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Brasil

Rabino Henry Sobel morre aos 75 anos em Miami

Sobel é conhecido, principalmente, por sua luta em defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar

Por Agência Brasil / Agência Estado

22 de novembro de 2019, às 11h08 • Última atualização em 22 de novembro de 2019, às 16h26

Foto: Wilson Dias - Agência Brasil
Nascido em 9 de janeiro de 1944, em Lisboa, Portugal, ele chegou ao Brasil na década de 70

O rabino Henry Sobel, 75, morreu na manhã de hoje (22), em Miami, nos Estados Unidos, por complicações associadas a um câncer. Nascido em 9 de janeiro de 1944, em Lisboa, Portugal, ele chegou ao Brasil na década de 70.

Sobel foi presidente da Congregação Israelita Paulista até outubro de 2007 e é conhecido, principalmente, por sua luta em defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar.

A morte de Henry Sobel foi lamentada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) e pela Congregação Israelita Paulista (CIP). Por meio de nota, as entidades classificaram o rabino Henry Sobel como “um protagonista histórico na defesa dos direitos humanos no Brasil, com destaque para sua atuação na luta pelo esclarecimento da morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, em São Paulo, durante a ditadura militar. Sobel recusou-se a enterrar Herzog na ala dos suicidas do cemitério israelita, por rejeitar a versão oficial acerca das circunstâncias da morte. O rabino também participou, ao lado de líderes como Dom Paulo Evaristo Arns e Jaime Wright, do ato ecumênico em homenagem a Herzog, naquele mesmo ano”.

Em nota, o filho do jornalista, Ivo Herzog chama o rabino de um dos “grandes heróis” nacionais. “Foi a 1ª pessoa, representando uma instituição, que denunciou o assassinato do meu pai, poucas horas depois do ocorrido. Junto com D. Paulo Evaristo Arns e James Wright, corajosamente, promoveu e esteve presente no ato ecumênico em memória de meu pai.”

“Quebrando protocolos do judaísmo, enfrentando resistência dentro da comunidade judaica, foi um dos protagonistas que abriram caminho para o fim da ditadura no Brasil. Se meu pai foi uma das vítimas daquele período, Henry Sobel foi um dos grandes heróis. Registro aqui minha homenagem e saudades desta pessoa que faz parte da minha vida”, escreveu Ivo Herzog.

Davi Alcolumbre (DEM), presidente do Senado, chamou Sobel de “um notável porta-voz de nossa comunidade judaica no Brasil” , que “estabeleceu uma ponte entre as religiões cristãs e o judaísmo”. “Nós, judeus, perdemos um grande líder espiritual. Seremos eternamente gratos à dedicação dele à nossa comunidade.”

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), descreveu o líder religioso como “um grande defensor dos direitos humanos”. “À família, amigos e comunidade judaica, meus profundos sentimentos de pesar”, publicou nas redes sociais.

Em nota, a Confederação Israelita do Brasil (Conib) reiterou que Sobel foi “um protagonista histórico na defesa dos direitos humanos no Brasil” e “uma das grandes lideranças religiosas” do País. “Sobel estabeleceu diálogo e construiu pontes entre o judaísmo e as demais religiões, participando de inúmeros cultos e eventos ecumênicos. Foi também representante da Conib para o diálogo inter-religioso. Sua atuação ajudou a inserir a comunidade judaica em um outro patamar na vida nacional.”

O Congresso Judaico Latino-Americano lembrou de Sobel como o alguém sempre esteve “atuando na luta pelos direitos humanos, contra o antissemitismo, toda forma de discriminação e, sobretudo, a melhoria do mundo, vemos calar, hoje, essa voz firme que ecoava não apenas na comunidade judaica, mas na sociedade em geral”.

A ex-ministra Marina Silva (Rede) ressaltou a atuação do rabino durante a ditadura militar. “Peço a Deus que conforte os familiares e amigos do rabino emérito Henry Sobel, que junto com Dom Paulo Evaristo Arns rejeitou a versão oficial sobre a morte do jornalista Vladimir Herzog durante a ditadura. Uma voz corajosa na defesa dos direitos humanos.”

Já o PSOL divulgou uma nota lamentando a morte de Sobel, a quem chamou de alguém ‘imprescindível na luta pela democracia, se recusou a enterrar Vladimir Herzog como suicida e organizou o ato ecumênico da Praça da Sé em 1975, que iniciou a derrocada da ditadura militar”.” Sobel, presente!”, finalizou a postagem.

O apresentar Luciano Huck também se manifestou nas redes sociais: “Triste notícia. O rabino Henry Sobel esteve presente em momentos importante da minha vida. Se foi uma voz firme e potente na defesa dos direitos humanos no Brasil. Um homem de diálogo, construtor de pontes religiosas e ideológicas.”

O escritor Laurentino Gomes lembrou de uma experiência que teve com o rabino. “Certa vez, e lá se vão uns 25 anos, tive o privilégio de me sentar ao lado do rabino Henry Sobel em uma viagem a Nova York a bordo da antiga Varig. Conversamos horas a fio. Foi dos encontros mais iluminados desta minha já longa jornada. Sou grato pela vida dele. Sentirei saudades.”

O ator Dan Stulbach também relatou momentos que teve com o rabino, a quem chamou de um homem “único”. “Eu o imitava, todos o imitavam, e ele me dizia ‘a cópia é melhor que o original’, e ríamos, com seu sotaque. ‘tem razão, você me imita muito bem’, eu respondia, com o mesmo sotaque. Era meu personagem preferido, e mais, eu o admirava”, escreveu. “Um representante do diálogo, defensor da liberdade, um homem de grande inteligência e generosidade, judeu do seu tempo.”

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