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Política

Bolsonaro divulga vídeo para ato contra o Congresso Nacional

Ato do dia 15 está sendo convocado por movimentos de direita em defesa do governo e contra o Congresso

Por Agência Estado

26 de fevereiro de 2020, às 11h00 • Última atualização em 26 de fevereiro de 2020, às 12h49

Foto: Antonio Cruz / ABr
Sem citar o vídeo, Bolsonaro diz que “troca mensagens de cunho pessoal, de forma reservada”

O presidente Jair Bolsonaro disparou nesta terça-feira, 25, de seu celular pessoal um vídeo em tom dramático em que mostra a facada que sofreu em 2018 em Juiz de Fora (MG) para dizer que “quase morreu” para defender o País e, agora, precisa que as pessoas saiam às ruas em 15 de março para defendê-lo. O ato do dia 15 está sendo convocado por movimentos de direita em defesa do governo e contra o Congresso.

A reação ao vídeo foi imediata. Bolsonaro adicionou um texto ao vídeo de 1 minuto e 40 segundos. Nele se lia: “15 de março. Gen Heleno/Cap Bolsonaro./ O Brasil é nosso, não dos políticos de sempre”. O vídeo foi revelado pelo site BR Político, do jornal O Estado de S. Paulo.

Bolsonaro já enviou pelo menos dois vídeos com imagens e sobreposição de fotos suas, convocando a população a sair às ruas no dia 15. Os vídeos têm trechos idênticos, como a frase que classifica Bolsonaro como um presidente “cristão, patriota, capaz, justo e incorruptível”.

O ex-deputado Alberto Fraga, amigo do presidente, confirmou ao Estado que, antes do carnaval, recebeu um desses vídeos do próprio Bolsonaro, pelo WhatsApp. A mesma peça foi compartilhada pelo secretário da Pesca, Jorge Seif Jr., com seus contatos no aplicativo.

No vídeo disparado nesta terça, ao som do Hino Nacional, as legendas afirmam que Bolsonaro “desafiou os poderosos por nós” e explora o antipetismo ao relacionar a oposição ao presidente à “esquerda corrupta e sanguinária”. A peça defende Bolsonaro de forma genérica, afirmando que as críticas ao governo são “calúnias”. Depois, diz que o presidente precisa do apoio “da família brasileira” contra “os inimigos do Brasil”.

Na semana passada, o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), acusou o Congresso de “chantagear” o governo e deflagrou uma crise. Heleno disse que o governo não pode ficar “acuado” pelo Congresso e orientou o presidente a “convocar o povo às ruas”. Os ataques de Heleno foram motivados pela discórdia em relação à repartição dos recursos do Orçamento impositivo. Em reunião com ministros, Bolsonaro também disse que não pode ficar “refém” do Congresso, como revelou o Estado.

Captadas por transmissão oficial, as declarações do general e a convocação do ato causaram repúdio no Congresso. Na ocasião, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que Heleno virou um “radical ideológico”. O Estado procurou o Planalto na terça, mas não obteve resposta. Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), também não responderam.

Para o senador Major Olímpio (PSL-SP), que chegou a questionar se era o presidente o autor da mensagem, o episódio “é muito ruim para o País”. “Vai dificultar qualquer ação do Executivo no Congresso.”

Não é a primeira vez que o presidente compartilha conteúdo polêmico pelo WhatsApp. Em agosto de 2019, ele enviou texto que dizia que o Brasil é “ingovernável fora dos conchavos”.

Generais

No segunda-feira, panfleto do ato assinado por “movimentos patriotas e conservadores” usou fotos dos generais Heleno, do vice-presidente, Hamilton Mourão, do deputado Roberto Peternelli e do secretário de Segurança Pública de Minas, Mário Lúcio Araújo. O texto dizia: “os generais aguardam as ordens do povo” e “fora Maia e Alcolumbre”. Heleno e Mourão não se manifestaram. Já o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, afirmou que “o uso de imagens de generais é grotesco”.

Convocação pode configurar crime de responsabilidade, diz professor

A convocação pelo presidente Jair Bolsonaro para manifestações contra o Congresso Nacional é um ato grave que pode configurar em crime de responsabilidade e justificar a abertura de um processo de impeachment, avalia o cientista político e professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) Claudio Couto.

“É um ato gravíssimo, não é normal um presidente da República convocar manifestações, ainda mais contra instituições, que pedem fechamento do Congresso, dando reforço a manifestações antidemocráticas e inconstitucionais.”

Na opinião de Couto, a democracia no Brasil nunca esteve tão ameaçada desde a redemocratização. Ele lembra que a data da manifestação, marcada para o dia 15 de março, é uma referência importante, porque ocorre no mesmo mês em que os militares tomaram o poder em 1964.

Por isso, o cientista político considera que é necessária uma resposta rápida das instituições e também de governadores. “Se isso não ocorrer, ficamos à mercê de eventuais abusos que o presidente possa cometer.”

Nesse sentido, ele diz que são importantes as declarações de políticos de diferentes partidos repudiando o ato de Bolsonaro. “Mostram uma certa união em torno de um interesse comum que é a própria preservação do regime democrático, que está em perigo nesse momento.”

De qualquer forma, Couto avalia que a relação entre Congresso e Executivo deve ficar mais complicada. “É um caminho que não tem volta. Não é uma convocação para manifestações em prol das reformas, mas é contra o Congresso. É realmente algo muito grave.”

Em relação às reformas, o cientista político afirma que o sinal é muito claro do governo contra o funcionamento de outros Poderes de Estado.

Sem citar vídeo, Bolsonaro fala em mensagens de ‘cunho pessoal’

O presidente Jair Bolsonaro se manifestou nesta quarta-feira, 26, pelas redes sociais, após a divulgação de que disparou de seu celular pessoal, via aplicativo WhatsApp, vídeo convocando apoiadores a irem às ruas no dia 15 de março para defendê-lo. Sem citar o vídeo, Bolsonaro diz que “troca mensagens de cunho pessoal, de forma reservada”. “Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”, afirmou no texto. O presidente não nega ter feito os disparos, revelados pela colunista Vera Magalhães, do jornal O Estado de S. Paulo.

“Tenho 35 milhões de seguidores em minhas mídias sociais (Facebook, Instagram, YouTube e Twitter) onde mantenho uma intensa agenda de notícias não divulgadas por parte da imprensa tradicional. Já no Whatsapp tenho algumas poucas dezenas de amigos onde, de forma reservada, trocamos mensagens de cunho pessoal. Qualquer ilação fora desse contexto são tentativas rasteiras de tumultuar a República”, disse o presidente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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