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Americanense sonha em conseguir leiloar a 1ª obra e luta pelo reconhecimento de sua arte
Conheça a história do operador de máquina - e artista - José William Dias Silva, de 23 anos
Por Jucimara Lima
19 de novembro de 2023, às 10h31 • Última atualização em 19 de novembro de 2023, às 10h33
Link da matéria: https://liberal.com.br/cidades/americana/americanense-sonha-em-conseguir-leiloar-a-1a-obra-e-luta-pelo-reconhecimento-de-sua-arte-2065192/
Sabe aquela expressão popular “desde que me conheço por gente”, usada para a pessoa expressar algo que não lembra ao certo quando começou? Ela se encaixa bem para explicar a relação de José William Dias Silva, de 23 anos, operador de máquina em uma fundição. “Desde pequeno sempre foi uma necessidade, um instinto”, pontua.
Atualmente, o jovem sonha em conseguir leiloar a obra “Dama Mandarim”, fruto de um trabalho minucioso realizado durante dois anos. José William conta que, se conseguir, esse será seu primeiro trabalho vendido, apesar de já ter exposto duas pinturas, na época da adolescência.
“Meus professores da escola ajudaram e meu trabalho pôde ser visto na Casa de Cultura Hermann Müller e na prefeitura, contudo, achei que depois disso teria uma visibilidade, mas não rolou. No Brasil, a coisa é muito difícil porque a gente não tem a cultura, então é difícil valorizar o que não construímos. No exterior a percepção é outra. Aqui, a gente se abisma com a possibilidade de uma tela ter um valor alto, porque não estamos habituados”, comentou José William.
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“Mal aprendemos a desenhar, quanto mais a fazer uma leitura de obra, algo que seria ótimo. Imagine você olhar para uma pintura e conseguir se sentir refletido? É uma ferramenta poderosa. Adolescentes, por exemplo, que sentem ódio, raiva e acabam se envolvendo com drogas e prostituição, se soubessem fazer essa conexão poderiam canalizar esses sentimentos para outras coisas”, analisa.
Primeiros traços
Aficionado por pintura, ele desenha desde criança e acredita que sua paixão tenha a ver com o fato de a mãe pintar pano de prato quando estava grávida dele. Teorias à parte, desde a infância, José William diz se dedicar a aperfeiçoar seu talento, além de estudar a história da arte.
“Nunca fiz curso, mas sempre fui inclinado para a arte. Na adolescência, comecei a ler livros de arte e ficava folheando as páginas e tentando copiar as pinturas”, recorda ele, que encontrou no pintor italiano Caravaggio sua maior inspiração. “Gosto muito da história dele, um cara muito pobre que acabou sendo reconhecido, teve ascensão, virou símbolo de status e foi reconhecido por sua obra”, aponta.
“Ele tem uma arte muito visceral, as expressões na obra dele são muito contundentes, não tem nada meio termo. Ele entrega tudo que deseja em suas pinturas e consegue chocar as pessoas. Para mim, ele só não é melhor que Leonardo Da Vinci”, acrescenta.
Definições
Após dois anos se dedicando diariamente na criação da “Dama Mandarim”, José William se define como um artista perfeccionista, observador e muito detalhista, o que justifica o processo mais lento, embora faça questão da frequência. Cauteloso para definir seu estilo artístico, o jovem diz que mistura três movimentos.
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“Consigo manusear o realismo, o surrealismo e o cubismo, porque, na verdade, não me imagino criando só um tipo específico. Acho que isso me limitaria”.
Leitura da Dama Mandarim
De acordo com o artista, a leitura da obra é que o ambiente pintado representa uma sociedade e, apesar de cada um poder fazer sua própria interpretação, ele chama atenção para alguns detalhes.
Os pontos mais altos da obra não passam da altura da tela, o que ajuda quem olha a enxergar os picos, ou seja, dá para saber que a mulher está em um plano alto e que, portanto, ela está no topo da sociedade, diz ele. Isso também é representado pela coroa que ela usa, o que significa que ela tem renome e ocupa papel importante.
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“O animal que ela segura simboliza o ambiente ao redor sendo representado através das mesmas cores usadas em detalhes como o mar, rochas, cavalos e vegetação, enquanto a mão da mulher sobre o animal mostra que ela domina toda a sociedade ao redor. Por outro lado, mesmo ela tendo o controle, a expressão em seu rosto mostra que está apavorada com algo. Esse detalhe representa o sentimento que o homem tem de querer controlar tudo, mas não conseguir. Algo assusta ela, mesmo tendo todo o poder. Pode ser o medo da morte, julgamentos, algo em seu passado, alguma coisa a abala”, explica.
A pintura terá continuação. “Na próxima, vou pintar o que ela está olhando com tanto pavor. É uma história que já está toda concebida na minha cabeça”, pontua ele, que, se não conseguir expor, pretende vender a obra por cerca de R$ 7 mil. “Para mim, vender uma obra por um preço adequado é uma vitória, que se equivale a expor no [museu] Louvre”.
Pés no chão
Como nem só de sonhos se vive a vida, José William brinca que a cabeça está na lua, mas os pés no chão. “A realidade não é fácil, mexer com arte não é simples, então, a gente tem que ter outras formas de se estabilizar.” Para isto, ele fez curso técnico de contabilidade e almeja fazer faculdade de economia. “Se eu desse certo na arte, não iria atrás da faculdade de economia, faria outro curso, porém, dando certo na área de economia, vou investir na arte”. Quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho dele, o Instagram é @j.william_obrasdearte.