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Política

Polícia Federal atribui ‘esquema criminoso’ a Fernando Bezerra

Segundo a PF, a investigação busca desarticular um "esquema de pagamentos de vantagens indevidas por empreiteiras à autoridades públicas"

Por Agência Estado

19 de setembro de 2019, às 13h27 • Última atualização em 19 de setembro de 2019, às 20h57

Foto: Marcos Oliveira - Agência Senado
Líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), admitiu entregar o cargo de liderança após ser alvo da Polícia Federal

A Polícia Federal (PF) atribui “esquema criminoso” ao senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do Governo no Senado, alvo nesta quinta-feira, 19, de buscas em seu gabinete e em sua residência no âmbito da Operação Desintegração. Em entrevista na entrada do prédio onde mora, em Brasília, o senador informou que colocou o cargo de líder do governo à disposição.

Segundo a PF, a investigação busca desarticular um “esquema de pagamentos de vantagens indevidas por empreiteiras à autoridades públicas”. Bezerra e seu filho, o deputado Fernando Coelho Filho (DEM/PE), também alvo de buscas, são investigados por suposta ligação com irregularidades e propinas em obras públicas, entre elas a da transposição do São Francisco.

A PF aponta que empreiteiras investigadas assumiam “dívidas pessoais de autoridades, principalmente relativas às campanhas eleitorais”. Segundo a Federal, a investigação teve início em 2017, com base nas delações de investigados da Operação Turbulência.

A “Turbulência” foi deflagrada em junho de 2016 contra um grupo especializado em lavagem de dinheiro, em Pernambuco e Goiás, que teria movimentado mais de R$ 600 milhões desde 2010.

Na época, a investigação foi iniciada com base na análise de movimentações financeiras suspeitas detectadas nas contas de algumas empresas envolvidas na aquisição da aeronave Cessna Citation PR-AFA.

Esse avião transportava o ex-governador de Pernambuco e então candidato à Presidência da República, Eduardo Campos pelo PSB, em seu acidente fatal, ocorrido em agosto de 2014.

A PF suspeitava que parte dos recursos que transitaram nas contas de fachada do grupo servia para pagamento de propina a políticos e formação de “caixa dois” de empreiteiras.

Os empresários João Lyra, Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira fecharam acordo de colaboração com o Ministério Público Federal em 2017. Lyra era apontado pela Polícia Federal como líder do esquema investigado pela “Turbulência” e como responsável por entregar propina de empreiteiras a Campos.

A Polícia Federal indicou que os colaboradores investigados pela “Turbulência” confirmaram o pagamento de “vantagens indevidas” a autoridades públicas, entre 2012 e 2014. As operações foram realizadas por empreiteiras que estavam executando obras custeadas com recursos públicos, indica a PF.

Em denúncia contra alvos da Operação Turbulência, Bezerra é citado como “cliente” de um esquema de lavagem de dinheiro desviado dos cofres públicos. O grupo investigado teria movimentado mais de R$ 600 milhões desde 2010 e seria supostamente liderado pelo empresário João Carlos Lyra.

Entre os valores que foram lavados pela organização estariam recursos públicos federais desviados dos lotes 9 e 11 do eixo leste do Projeto de Integração do Rio São Francisco, indica a peça da Procuradoria Geral da República em Pernambuco apresentada em agosto de 2016.

O político não foi denunciado pela Turbulência. Como detentor de foro privilegiado, é investigado perante a Procuradoria-Geral da República no âmbito do Supremo Tribunal Federal.

Ao todo, o senador é alvo de cinco inquéritos, dois deles por supostos crimes contra a lei de licitações quando era prefeito de Petrolina, dois do período em que era secretário estadual e um da época em que foi ministro.

Cargo à disposição

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), admitiu entregar o cargo de liderança após ser alvo da Polícia Federal na manhã desta quinta-feira, 19.

“Tomei a iniciativa de colocar à disposição o cargo de líder do governo para que o governo possa ao longo dos próximos dias fazer uma avaliação se não seria o momento de proceder uma nova escolha ou não”, disse Bezerra em entrevista na entrada do prédio onde mora, em Brasília.

Ele reforçou que a decisão será tomada pelo presidente Jair Bolsonaro e pelos ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). “Todos estão querendo aprofundar a análise do que foi baseado todas essas ações que nós fomos vítimas no dia de hoje para que o governo possa se manifestar.”

Bezerra se comprometeu em, mesmo deixando o cargo, ajudar o governo na agenda de reformas no Senado. O parlamentar ainda apontou que seus advogados avaliaram a busca da PF como “muito extensa e desnecessária”.

‘Posição do governo é aguardar os acontecimentos’, diz Lorenzoni sobre Bezerra

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou nesta quinta-feira, 19, que o governo vai aguardar os desdobramentos das investigações sobre o líder do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE), para decidir se ele permanecerá ou não na função. Lorenzoni, que cumpre agenda no Rio Grande do Sul nesta quinta, disse que vai discutir o assunto com o presidente Jair Bolsonaro no próximo final de semana.

“Ele (Bezerra) tem uma situação relativa a fatos passados, quando ele era ministro de um governo anterior. A posição do nosso governo é aguardar os acontecimentos”, disse Lorenzoni após palestra na Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

Lorenzoni afirmou que soube por jornalistas que Bezerra colocou o cargo à disposição do governo. “Estou sendo informado agora, mas no fim de semana vou conversar com o presidente e vamos ver qual atitude vai ser tomada”, declarou à imprensa.

O ministro destacou em dois momentos da entrevista coletiva que as investigações sobre Bezerra são relativas a acontecimentos anteriores à participação do senador no governo Bolsonaro. “Nesse momento, nós temos só que aguardar. É uma questão individual dele, da vida pregressa dele. Ele vai ter que esclarecer junto às autoridades.”

Defesa

O advogado André Callegari, que defende Fernando Bezerra e Fernando Coelho Filho divulgou nota sobre a operação desta quinta-feira. “Causa estranheza à defesa que medidas cautelares sejam decretadas em razão de fatos pretéritos que não guardam qualquer razão de contemporaneidade com o objeto da investigação. A única justificativa do pedido seria em razão da atuação política e combativa do senador contra determinados interesses dos órgãos de persecução penal. A defesa ainda não teve acesso ao pedido e à decisão do ministro que autorizou as medidas, mas pode afirmar que as medidas são desnecessárias e extemporâneas”.

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