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Política

Filósofo Ruy Fausto se dedicou a estudar o marxismo

Por Agência Estado

02 de maio de 2020, às 11h30 • Última atualização em 02 de maio de 2020, às 14h58

Um dos mais reconhecidos intelectuais de esquerda do País, o filósofo Ruy Fausto morreu aos 85 anos, vítima de um enfarte, enquanto tocava piano no apartamento onde morava em Paris. Doutor em Filosofia pela Universidade de Paris I e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), Fausto era um dos principais teóricos do marxismo no Brasil.

Nascido em São Paulo em 22 de janeiro de 1935, Ruy era irmão do historiador Boris Fausto. De acordo com seu sobrinho, o cientista político Sergio Fausto, o corpo do filósofo foi encontrado por sua ex-mulher, recostado ao piano. Ele vivia isolado, devido à pandemia do novo coronavírus.

Sergio lembra que o tio tinha paixão pelo instrumento musical e pelo jazz. O filósofo chegou a participar de uma banda nos anos 1950. “Ele retomou essa paixão recentemente, e tocava com muita frequência”, diz Sergio. O colega Renato Janine Ribeiro, professor de Filosofia na USP, recorda de outra história de Ruy com o piano: “Quando houve o AI-5, ele saiu do Brasil para o Chile e, de lá, foi de navio para a França. O piano o fez companhia e ele tocava com muita frequência”.

Democrata

A maior parte da carreira acadêmica de Ruy Fausto foi dedicada ao estudo de Karl Marx, um dos autores da teoria do socialismo. A principal obra do escritor é Marx: lógica e política, uma coleção de três volumes de ensaios escritos entre 1973 e 1997. “Posso dizer que ele foi um dos maiores conhecedores de Marx no Brasil”, afirma Janine Ribeiro.

Sergio Fausto ressalta que, embora a obra acadêmica do tio seja voltada a um público mais especializado, nas últimas décadas ele ganhou uma audiência mais ampla. “Ele começou a participar mais ativamente do debate público e da defesa da democracia”, ressalta Fausto. “Sua contribuição foi de alto nível e ele passou a falar com mais pessoas”.

Nos últimos meses, Ruy Fausto se dedicou ao lançamento da revista política Rosa, em que pretendia reunir textos com ideais democráticos de esquerda. A primeira edição foi publicada em março deste ano. A apresentação da publicação cita o “momento muito difícil do país” e afirma que o governo de Jair Bolsonaro tem sido uma “antologia do horror”, com “contatos estreitos com forças internacionais de extrema-direita”.

Janine Ribeiro recorda que os valores democráticos eram fundamentais para a obra Ruy Fausto. “A grande contribuição dele foi a união entre a esquerda e a democracia”, disse.

Sergio Fausto destaca a “independência de pensamento total” do tio: “Ele era muito crítico ao regime cubano, ao chavismo. Ele tinha profundas convicções socialistas e democráticas. Era um homem que aspirava a um mundo mais igualitário”.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2017, o filósofo reafirmou seu repúdio a todas formas de populismo, totalitarismo e adesismo. Na época, ele lançava Caminhos da Esquerda: elementos para uma reconstrução. Para o escritor, era necessária a formação de uma frente única e progressista para as eleições presidenciais de 2018, com nomes como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ).

Nos anos seguintes, o acadêmico continuou a defender uma ampla união da esquerda e de movimentos populares, contra o que chamava de uma “real ameaça à democracia”, representada por Bolsonaro. “Não era um homem dogmático, sabia que era preciso fazer escolhas reais”, diz Sergio Fausto. “Era um homem utópico, que acreditava em um mundo melhor”, diz Sérgio.

Generosidade

O sobrinho afirma que a família ficou muito surpresa com a morte de Ruy. “Ele ainda tinha muitos planos. Parecia que tinha 20, 30 anos. Tinha uma energia intelectual impressionante, e era muito generoso com os mais jovens”, disse.

Nas redes sociais, admiradores de sua obra e ex-alunos expressaram pesar. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad escreveu que Ruy era uma “grande figura humana e pensador de fôlego. Fará muita falta”. O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) publicou que “teremos menos luzes para compreender o Brasil, que vive as sombras desses tempos estranhos e tristes”.

Professor de Teoria das Ciências Humanas na USP, o filósofo Vladimir Saftale publicou que Fausto “era um verdadeiro amigo de mais de 20 anos, alguém a quem tinha profunda afeição e gratidão”. O filósofo e sociólogo Emir Sader lembrou que Ruy dirigiu seu mestrado na USP. “Grande amigo o Ruy, que nos deixou agora”, escreveu. Professor de Políticas Públicas da USP, Pablo Ortellado lamentou a perda do ex-professor: “uma figura humana e intelectual de enorme grandeza”.

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