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Americana

Americanense relata tristeza em Bérgamo, na Itália, e alerta brasileiros

Ketty Lucao, ex-moradora da Vila Santa Inês, vive na cidade mais atingida do país; outra ex-moradora da cidade, Crisley Piza relata situação em Milão

Por Isabella Holouka

21 de março de 2020, às 07h53 • Última atualização em 21 de março de 2020, às 11h10

Foto: Arquivo Pessoal
Eu tenho passado para os meus amigos e família a minha percepção sobre como foram as coisas aqui”

Natural do bairro Vila Santa Inês, em Americana, a administradora de dados Ketty Lucao, de 30 anos, mora em Bérgamo, na Itália, há um ano e quatro meses. Atualmente, a cidade enfrenta uma crise, com muito mais mortos por coronavírus (Covid-19) do que é possível cremar. Na última quinta-feira (19), 15 caminhões e 50 soldados foram mobilizados para transferir uma parte dos corpos para províncias vizinhas.

Acompanhando os acontecimentos aqui no Brasil, Ketty diz que o momento é de responsabilidade e isolamento social, para que o país não siga os mesmos passos que a Itália.

“Eu tenho passado para os meus amigos e família a minha percepção sobre como foram as coisas aqui, para que eles não cometam os mesmos erros dos italianos. No começo ninguém estava achando que seria algo grave, estava tranquilo, mas tudo veio de repente, um monte de gente começou a falecer e ficar doente. Não quero que chegue nesse ponto no Brasil, estou bem aflita”, diz ela.

Ketty relata gratidão em poder trabalhar de casa, em home-office, mas muita tristeza em acompanhar as notícias todos os dias. Ela está em quarentena desde o dia 21 de fevereiro, quando foi descoberto o paciente número 1.

Desde então, ela sai de casa somente para ir ao mercado, a cada 20 dias. Até mesmo uma consulta médica foi feita à distância, com receita assinada e enviada digitalmente, evitando uma possível ida a consultório ou posto médico.

Todos os dias, pontualmente às 18 horas, confere os sites de notícias para acompanhar “os números atualizados”. Ela conta que a preocupação foi crescente, desde antes de a cidade ser considerada a mais afetada da Itália. “Eu vinha acompanhando todos os dias, mas eu não imaginava um número de mortos tão grande como o que chegou, a ponto de o cemitério não ter como suportar. Vi alguns vídeos muito chocantes”, relata.

“É um sentimento difícil de explicar, além de muita tristeza. Estou acostumada a ouvir os sons de carros, pessoas conversando, Bérgamo é uma cidade ativa. E agora eu só ouço as ambulâncias, no mínimo 10 vezes no dia. Os hospitais estão lotados, não têm leitos. Meu coração acelera, eu estou muito emotiva, eu não faço ideia do motivo para esta região estar tão afetada”, desabafa, lembrando de conhecidos que faleceram recentemente com a doença causada pelo coronavírus (Covid-19).

Contudo, ela ressalta a solidariedade que vem observando florear a cidade, que vai além de vizinhos e colegas de trabalho. São doações para o hospital de Bérgamo, doações de vales de alimentação e dias de férias convertidos em recursos para a saúde, disponibilização de contatos para ajuda, voluntários que auxiliam idosos com as compras ou até mesmo conversando, além de lives pelo Facebook com contação de histórias para crianças.

“Esse é um momento para todos juntos combatermos o coronavírus, sem pensar em comparação com dengue, influenza. Porque não é a mesma coisa. É uma comparação desleal. Assim como as pessoas ficarem brigando entre si, discutindo política em um momento em que o mais importante é poupar vidas. Temos que esquecer a economia, esquecer o que dizem na internet, fake news, e focar no principal que é poupar vidas. O resto depois a gente vê o que faz”, finaliza.

“Como amiga, eu te falo, estamos vivendo um pesadelo”, diz americanense em Milão

Ex-moradora da Vila Cordenonsi, em Americana, a chefe de cozinha Crisley Piza, 33 anos, mora na Itália há três anos. Agora, ela enfrenta o isolamento social em Milão, acompanhada de outros dois americanenses. No Centro da agitada capital do design italiano, ela relata silêncio, vazio e medo.

A expectativa era de que até o dia 3 de abril todos fossem liberados da quarentena, mas ela já entendeu que provavelmente as medidas serão prorrogadas.

“Não poder sair de casa é uma coisa muito ruim. Se saímos e formos pegos pela polícia, em determinados lugares, longe da nossa casa, temos que ter um certificado de trabalho. Sem isso, a polícia pode aplicar uma multa de 200 euros e pode até gerar prisão, dependendo do que você estiver fazendo”, explica.

Ela conta que o início da quarentena foi bastante caótico, principalmente com o desabastecimento nos supermercados. “Mas hoje já foi normalizado, estamos com tudo nos mercados. Tem filas para fora, porque tem um número de pessoas que pode entrar por vez e temos que respeitar isso. As filas estão bem grandes, durando uma média de uma hora”, conta.

Com relação à resposta do Brasil diante da pandemia, ela diz estar bastante preocupada. “Vocês têm chance de parar tudo isso antes. Nós fomos ter a consciência depois que os números começaram a aumentar muito de um dia para o outro. Depois que fechou tudo, como demorou muito tempo, muita gente foi infectada. Como amiga, eu te falo, estamos vivendo um pesadelo”.

Além da Capa, o podcast do LIBERAL

A edição de número #27 do podcast “Além da Capa” traz a experiência de ex-moradores de Americana que hoje vivem em países onde o novo coronavírus já se alastrou de maneira mais ampla, revelando um pouco mais sobre este problema em crescimento no Brasil. Ouça:

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