Americana
Barco Escola sobrevive à crise e mira novos apoios
Perto dos 20 anos, associação busca parceiros para continuar a atender crianças
Por André Rossi
20 de outubro de 2019, às 07h38 • Última atualização em 20 de outubro de 2019, às 07h45
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/americana/barco-escola-sobrevive-a-crise-e-mira-novos-apoios-1093035/
Com 19 anos de atividades ininterruptas em Americana, a Associação Barco Escola da Natureza já atendeu cerca de 165 mil crianças e 80 mil adultos. Com foco na educação ambiental, o projeto “sobreviveu” à crise financeira que atingiu o País em 2014 e agora luta para angariar novos apoiadores e poder, finalmente, abrir agenda para atender escolas da cidade em 2020.
O idealizador, construtor e principal responsável pela manutenção do Barco Escola é João Carlos Pinto, de 59 anos, presidente da associação. Ele se mudou para Americana em 1981 e abriu uma lanchonete na Praia dos Namorados. Em 1999, decidiu fechar o comércio e iniciar a construção do Barco Escola no mesmo local. O projeto começou a funcionar no início dos anos 2000.
“Um fator decisivo foi o aumento muito grande da poluição que tivemos entre 1980 e 1990. Já vinha vindo lá de trás, mas as consequências mais graves foram dessas duas décadas. Eu queria dar apoio para as universidades fazerem pesquisas, pensando no bem do reservatório, e nesse momento os clientes já estavam se afastando por conta da poluição”, explicou João.
Os dois primeiros anos do projeto foram de dificuldades. Com poucos recursos financeiros, a associação sobrevivia graças a ajuda de amigos de João e de sua própria persistência em acreditar no potencial do projeto.
“Até que as primeiras empresas perceberam ‘opa, esse negócio é bom’. Aí começou a funcionar e foi só alegria. Sempre tivemos apoio pela iniciativa privada. A primeira empresa que apostou na gente foi a Ripasa. Depois veio a CPFL, Petrobras, Coca-Cola, que era da Del Valle. Parceiros de grande peso e a gente fazia um trabalho espantoso, atingia muitas crianças”, disse João.
DINÂMICA. A experiência das crianças no Barco Escola é dividida em três etapas. A primeira parada é na sala de aula flutuante, onde aprendem sobre questões ambientais, com foco especial no Reservatório Salto Grande. Na sequência, após passarem pelo laboratório, é hora de embarcar no barco Helena e percorrer as águas do reservatório.
“Vão vivenciar na prática o que eles aprenderam em sala de aula. Aí que está o ‘tchan’ da coisa. Quando você ensina na sala de aula é uma coisa, na prática é outra. O percurso leva mais ou menos 1h30. Depois eles vão no viveiro de mudas e cada criança planta uma semente. Em parceria com a CPFL nós plantamos em uma pancada só 120 mil mudas de árvores. Foi uma vitória muito grande”, contou José.
Atualmente, a principal dificuldade da associação é financeira. Dos antigos parceiros, apenas a CPFL permaneceu. O presidente afirma que estão em busca de novos apoiadores e esperam abrir em breve a agenda de visitas para as escolas em 2020. Enquanto isso não acontece, os próximos dois meses serão dedicados a atender a comunidade. “Entre novembro e dezembro vamos fazer um trabalho bem amplo com as comunidades no sentido de informar a real situação do reservatório. Por conta desses problemas de aguapés na represa, de esgoto. A população está sem conhecimento da real situação. E os líderes de comunidades podem entrar em contato conosco para agendarmos”, orientou João.
A Associação Barco Escola da Natureza fica na Avenida José Ferreira Coelho, 815, no Parque Mangueira, região da Praia dos Namorados. O telefone é (19) 3465-2761.
Experiência provoca mudança em carreira
Quando ingressou na faculdade de jornalismo em 2008, Juan Francesco Piva, de 29 anos, queria trabalhar com cobertura esportiva. Entretanto, o estágio iniciado em 2010 no Barco Escola mudou completamente sua predileção e o colocou na área ambiental. A experiência foi determinante, inclusive, para sua própria formação.
“Me inscrevi sem pretensões e foi trabalhando lá que me apaixonei pela área ambiental e me enveredei pela especialização em jornalismo ambiental. Foi o pessoal do Barco que me indicou para fazer uma especialização na USP de Educação Ambiental e Políticas Públicas”, comentou Piva.
A passagem do jornalista pelo Barco Escola foi até 2014, ano em que a crise financeira que atingiu o País forçou reestruturações no quadro de funcionários. “O trabalho no Barco Escola foi tão bacana que mudou até o rumo do meu TCC. Eu me envolvi tanto com os voluntários ambientais da entidade que decidi escrever um livro reportagem sobre voluntariado ambiental”, contou.
Além de participar de programas sobre o tema em uma rádio comunitária da cidade e até mesmo na televisão, o jornalista fundou em agosto de 2016 o Jornal + Notícias Ambientais, que foi distribuído mensalmente em Americana e Nova Odessa até agosto deste ano.
Na quinta-feira, Piva ficou com o segundo lugar no 7º Prêmio Ação Pela Água oferecido pelo Consórcio PCJ, na categoria Imprensa, no segmento Jornalismo Impresso ou Digital. Desde julho a publicação do jornal é feita de forma online e gratuita pelo site www.noticiasambientais.com.br.
A passagem como estagiário de comunicação no Barco Escola também foi marcante para Charley Peter Cornachione, secretário de Habitação de Americana. A estrutura e liberdade para desenvolver ações com os voluntários foi o ponto mais elogiado pelo secretário.
Houve também momentos inusitados. Um dos episódios que Cornachione lembra com bom humor aconteceu durante uma expedição com o barco na represa. “O barco enroscou e nós fomos desenroscar com cordas. Uma delas me deu rasteira, caí na água e passei mal pra caramba. Costumo brincar até hoje, quando falo com pessoas de mais idade, que também nadei no Ribeirão Quilombo. Infelizmente foi na água suja”, contou Cornachione, aos risos.