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Gangorra dos preços

Arroz e óleo mais barato não trazem alívio para o bolso do consumidor

Produtos tiveram redução de preço em julho, mas valor final da cesta teve alta de 2,19% em relação ao mês anterior

Por Natália Velosa

22 de agosto de 2021, às 08h04

Apesar da baixa nos preços de alguns produtos no mercado no mês de julho, consumidores reclamam que não percebem a redução no valor final nos gastos relacionados ao mercado.

A cesta básica estava custando R$ 640,51 em São Paulo no último mês, de acordo com dados da Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O valor representa uma alta de 2,19% em relação a junho. Em comparação ao mesmo período do ano anterior, em julho de 2020, a cesta básica custava R$ 524,74, o que corresponde um aumento de 22,06%.

Pesquisa mostra que preço do arroz caiu 4,20% em julho, segundo a Apas; entretanto, impacto de outros itens deixa resultado imperceptível no final – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

No mês passado, o IPS (Índice de Preços dos Supermercados), calculado pela Apas (Associação Paulista de Supermercados), mostrou, por exemplo, que a batata teve redução de 17,32% no valor do quilo em relação a junho, assim como o arroz e o óleo, que tiveram uma deflação de 4,20% e 0,50%, respectivamente.

Os preços do arroz e do óleo já foram alvos de reclamações no final do ano passado, quando valores abusivos foram investigados pelo Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor de São Paulo) na RPT (Região do Polo Têxtil).

A enfermeira Marta Nascimento Silva, de 60 anos, percebe que a redução desses produtos não faz diferença na conta final. “Quando cai um produto, sobem o outro. Todo mês está subindo e muito. É difícil porque eu moro com três netos e eles não aceitam eu deixar de comprar alguns itens porque não entendem”.

Apesar da queda de alguns produtos, outros itens que compõem o cardápio do brasileiro acumulam altas, como a carne bovina, que em julho ficou 1,51% mais cara, mas já subiu 36,78% nos últimos 12 meses.

Geada e produção menor fizeram o preço do café disparar nas gôndolas nas últimas semanas – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

O café é outro vilão deste mês. Segundo o IPS, além da influência das geadas nas plantações, já era esperada uma redução de 20% na produção neste ano em comparação com 2020, o que incide no preço cobrado ao consumidor.

A auxiliar de cozinha Lígia Monteiro, de 42 anos, conta que deixou de ir ao mercado com mais frequência por conta dessa situação. “Carne vermelha em casa é só de vez em quando, compro ovo ou frango para substituir”, reclama.

A economista do Dieese, Patrícia Costa, explica que um dos problemas de hoje é que existem políticas de estímulo a exportações, principalmente com a carne, o leite, o óleo de soja e o açúcar. “O preço sobe mas não é porque as pessoas estão comendo mais, é porque esses produtos vão para fora e aqui dentro acaba faltando. Como consequência, o preço sobe”.

A economista cita ainda que a ausência de renda do brasileiro agrava essa situação. A população se alimenta cada vez mais com alimentos de baixa qualidade. O salário mínimo necessário para conseguir comprar uma cesta básica mensal, estimado pelo Dieese, deveria ser equivalente a R$ 5.518,79, valor que corresponde a 5,02 vezes o piso nacional vigente, de R$ 1.100,00.

“O Brasil hoje é um Brasil que desenvolve e cresce para poucos, para quem é dono de de terra e está jogando seu produto para fora. Para mim, a imagem limite dessa história e dar a melhor da nossa carne para China enquanto aqui temos filas de pessoas querendo comer osso”, diz Patrícia.

Problema crônico

Em uma pesquisa divulgada na última quinta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostrou que 72,4% dos brasileiros viviam em famílias com alguma dificuldade para pagar suas despesas mensais em 2017-2018, sendo que 36,7% de domicílios no Brasil – o equivalente a 25,3 milhões de pessoas – já tinham algum grau de insegurança alimentar.

A economista do Dieese explicou que, antes da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a economia já vinha “patinando”, e que em março de 2020 tudo parou.

“Não tem política, em outros momentos a gente viu a importância de transferir renda para as famílias mais pobres, porque você estimula o consumo, que estimula a produção, o emprego e a renda. Neste momento não temos isso”.

*Estagiária, sob supervisão de Talita Bristotti e Bruno Moreira.

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