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Mundo

Conflitos com a marca Trump

Por Agência Estado

18 de agosto de 2019, às 08h49 • Última atualização em 18 de agosto de 2019, às 10h18

Donald Trump foi claro durante a campanha de 2016 ao dizer que privilegiaria o nacionalismo americano e mudaria a rota da diplomacia do país. Em dois anos e meio, o governo americano se retirou de tratados históricos, se indispôs com aliados tradicionais como o Canadá e a Alemanha e se aproximou de regimes autoritários como Arábia Saudita e Coreia do Norte.

“A ordem internacional já mostrava sinais de tensão e ruptura antes de Trump assumir o cargo. No entanto, no passado, os amigos e inimigos dos EUA poderiam esperar do país a defesa dos aliados e do sistema de normas pós-2.ª Guerra. A abordagem imprevisível e desorientada do Trump para a política externa enfraqueceu o vetor de estabilidade. As consequências ficam cada vez mais evidentes, conforme os governos estrangeiros se envolvem em comportamentos provocativos, seja na proliferação nuclear, degradação ambiental ou violação dos direitos humanos”, afirma Michael Camilleri, ex-diplomata do governo de Barack Obama e diretor do centro de estudos Rule of Law, do instituto Diálogo Interamericano.

Estratégias erráticas e tomadas no calor da emoção pelo presidente, muitas vezes em desacordo com o conselho de assessores, são apontadas como causa para mais instabilidade. Dois exemplos atuais são a escalada de tensão com o Irã e a situação na Caxemira.

“É verdade que o papel dos EUA está diferente no governo Trump do que de tem sido especialmente desde o final da Guerra Fria. O que estamos vendo no governo Trump é uma fase na qual os EUA estão recuando. Não acho que a influência americana esteja decaindo, mas que os EUA estão deixando de querer ter influência em muitas coisas, o que carrega uma série de riscos desnecessários”, afirma Fernando Cutz, ex-conselheiro da Casa Branca nos governos Obama e Trump, atualmente consultor no Cohen Group. Ele cita entre os exemplos o silêncio americano sobre violações de direitos civis em Hong Kong.

“Perdemos a credibilidade no mundo inteiro em termos de sermos vistos como esse grande líder que sempre defende direitos humanos e democracia, correndo o risco de permitir a desestabilização, de dar um passo para trás rumo a uma direção errada”, afirma Cutz.

O governo George W. Bush também viveu tensões com aliados próximos, como o estremecimento nas relações com a França diante da oposição clara dos franceses à Guerra do Iraque. Segundo Cutz, no entanto, a política de Bush não foi “nem de perto” como a Trump tem sido e os demais países julgaram os problemas existentes como um desvio de rota pontual.

Sob Trump, os Estados Unidos saíram do Acordo Climático de Paris, do acordo nuclear com o Irã, do antigo Nafta, do TPP (o acordo de países do pacífico), congelaram a reaproximação com Cuba desenhada no governo Barack Obama, esvaziaram o funcionamento de um dos órgãos da OMC e passaram se mostrar insatisfeitos com a ONU e com a Otan. No caso da Coreia do Norte, a aproximação com Kim Jong-Un, e a insistência do americano em propagandear o feito como um ato pela paz mundial, gera preocupação sobre o quanto Washington baixará a guarda diante de testes de mísseis sob coordenação do ditador norte-coreano.

Com Trump ou sem Trump na Casa Branca a partir de 2020, a reorientação da política externa americana pode já ter deixado espaço para efeitos indesejados ao redor do mundo. “Fazemos acordos de paz com Irã e Cuba, aí chega um novo time e os destrói. Fazemos acordos com aliados e depois tomamos outra direção. Os governos gostam de estabilidade, há consequências para além do tempo que Trump for o presidente”, afirma Cutz. “Os eventos mundiais provavelmente ficarão mais turbulentos no curto prazo. E, mesmo que uma derrota de Trump na eleição do próximo ano restaure um papel mais previsível dos EUA no mundo, há tendências maiores de instabilidade na governança global que durarão além de seu mandato”, afirma Camilleri.

Apenas um lado
Uma das características da nova política americana, destaca Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, é tomar um lado, em vez de tentar trazer os dois lados à mesa para negociar. Foi assim, por exemplo, quando Trump anunciou que transferiria a embaixada em Israel para Jerusalém o que, para especialistas, colocou em xeque o papel dos EUA como mediador no processo de paz da região. “Trump reforça tensões que já existem”, afirma Hakim.

A maior tensão existente hoje, afirma Hakim, é a rivalidade entre EUA e China. “Os Estados Unidos estão voltando às costas ao multilateralismo e a China está ascendendo muito rapidamente, com importante papel econômico e militar, crescente papel político, em ciência e em tecnologia. É um competidor que os EUA não possuem desde que a União Soviética colapsou”, afirma Hakim. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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