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Política

Com texto refinado, Nirlando Beirão atuou em várias publicações

Por Agência Estado

02 de maio de 2020, às 07h30 • Última atualização em 02 de maio de 2020, às 10h11

“Autêntico, polêmico, mordaz, provocativo, humano, imaginativo, sensível, controverso, refinado, irreverente, inteligente.” Foi com essa sequência de 11 adjetivos que o jornal O Estado de S. Paulo, em março de 1991, anunciou que Nirlando Beirão estrearia a coluna Galeria, no Caderno 2. “Com tudo isso, você só pode gostar de Nirlando Beirão. Sem isso, você gostaria do mesmo jeito”, continuava o anúncio.

Foi mais ou menos assim que amigos e colegas do jornalista referiam-se a Nirlando Beirão, de 71 anos, que morreu anteontem em São Paulo após anos lutando contra a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença degenerativa.

A dramaturga Marta Góes, mulher do jornalista, comunicou a morte do marido no Instagram: “Queridos, Nirlando se foi há pouco”. Beirão deixa a filha Júlia Beirão e os enteados Maria Prata e Antonio Prata.

Nascido em Belo Horizonte, Nirlando Beirão tinha uma longa e vitoriosa trajetória na imprensa brasileira. Trabalhou no Última Hora, no Jornal da Tarde, no Estado, em Playboy, Veja, IstoÉ e Carta Capital, entre tantos outros jornais e revistas. “Nirlando tinha uma facilidade muito grande de escrever, um texto de alta classe”, disse o jornalista Sérgio Augusto, colunista do Estado.

Como afirmou o professor titular de Teoria Política da Unesp Marco Aurélio Nogueira, no ano passado, o jornalista transitou por toda publicação que se possa imaginar. “Seu texto sempre foi apreciado como um dos melhores.” Nogueira apresentava o jornalista nas páginas do livro Meus Começos e Meu Fim, no qual Nirlando combina as reflexões sobre a convivência com a enfermidade e as pesquisas que fez sobre um episódio marcante da história dos Beirão.

“Um avô padre que um belo dia se apaixona e resolve se casar é um excelente assunto literário. Nirlando agarra o fato e o vira de ponta-cabeça, deixando fluir uma versão romanceada de jornalismo investigativo. Dá um show”, escreveu Nogueira.

E continua: “Romance autobiográfico, escrito com leveza, algumas pitadas de ironia, um pouco de amargura e bastante realismo diante dos efeitos práticos e existenciais de sua condição, é uma aula de resiliência. Mostra que a vida é mais forte e vibrante do que quer nos fazer crer o vão derrotismo. Tudo, no fundo, só acaba mesmo quando termina, para todos e cada um de nós.”

Antes da coluna Galeria, Nirlando Beirão já havia colaborado com o Caderno 2 em 1986, assinando por alguns meses textos na coluna Antena, onde dividiu espaço, entre outros, com Caio Fernando Abreu. Numa delas, sob o título E você nem protocolou, brincou sobre os ofícios dos jornalistas e das secretárias:

“Mentem as cartilhas e os manuais de redação quando dizem que a matéria-prima de nossa festiva profissão é a notícia. Na verdade, o jornalismo é mero exercício de paciência. Surpreendi-me remoendo essa ideia, esta semana, no momento de praticar a sagrada missão do repórter: esperar. Esperava na antessala de um figurão e, à falta do que fazer, além de roer minhas unhas e ser informado, pela enésima vez, por um amarelado exemplar da revista Visão, que Vicente Celestino morreu naquela semana, eu me entreguei à execução mental de uma intrincada operação matemática, ao fim da qual, exausto mas envaidecido, cheguei à conclusão de que, somadas todas as horas de voadas por todos os pilotos da Ponte Aérea, elas não dão as minhas horas sentadas numa sala de espera. O número é impublicável…”

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