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Americana

91% dos moradores de rua de Americana são usuários de drogas  

Associação responsável pelo estudo sugere ampliação da rede de atendimento; Ação Social pretende aumentar número de vagas para internação em Americana

Por André Rossi

15 de março de 2020, às 08h33 • Última atualização em 15 de março de 2020, às 09h56

Dos 149 moradores de rua de Americana, 136 são usuários de drogas lícitas ou ilícitas. O levantamento foi realizado pela Associação Vinde à Luz, que sugere a ampliação da Raps (Rede de Atenção Psicossocial) para lidar com o problema.

O atendimento do Seas (Serviço Especializado em Abordagem Social) da Vinde à Luz ocorreu de agosto a dezembro do ano passado. O objetivo era detalhar características desse público, como nível de escolaridade, uso de drogas e forma de sobrevivência. O relatório foi entregue para prefeitura no final de fevereiro.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Segundo estudo, 91% dos moradores de rua de Americana são usuários de drogas

De acordo com psicólogo e coordenador do Seas, Edson Rodrigo Somaio, 315 pessoas estão em situação de vulnerabilidade na cidade. Entretanto, 149 delas estão “marginalizadas”. São 125 homens e 24 mulheres.

“Tem munícipe em situação de rua, itinerante de outra cidade que acaba em situação de rua, mas não em situação de marginalidade. Ele não está vendendo, usando drogas. Dessas 315, 149 estão em situação de marginalidade. Tem antecedentes criminais, uso de substâncias e tendem mais a não querer sair das ruas. O comportamento está muito enraizado nessas pessoas”, afirmou Somaio.

Dessas 149 pessoas, 42 estão na área central da cidade, que é o maior território utilizado tanto para moradia quanto para sobrevivência. A localização é considerada estratégica devido ao grande fluxo de pessoas, o que facilita venda de produtos, mendicância e alimentação. O maior desafio, segundo Somaio, são as pessoas que estão com problemas psiquiátricos.

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“Essas pessoas são difíceis de trabalhar por estarem num contexto de psiquiatria. Elas não entendem qual é a necessidade delas, porque elas precisam estar no serviço. Minha equipe não pode pegar a força e elas ficam, vamos dizer assim, jogadas na sociedade. Precisaria de uma articulação melhor entre secretaria de Saúde e Ação Social”, argumentou o psicólogo.

O Seas sugere que o município amplie o Raps, com uma equipe de consultório de rua e um Caps (Centro de Atenção Psicossocial) 24 horas que realize acolhimento noturno de oito a 12 usuários. Por fim, a entidade que pede que o próprio trabalho e formas de entrar em contato seja mais divulgado.

A associação reforça que tais medidas não são suficientes para solucionar o problema, mas contribuíram para ampliar o atendimento.

Medidas

Segundo o secretário de Ação Social e Desenvolvimento Humano de Americana, Ailton Gonçalves Dias Filho, o mapeamento será analisado. A intenção é discuti-lo com as secretarias de Habitação e Saúde para encontrar soluções de forma conjunta.

O secretário quer viabilizar duas medidas a médio prazo. Uma é a regulamentação do “benefício eventual”, que permita ao município custear a passagem de moradores de rua que queiram voltar para sua cidade de origem. A outra é ampliar as vagas em clínicas de reabilitação.

“Hoje nós temos parceria com uma instituição só e há apenas duas vagas. A secretaria de Saúde tem convênio com a Comunidade Terapêutica e compra duas vagas. Se tiver as duas ocupadas, não tem nenhuma (a disposição)”, disse Ailton.

‘Nós somos psicóloga, mãe, tudo’

Diversas entidades de Americana desenvolvem trabalhos sociais com moradores de rua. Uma delas é a Paróquia São Domingos, que serve almoço gratuitamente de segunda a sexta-feira há mais de 20 anos. No local, a população carente também pode tomar banho e conseguir roupas doadas no bazar organizado pela comunidade.

A cozinheira Maria do Carmo, 55, contribui voluntariamente com o projeto há 13 anos e conhece por nome todos as pessoas que vão até o local. Além de cozinhar, ela também tenta ajudar e orientar.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
A cozinheira Maria do Carmo, que ajuda a fazer e servir comida a moradores de rua em igreja

“Eu procuro conversar, perguntar porque está na rua. Eles se abrem um pouquinho comigo. Aqui não tem uma assistente social, não tem projeto social. Nós somos psicóloga, mãe, é tudo para eles. Tanto eu cozinhando quanto quem está servindo lá na frente (outra funcionária)”, explicou Maria.

Com a ajuda de dois voluntários, a cozinheira prepara diariamente sete quilos de arroz, cinco de carnes de legumes, e outros três de feijão. Na maior parte dos casos, o almoço na igreja é a principal refeição que os moradores de rua fazem no dia.

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“Tem alguns que vem diariamente aqui. Temos um caderno que marcamos o nome para poder ter controle de quanto cozinhar. Eles não comem um prato, uma refeição. Comem dois, três. Então eu tenho que ter uma base”, explicou Maria.

De acordo com o padre responsável pela paróquia, Marcos Radaelli de Melo, as refeições são fruto de doações da comunidade e também do uso do dízimo.

“É um projeto da comunidade católica do São Domingos. As vezes chegam doações, mas o dízimo também tem sua função social. As vezes o pessoal acha que o dízimo é só para reformar igreja, essas coisas. Não é. Tem também a dimensão social, que é a atuação da igreja junto a quem mais precisa”, comentou.

Além da Capa, o podcast do LIBERAL

A edição desta semana do podcast “Além da Capa” fala sobre a pandemia do Covid-19, o novo coronavírus, e seus impactos nas cidades que fazem parte da RPT (Região do Polo Têxtil). Ouça:

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