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Mundo

Não faz sentido dizer que tudo é fascismo, afirma historiador

Por Agência Estado

13 de março de 2020, às 08h30 • Última atualização em 13 de março de 2020, às 11h53

Em tempos de ascensão de governos autoritários em diferentes regiões do mundo e do avanço de discursos de extrema direita, o historiador italiano Emilio Gentile adverte que não convém usar o termo fascismo para criticar esses movimentos.

Gentile, que é professor aposentado da Universidade de Roma Sapienza, já escreveu dezenas de livros sobre o fascismo italiano e diz que o fenômeno atual tem mais a ver com a crise da democracia.

É comum ver o termo fascismo para descrever movimentos autoritários. Está correto?

Acredito que se faz confusão entre o termo fascismo para se referir a qualquer movimento de extrema direita racista, nacionalista e antissemita com aquilo que foi o fascismo histórico, um regime totalitário nacionalista, racista e antissemita, mas com características próprias ligadas a experiências da Itália, Alemanha e outros movimentos de extrema direita que se inspiravam no fascismo do período entre a 1.ª Guerra (1914-1918) e a 2.ª Guerra (1939-1945). Hoje não existem movimentos que desejem instaurar um regime totalitário com um partido armado e um programa de guerra imperialista. Essa é a característica fundamental do fascismo histórico. Mesmo países que querem ter um papel hegemônico o fazem por meio da economia.

Então, o termo fascismo não qualifica os movimentos atuais?

Não, porque hoje são movimentos e partidos que exercem o seu poder com o consenso da maioria dos eleitores. É absurdo pensar que o fascismo, que negava por prática e sobretudo por princípio o conceito de soberania popular, poderia ser representado por movimentos que reivindicam o sucesso eleitoral e se dizem representantes do povo e eleitos pela maioria.

A extrema direita está na Europa, EUA e Brasil. Por que cresce?

Ela aumenta sobretudo nos países que se sentem ameaçados em termos de segurança ou naqueles que presumem que sua identidade nacional esteja ameaçada. E isso é paradoxal. Grandes países como EUA ou Brasil dificilmente podem falar de uma única identidade nacional.

Qual seria a resposta das democracias?

As principais razões desses nacionalismos autoritários, ainda que baseados na soberania popular, deve-se ao fato de que a democracia não se limita a ter o princípio da soberania popular exercitado pelo voto em eleições livres e pacíficas. É preciso não esquecer do ideal de construir por meio do método democrático uma sociedade de pessoas livres, iguais e sem discriminação de nenhum gênero, para garantir o desenvolvimento de suas personalidades. Hoje, há democracias que aplicam o método democrático, mas não perseguem as realizações dos ideais democráticos. E há uma distinção importante a se fazer. Na democracia, pode haver um regime contra as liberdades individuais em favor de uma maioria eletiva, como foi no sul dos EUA, até os anos 60, ou no apartheid, na África do Sul. Eram regimes populares que excluíam. Pode-se usar a democracia contra o ideal democrático. O perigo está nos democratas no poder sem o ideal democrático.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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