Investigação
MPT detalha como presidente aparelhou sindicato em benefício próprio
LIBERAL teve acesso a documentos da apuração que afastou diretoria de entidade que representa trabalhadores rodoviários
Por Leonardo Oliveira
20 de dezembro de 2020, às 07h37 • Última atualização em 21 de dezembro de 2020, às 08h58
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/americana/como-presidente-aparelhou-sindicato-em-beneficio-proprio-segundo-o-mpt-1393218/
No mês passado, uma investigação do MPT (Ministério Público do Trabalho) bateu à porta do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Americana e Região e afastou todos os diretores, sob a suspeita de irregularidades na gestão do sindicato.
Um extenso relatório produzido pelo órgão mostra indícios de que o presidente, Paulo Sérgio da Silva, mais conhecido como Paulinho do Sindicato, se aparelhou da estrutura da entidade em benefício próprio.
Ele teria usado funcionários e veículos do sindicato em diversos compromissos pessoais, aponta o MPF.
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Além disso, é acusado de ter se beneficiado financeiramente da entidade. O LIBERAL já mostrou em reportagem publicada anteriormente que as verbas anuais de representação recebidas por Paulinho subiram de R$ 59 mil, em 2009, para R$ 450 mil, em 2017.
Esse é um valor pago para ressarcir os membros por gastos que eles tiverem enquanto representam o sindicato. Segundo o MPT, o presidente teve uma remuneração 20 vezes maior do que à remuneração média da categoria em 2016.
Mas de que maneira isso aconteceu? Para o Ministério Público do Trabalho, isso tem origem em 2009. Na época, em uma reunião realizada no dia 25 de maio, os diretores votaram a favor do aumento da própria remuneração e deram “carta branca” para que Paulinho fizesse o que quisesse para manter o equilíbrio econômico da entidade.
Depois, esse ato foi ratificado em uma assembleia que contou com a participação de 44 trabalhadores – dentre eles, diretores do sindicato. Um número pequeno de participantes perto dos 2.513 trabalhadores sindicalizados, segundo a denúncia.
Há ainda o apontamento de que os valores pagos de cesta básica eram elevados e de que os diretores recebiam até Participação nos Lucros e Resultados, prática incomum, já que a entidade não tem fins lucrativos.
BENEFÍCIO
O presidente do sindicato possui um sítio em Indianápolis, no norte do Paraná, e usava veículos da entidade diversas vezes por mês para se deslocar até o local, diz o MPT.
Extratos do sistema Sem Parar, de cobrança automática de pedágio, foram anexados ao processo mostrando vários trajetos realizados. Sobre as viagens, o sindicato justificou no processo que elas foram feitas a serviço das federações dos estados de São Paulo e Paraná.
A compra de veículos de luxo também está entre os questionamentos do MPT. Ao menos quatro automóveis, que valem entre R$ 100 mil e R$ 257 mil, foram adquiridos ao longo dos anos.
O próprio Paulinho vendia carros dele para o sindicato, aponta a ação. Em um dos casos, a entidade comprou uma camionete Chevrolet S10 do presidente por R$ 63 mil, enquanto que o seu valor de tabela era de R$ 49,8 mil, de acordo com documentos do processo.
Paulinho também pagava, com o dinheiro do sindicato, a internet da casa de sua ex-esposa, segundo o MPT. Como justificativa, o sindicato disse na ação que o presidente e família recebiam diversas ameaças por conta do trabalho que ele fazia e, por isso, os diretores concordaram em pagar o serviço para monitorar a casa da mulher, como uma forma de “proteger” o presidente.
Uma ex-funcionária do sindicato prestou depoimento dizendo que fazia faxinas na casa de Paulinho, no horário de expediente na entidade e que não recebia nada a mais para fazer isso. Ela também citou que era levada até o imóvel por um diretor, em um carro do sindicato.
ELEIÇÕES
Testemunhas ouvidas pela Procuradoria do Trabalho ainda relataram que o presidente usou da estrutura da entidade na campanha de seu filho a vereador em Indianápolis. Um dos funcionários diz ter ficado cinco dias na cidade, em horário de serviço no sindicato, para ajudar no pleito.
Ainda há relato de um ex-empregado do sindicato que diz ter fotografado vários momentos da vida pessoal do dirigente sindical, quando cumpria expediente pela entidade. Paulinho teria usado o serviço dele em formatura, teatro e churrascos.
Paulinho ficou na presidência do sindicato por 20 anos até ser afastado no mês passado. Essa intervenção foi por meio de uma liminar, ou seja, de caráter provisório. O processo ainda não foi julgado. Enquanto isso, um administrador judicial conduz a entidade atualmente.
A reportagem não conseguiu contato com Paulinho até a publicação desta reportagem. Ao LIBERAL, o advogado do sindicato afirmou que não representa o dirigente e que só o presidente poderia responder pelas acusações.