Liberal voluntário
Aprendendo como seguir em frente
Com a ajuda do CPC, que trabalha com deficientes visuais, Vera faz todo o serviço de casa e Robens começou a cursar Direito
Por Valéria Barreira
02 de junho de 2019, às 09h04 • Última atualização em 02 de junho de 2019, às 10h10
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/americana/aprendendo-como-seguir-em-frente-1020565/
Há 13 anos, quando Vera Lucia Meneghel Bernardes ficou cega em decorrência do diabetes, além da visão ela perdeu também o interesse pela vida. Aos 46 anos na época, a mulher que ganhava a vida como empregada doméstica achou que não seria mais capaz de cuidar da própria casa e nem dela mesma.
“Eu achava que estava tudo perdido, que nunca mais iria me reerguer. Pensei ‘a minha vida acabou, agora não sou mais ninguém’”. Os sentimentos de impotência, tristeza e até mesmo revolta começaram a ser superados quando ela descobriu no Centro de Promoção à Cidadania da Pessoa com Deficiência Visual, o CPC, um novo recomeço.
Ela é uma das pessoas atendidas pela instituição nos grupos de reabilitação destinados a ajudar quem perdeu a visão a começar de novo. “Quando cheguei na instituição eu estava perdida, mas lá me reencontrei com a vida”. Há 11 anos, ela frequenta semanalmente o CPC. Se no começo ia para aprender, hoje ajuda a ensinar. “Colaboro ensinando as pessoas a como usar o fogão sem se queimar”, conta.
Essa lição – assim como todas as outras que envolvem a rotina doméstica – ela já sabe de cor. Com os conhecimentos e orientações que recebeu, ela voltou a ter autonomia dentro de casa. Limpa, passa e cozinha como qualquer outra dona de casa e como uma mãe dedicada, ainda ajuda a cuidar da casa do filho e das roupas dos netos.
Nas horas vagas, faz crochê que doa para a instituição vender em seus bazares. “Eles deram outro sentido para a minha vida, aprendi a me aceitar nesse novo momento e a seguir em frente”.
Sonhos
Aos 21 anos, Robens Denilson Custódio dos Anjos corre atrás dos seus sonhos como outros jovens da sua idade. Ele frequenta o primeiro semestre do curso de Direito do Unisal (Centro Universitário Salesiano de São Paulo), gosta de viajar, interagir com os amigos e não dispensa um convite para conversar sobre sua condição.
Robens é cego desde criança. Foi diagnosticado com glaucoma congênito, mas aprendeu logo cedo a não deixar isso definir sua vida. Ele começou a frequentar o CPC há 20 anos. Na entidade, descobriu o braile, recebeu noções de informática e orientações sobre mobilidade. “Viajo sozinho e chego onde eu quero”, diz.
O jovem também participou dos grupos de psicologia oferecidos pela instituição e diz que isso também foi fundamental para formar a sua autoestima.
“Jamais deixei que a cegueira fosse empecilho para eu caminhar adiante. Nunca deixei que ela me limitasse. Penso ‘se eu parar, o mundo vai continuar girando’. Então prefiro engrenar com o mundo ao invés de ficar parado e perder as chances da vida. O CPC me ajudou a ter essa visão do mundo e compõe uma parte significativa do que eu sou hoje e do que eu transmito para quem está à minha volta”.