficiência, que podem também estar com dificuldades de acesso aos espaços daquele cemitério, decidi extrair cópia do processo e instaurar inquérito civil para apurar melhor a situação e buscar uma solução ampla”, disse o promotor.

No inquérito, ele requisitou que a Secretaria de Obras realize fiscalização por parte de um profissional de engenharia ou arquitetura junto ao Cemitério Parque Gramado para constatar as condições de acessibilidade.

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