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Caminhos para Americana

A busca pela recuperação da economia após os estragos causados pela pandemia

Crise provocada pelo coronavírus exigirá do novo governo lidar com o risco do aumento do desemprego; empresários e comerciantes cobram medidas

Por Marina Zanaki

08 de novembro de 2020, às 09h22 • Última atualização em 14 de novembro de 2020, às 15h11

A próxima gestão municipal vai assumir Americana em meio à crise econômica provocada pelo novo coronavírus. O cenário é de saldo de empregos negativo, contratos de trabalho flexibilizados e risco de disparada no desemprego ao fim de programas federais de auxílio.

Desde junho, a cidade tem apresentado saldo positivo na geração de vagas. Contudo, ainda não foi suficiente para reposição dos postos perdidos entre abril e maio. No ano, Americana ainda amarga uma redução de 1.924 postos em seu estoque, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) até setembro.

O Calçadão da 30 de Julho, no Centro de Americana, em dias de quarentena – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

As demissões podem ser ainda maiores a partir do ano que vem. O motivo é que o programa de flexibilização de contratos de trabalho e pagamento de benefício emergencial do governo federal está dando suporte à economia durante a pandemia, evitando a disparada de demissões.

A partir do momento em que o programa não estiver mais em vigor, o desemprego pode disparar, com trabalhadores batendo na porta do serviço social da prefeitura.

O estado de calamidade acaba em 31 de dezembro e o governo federal já sinalizou que não há orçamento suficiente para nova prorrogação. Essa situação, portanto, deve coincidir com o início da nova gestão.

O alerta é do professor Dimas Alcides Gonçalves, coordenador do MBA em Gestão Pública da PUC-Campinas, e foi feito com base em estudo realizado pelo Observatório da PUC.

“As pessoas vão voltar para seus locais de trabalho, mas nesse meio tempo empresas estão quebrando ou passando por mudanças em seus processos de trabalho. A economia não dá salto para cima. Se tivermos vacina em janeiro e acabar a quarentena em janeiro, vamos levar um ano para a retomada da economia aos moldes que estava em dezembro de 2019”, analisou o professor.

Segundo dados do Ministério da Economia, foram flexibilizados 36.058 contratos de trabalho em Americana entre abril e outubro, cerca de 52% da economia formal na cidade. Desses, 16.651 se referem a suspensões do contrato e 19.068 tiveram redução na jornada, que pode ser de 25%, 50% ou 70%.

MEDIDAS
Em 31 de dezembro também expira a validade do auxílio emergencial, que já beneficiou 51 mil moradores de Americana. O professor Dimas destacou que é fundamental pensar em um auxílio emergencial municipal para atender a demanda de moradores que sofrerão com a falta de
uma renda mínima.

“Os orçamentos que foram enviados para as câmaras municipais serão jogados na lata do lixo. Ou isso, ou você vai enfrentar o caos no município – enfrentar saques. Hoje não estamos tendo saques porque tem o auxílio emergencial que faz com que as pessoas tenham comida na mesa”, disse.

Leia as reportagens do LIBERAL da série sobre os caminhos e os desafios para Americana:

Abastecimento de água
O desafio de trocar 500 km de rede

Educação
Melhoria passa por contratação de professores

Trânsito
Crise de mobilidade urbana

Segurança
Delitos em queda, interlocução em falta

Esportes e lazer
Parcerias podem ser ‘ajuda’ para espaços esportivos

Habitação
Apesar de investimentos, fila da casa própria tem 6 mil famílias

Cultura
Sem verbas, prédios históricos estão ocultos

Outra medida importante é o fortalecimento de bancos de alimentos para fornecer itens básicos para a população que ficar desempregada e sem renda. Em Americana, o setor estava previsto para ser inaugurado em maio, mas até o momento está fechado.

O professor, que já atuou como Secretário Municipal de Cidadania, Assistência e Inclusão Social de Campinas, avalia que não há medidas que podem ser adotadas pela gestão municipal para resolver a crise econômica.

“A prefeitura não tem condições e nem competência para fazer uma retomada econômica no município, não tem como”, finalizou.

COLABORAÇÃO
Professor de economia da FATEC (Faculdade Técnica) Americana e colunista do LIBERAL, Marcos Dias avalia que o quadro nacional é determinante sobre a economia local. Contudo, ele destacou que cabe à prefeitura adotar medidas para ajudar na geração rápida de renda.

A principal delas é estimular produção colaborativa, seja por meio do cooperativismo ou de associações.

“Unindo os trabalhadores em grupos, a prefeitura consegue atuar de forma mais rápida. Se ficam dispersos, a prefeitura não consegue ajudar. Se, por exemplo, cria cooperativas, você sabe onde ficam, se organizam, e consegue ter acesso rápido”, afirmou.

Segundo dados do Caged, 42% do total de empregos em estoque em Americana está no setor de serviços. O saldo de empregos em
2020 nessa área está negativo em 111 postos.

A situação é bem mais complicada para a indústria. Segundo maior empregador do município, responsável por 31% dos empregos em estoque, o setor contabiliza 985 postos fechados no ano. O comércio, que concentra 21% das vagas na cidade, tem saldo negativo de 960 vagas em 2020.

A indústria têxtil ainda é um dos grandes empregadores na cidade – Marcos Dias calcula que 14% dos trabalhadores formais estão em tecelagens e confecções. O economista indicou que a prefeitura deve investir na capacitação de empresários do ramo, incentivando a exportação de produtos, e, desta forma, aumentando o faturamento e a geração de empregos.

Por outro lado, um dos reflexos da pandemia no mercado de trabalho, segundo o professor, será a redução no mercado formal.

“As empresas vão estar em crise e não vão contratar tanto. Cabe à gestão pública incentivar as pessoas a criarem sua ocupação, criarem seu emprego”, declarou.

Nesse sentido, ele destacou que a próxima gestão deve atuar para facilitar a abertura de micro e pequenas empresas, tirando-as da informalidade.

“E isso tudo tem que ser feito de maneira rápida. Não dá para assumir e ficar pensando no que fazer, tem que ser feito para o meio do ano que vem. As pessoas estão desempregadas e passando fome”, sugeriu.

ESTRUTURA
Além dos problemas relacionados à maior crise de saúde e economia enfrentada pelo País nas últimas décadas, a próxima gestão de Americana também vai herdar uma situação que se arrasta há anos e preocupa o setor industrial – a necessidade de ampliação da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) Carioba.

Ampliação da ETE Carioba é demanda do setor industrial – Foto: Arquivo / O Liberal

Atualmente, a estação trabalha com cerca de 50% de eficiência, e o exigido por lei é 85%. A estação é responsável pelo tratamento dos efluentes de 38 empresas, muitas delas do setor têxtil.

Um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) foi firmado entre a prefeitura e o Ministério Público determinando a reforma e ampliação até o final deste ano. Em agosto, a prefeitura disse que não seria possível cumprir a meta em função da perda de recursos federais.

Estava previsto o repasse de R$ 46,8 milhões que seriam enviados via PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Contudo, o acordo foi encerrado em novembro do ano passado em função de entraves burocráticos.

No início de outubro, a prefeitura informou que vai reformar a estrutura da ETE – a medida é uma alternativa enquanto não há recursos para ampliação.

Presidente do Sinditec, Leonardo Sant’Ana elencou medidas que avalia como essenciais para a próxima administração, e uma delas é justamente a ETE Carioba. Ele lembrou que a renovação das licenças de operação de dezenas de empresas têxteis da cidade depende dessas obras.

“Qualquer problema que afete o funcionamento das tinturarias comprometerá também centenas de tecelagens e, consequentemente, os empregos que essas indústrias geram”, disse.

O que os comerciantes esperam

A Acia (Associação Comercial e Industrial de Americana) lançou uma lista com 33 necessidades que enxerga para a próxima gestão. O documento traz desde pedidos de melhorias no serviço de água e esgoto, passando por mudanças no trânsito, criação de uma Secretaria de Desenvolvimento Econômico e revitalização da área central.

Para o presidente da Acia, Wagner Armbruster, a principal demanda é estabelecer diálogo com o poder municipal. “A prioridade é que nós tenhamos acesso dentro de uma Secretaria de Desenvolvimento e sejamos ouvidos pela próxima administração.

A proposta é a Acia aberta ao diálogo, queremos dialogar com a prefeitura e que o próximo prefeito tenha porta aberta para a Acia”, disse o empresário durante coletiva de imprensa para apresentar o documento. O LIBERAL conversou com comerciantes de corredores comerciais de diferentes regiões da cidade, levantando as demandas e sugestões para a próxima gestão.

Michela Santa Rosa Vilela destacou o que considera prioridade como melhorias na Avenida Cecília Meireles – Foto: Marcelo Rocha / O Liberal

Avenida Cecília Meireles
Proprietária da Clínica Veterinária Zanacão, fundada há 25 anos no Antonio Zanaga, Michela Santa Rosa Vilela elencou como prioridades para o comércio a necessidade de vagas de estacionamento de 45 graus na Avenida Cecília Meireles e a regularização do fornecimento de água na cidade, problema que prejudicou muitos comércios, segundo ela.

Avenida Iacanga
Dono do Lojão Hortifruti, localizado na Avenida Iacanga há 22 anos, Luiz Antonio Belluco destacou a dificuldade dos pedestres em atravessar a via, e vê necessidade de instalar mais semáforos para facilitar o fluxo. Ele também sugeriu a instalação de um estacionamento no lugar do canteiro central da avenida e lembrou a importância de resolver o problema da falta de água na cidade.

Centro
O comerciante Wilton Marchini Christiano, dono da Heavy Metal, loja que está há 37 anos na cidade e há 23 na Rua 30 de Julho, destacou que é preciso melhorar a segurança na região central. Ele sugeriu encaminhamento dos moradores de rua e usuários de drogas para centros de acolhimento, bem como aumentar patrulhamentos. Wilton disse que também é necessário facilitar o uso das máquinas da Área Azul, que ainda deixam usuários confusos, e revitalizar o Centro, promovendo campanhas e feiras para atrair a população.

Avenida Paulista
Para o dono da Esfiharia e Pastelaria Ponto Mais, Mario Augusto Garcia Simões, a próxima gestão precisa estar aberta ao diálogo com os comerciantes, ouvindo a opinião do setor em relação a mudanças que podem afetá-los. Como exemplo, ele citou a transformação do Viaduto Amadeu Elias em mão única, que teve reflexos negativos no fluxo de consumidores na Avenida Paulista. Outra sugestão do comerciante é a instalação de zona branca na avenida, com vagas rápidas, para melhorar a questão do estacionamento no local.

Centro
Proprietário do Lotus Lava Jato e Estacionamento, no Centro, Caio Girardi destacou a necessidade de ampliar a segurança na região. Morador e síndico em um condomínio na Rua Francisco Manoel, ele também destacou que é preciso adotar medidas para resolver problemas de alagamentos naquela região.

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