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Americana

Após denúncia sobre conduta de médico, HM vai abrir sindicância para apurar atendimento a vítima da Covid

Relatos de funcionários apontam demora para intubar e sedar paciente que estava em estado crítico de falta de ar em hospital de Americana

Por Marina Zanaki

20 de setembro de 2020, às 08h32 • Última atualização em 21 de setembro de 2020, às 15h29

O Hospital Municipal Dr. Waldemar Tebaldi, de Americana, vai abrir sindicância para apurar o atendimento prestado por um médico da Hygea a uma paciente com coronavírus atendida no início de agosto e faleceu.

A apuração será instaurada após o LIBERAL questionar a prefeitura de denúncias sobre a conduta do profissional, que levou pelo menos 20 minutos para intubar uma paciente que estava em estado crítico de falta de ar.

As informações do caso foram passadas por funcionários que pediram para não serem identificados.

O LIBERAL apurou que a paciente, uma idosa de 73 anos, deu entrada no pronto-socorro destinado aos casos da Covid-19 na noite do dia 4 de agosto com problemas respiratórios.

Ela recebeu suporte de ventilação não invasiva, mas após não ter apresentado evolução, com saturação de oxigênio no sangue abaixo de 90% (o normal é entre 95 e 100%), recebeu indicação de intubação pelo setor de fisioterapia.

O médico da Hygea que estava responsável pelo plantão determinou que continuasse com a respiração não invasiva.

Durante a madrugada, o estado da paciente piorou. O médico foi chamado novamente e decidiu pela intubação.

No CTI (Centro de Terapia Intensiva), com as equipes já prontas para o procedimento, o médico levou pelo menos mais 20 minutos para começar a intubação, pois priorizou fazer prescrições de medicamentos no computador.

Nesse momento, a paciente já tinha a saturação abaixo de 50% e estava em hipóxia – estado de ausência de oxigênio suficiente nos tecidos para manter as funções corporais.

Após ter sido alertado do estado grave da paciente por duas vezes, e da iminência de uma parada cardiorrespiratória, o médico, então, foi realizar a intubação. Contudo, a paciente teve uma parada cardíaca. Ela morreu na madrugada do dia 5 de agosto.

A paciente sofria de problemas cardíacos e deu entrada no HM em estado grave. Segundo os relatos, ela passou por sofrimento respiratório, por não ter acesso à ventilação invasiva ou a sedativos, e morreu de falta de ar aguardando a intubação.

Apesar de suas baixas chances de sobreviver, os relatos apontam que a intubação e sedação poderiam, no mínimo, ter oferecido conforto respiratório à paciente.

Apuração

O HM disse que não havia recebido denúncias sobre o ocorrido, mas que ao receber o relato da reportagem notificou a empresa Hygea e vai abrir sindicância, ouvindo os envolvidos.

“Todos os procedimentos referentes ao protocolo de atendimento aos casos de Covid-19 foram empregados pela equipe médica, e a paciente em nenhum momento deixou de ser assistida pelos profissionais. Em relação ao tempo decorrido para realizar a ventilação invasiva, bem como a necessidade ou não de sedação da paciente, será verificado no processo, visto tratar-se especificamente da conduta médica, no caso, feita pelo profissional que acompanhou o caso”, finalizou a prefeitura.

A família será contatada após o fim da sindicância. O LIBERAL procurou familiares da paciente, que não quiseram comentar o caso.

Hygea defende conduta de médico

O Grupo Hygea, que fornece médicos ao HM, afirmou ao LIBERAL que o tempo usado pelo médico para as prescrições antes de intubar a paciente quando ela sofria hipóxia foi necessário.

O LIBERAL pediu para entrevistar o médico, mas a empresa respondeu por meio de nota.

“O tempo usado pelo médico que prestou atendimento à paciente para providenciar as prescrições necessárias à enfermagem e fisioterapia, com o objetivo de dar continuidade ao cuidado à paciente, parece ter sido confundido, por falta de conhecimento médico ou por má fé, como não prestação de assistência”, argumentou a empresa.

A Hygea disse que a paciente “recebeu aporte de oxigênio de maneira não invasiva, como proposta terapêutica ao seu quadro de falta de ar, e que seu exame físico evidenciou foco de congestão pulmonar decorrente da insuficiência cardíaca que a paciente desenvolveu após sofrer recente infarto agudo do miocárdio”.

A empresa explicou que, inicialmente, o médico optou por aguardar pela intubação “uma vez que, com as medidas para congestão pulmonar já estavam trazendo melhora ao quadro da paciente, era de muito alto risco para eventos cardiovasculares”.

“O Grupo ressalta que todos os procedimentos têm seu risco versus benefício e a intubação para esta paciente, de acordo com a avaliação médica, teria maior risco por questões cardiovasculares e estabilidade hemodinâmica. Para prescrever e realizar tal procedimento, é necessário que a paciente esteja em condições mínimas, dentre elas ser pré-oxigenada, para que se possa ter uma mínima reserva de oxigênio em sua circulação durante o período entre e indução anestésica e a intubação (durante a qual a paciente entra em apneia), até seu acoplamento ao ventilador, que leva poucos minutos para ocorrer”, explicou.

“O Grupo Hygea assegura à população de Americana e região que preza pela excelência e zelo no atendimento aos pacientes e trabalha com uma equipe multidisciplinar capacitada para oferecer, de maneira integrada, a melhor proposta terapêutica”, afirmou.

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