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Política

Vitória de Bruno Covas em SP reforça elo familiar e superação

Por Agência Estado

30 de novembro de 2020, às 06h56 • Última atualização em 30 de novembro de 2020, às 08h39

Herdeiro de um dos sobrenomes mais emblemáticos da política paulista, Bruno Covas (PSDB) superou seu avô neste domingo, 29, ao menos no que diz respeito à Prefeitura de São Paulo. Mário Covas não chegou ao cargo por escolha popular. Ele foi o último prefeito biônico antes da democratização, em 1983. Bruno, de 40 anos, seguia uma história parecida – era o vice na chapa vencedora de 2016 -, até ganhar a eleição deste domingo no segundo turno, com 3,1 milhões de votos.

Segundo aliados, uma vitória com gosto de superação. Covas superou Guilherme Boulos (PSOL) com 59,38% dos votos válidos e quase dobrou o apoio que havia recebido no primeiro turno, quando alcançou 1,7 milhão de votos. Além disso, o tucano venceu em 50 das 58 zonas eleitorais da cidade. Em Indianópolis, na zona sul, sua votação chegou a 76% dos válidos.

Ontem, as histórias do avô e do neto se encontram novamente. Há pouco mais de um ano, Bruno luta contra um câncer, mesma doença que tirou Mário Covas da política e depois do convívio familiar. Amparado por um junta médica especializada e com os melhores recursos em tratamento, o prefeito não se afastou do trabalho nem escondeu os efeitos da quimioterapia em seu corpo.

Quando a pandemia chegou, Covas já era reconhecido nas ruas como prefeito da capital. Tinha ganhado fama de corajoso e conquistado a empatia de parte da população. No início de outubro, com a campanha no ar, pôde reforçar que sua gestão tinha aberto e fechado dois hospitais de campanha e retomado obras paralisadas até maio na área da saúde.

Começou em segundo lugar nas pesquisas – o recall de Celso Russomanno (Republicanos), mais uma vez, o colocava à frente -, mas foi subindo gradativamente e marcou 32% dos votos válidos no primeiro turno.

Sempre calmo em debates e entrevistas, Covas chegou ao dia 15 de novembro com a lição de casa toda feita. Considerado um bom articulador político, conseguiu o apoio de outros nove partidos, além do PSDB, da forma mais tradicional que se conhece na política: fazendo composições e concedendo agrados aos aliados. Em seu atual governo, ao menos oito desses partidos têm ou já tiveram cargos no alto escalão.

Mas o indicado para a chapa por uma dessas siglas coligadas virou o calcanhar de Aquiles de Covas na reta final: Ricardo Nunes, vereador do MDB indicado (e eleito) vice-prefeito da cidade.

Conhecido na zona sul por indicar entidades para formarem convênios com a Secretaria Municipal da Educação na oferta de vagas em creche, Nunes tem ex-assessores como gestores de algumas dessas unidades, recebendo mais de R$ 1,4 milhão em aluguéis por ano da Prefeitura. Fato que, como Nunes reforça, não lhe rendeu nenhuma denúncia, mas deu munição até o fim à campanha de Boulos.

Pressionado, Covas passou a esconder ainda mais o vice e teve de reconhecer que o vereador não foi sua primeira escolha. Por mais de uma vez, admitiu que a chapa ideal, em sua avaliação, incluía uma mulher. A definição do nome de Nunes, no entanto, fugiu de suas mãos. Foi articulada por Doria, o MDB, claro, e o vereador Milton Leite (DEM), chamado por parte de seus colegas na Câmara de “primeiro-ministro”, tamanha sua influência. Nunes é próximo a ele.

Partido

Do ponto de vista partidário, a vitória de Covas serve para dar um certo respaldo à renúncia de Doria em 2018 para disputar e vencer o governo do Estado – exatamente como ocorreu com Gilberto Kassab (PSD) em 2008 após chegar ao cargo de prefeito a partir da renúncia do também tucano José Serra. A diferença é que, desta vez, o comando da cidade permanece com o mesmo partido.

O apoio do PSDB à candidatura, aliás, se deu de forma homogênea e unânime. Se no momento da descoberta do câncer a sigla temeu ser obrigada a escolher outro filiado para a disputa, ao longo do tratamento de Covas o partido fechou em torno de seu nome e lhe deu condições de fazer uma campanha sem muitos altos e baixos.

Até a sexta-feira, 27, o investimento financeiro na reeleição já somava R$ 19,2 milhões em receitas, dos quais R$ 15,2 milhões repassados pelo partido.

O ex-governador Geraldo Alckmin, duas vezes vice de Mário Covas, conheceu Bruno ainda adolescente, quando ele decidiu deixar sua cidade, Santos, no litoral paulista, para estudar na capital e morar com o avô no Palácio dos Bandeirantes.

“Era um menino muito estudioso e inteligente. Fez duas faculdades ao mesmo tempo – Direito na USP e Economia na PUC. E com o avô aprendeu a ter espírito público. É vocacionado para a política, um nome dessa nova geração”, diz.

Segundo Alckmin, a conquista da eleição é resultado de um trabalho bem-feito. “Foi transparente com a questão da doença, sério no combate ao coronavírus e fez uma campanha muito boa, apesar de totalmente atípica. Agora tem um grande desafio: governar de novo essa cidade, que é apaixonante. Eu mesmo tentei por duas vezes.”

Desafios

Se o cenário até aqui é de comemoração, a realidade com as urnas fechadas segue igualmente desafiadora e com eventuais dois agravantes: o risco de uma segunda onda de covid-19 e o fim do auxílio emergencial pago pelo governo federal. Se a pressão por mais leitos hospitalares subir novamente na capital – o que já se desenha nas redes público e privada -, espera-se que Covas tenha de anunciar o retorno de algumas medidas restritivas na cidade e em um curto prazo de tempo.

Mas, em 2021, é no combate à pobreza e no retorno seguro dos alunos ao ensino presencial que Covas passará a ser cobrado como consequência das urnas. E, nesse aspecto, não haverá semelhanças com o avô.

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