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Pandemia

Após início de ano difícil, Reino Unido colhe na economia os frutos da vacinação

Mais de 34 milhões de pessoas já receberam ao menos uma dose de imunizante, o que equivale a 52% da população britânica

Por Agência Estado

05 de maio de 2021, às 14h33 • Última atualização em 05 de maio de 2021, às 17h25

Quando as primeiras horas de 2021 despontaram, um ambiente de incertezas marcava o horizonte de curto prazo do Reino Unido. A disseminação descontrolada de variantes do coronavírus levava a pandemia a seu ápice no país, enquanto agentes econômicos tentavam mensurar o impacto do recém-formalizado Brexit, o “divórcio” com a União Europeia. Cinco meses depois, o pessimismo dá lugar a um clima de confiança na nação insular, que colhe os frutos de uma campanha de vacinação acelerada. “Praticamente para onde quer que você olhe, há sinais de que o rigoroso inverno econômico está finalmente derretendo”, resume o economista James Smith, do ING.

Após decretar lockdown nacional em janeiro, o governo apostou na imunização como chave para o retorno à normalidade. Mais de 34 milhões de pessoas já receberam ao menos uma dose de imunizante no país, o que equivale a 52% da população britânica. A meta é chegar a julho com todos os adultos tendo recebido pelo menos uma das injeções.

Com a luz no fim do túnel, aos poucos, bares, restaurantes e lojas voltam a abrir as portas ao público e os indicadores macroeconômicos já refletem a nova realidade. Em abril, os índices de gerentes de compras (PMI,na sigla em inglês) de serviço e indústria subiram ao nível mais alto desde o início da crise sanitária. As vendas no varejo em março saltaram 5,4% na comparação com o mês anterior e já estão acima dos níveis de fevereiro de 2020, antes do choque da covid-19. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que o Produto Interno Bruto (PIB) britânico registrará expansão de 5,3% em 2021 e de 5,1% em 2022.

A recuperação uniforme deve fomentar a rápida reestruturação do mercado de trabalho, na visão de Smith, do ING. Embora o Produto Interno Bruto (PIB) tenha encolhido ao ritmo recorde de 9,9% em 2020, o impacto da recessão no emprego foi limitado por custosos programas fiscais.

No orçamento apresentado ao Parlamento em março, o governo projetou que a atividade econômica voltará aos níveis pré-recessão na metade de 2022. O plano assegurou ainda a continuidade da maior parte dos estímulos pelo menos até o próximo relatório semianual das contas públicas, marcada para novembro, o que deve ser mais um ponto de apoio às condições econômicas.

Para Smith, o fim do principal programa de retenção de emprego do governo, que deve acontecer em setembro, terá algum efeito nos dados, mas as empresas já deverão estar em posição sólida o suficiente para manter a maior parte das vagas sem precisar do apoio. “Acreditamos que o mercado de trabalho provavelmente apresentará uma recuperação mais rápida do que após recessões anteriores”, prevê.

Analistas da Capital Economics avaliam que a retomada será rápida a ponto de limitar os potenciais efeitos duradouros da crise sanitária. “É improvável que o legado da crise da covid-19 seja uma economia permanentemente menor e é mais provável que a inflação baixa seja sacrificada para permitir déficits públicos maiores”, analisam.

Mesmo com acordo comercial, risco Brexit segue no radar

Apesar dos prospectos de vitória na batalha contra o coronavírus, riscos em outras áreas não se dissiparam integralmente. Em particular, o Brexit segue como fonte de incertezas, mesmo após o fim do período de transição, na virada do ano. Reino Unido e UE firmaram acordo comercial, mas a implementação tem percorrido caminho acidentado, com divergências sobre a questão da fronteira irlandesa.

O divórcio com o bloco europeu reacendeu tensões na região, inclusive com casos de protestos violentos. Como a Irlanda permanece membro da UE, a saída dos britânicos, em tese, levaria à criação de barreiras na fronteira com a Irlanda do Norte, o que violaria os termos de acordo de paz firmado em 1998.

Diretor-gerente para Europa da Eurasia, Mujtaba Rahman argumenta que ações recentes do governo de Boris Johnson têm dificultado a cooperação pós-Brexit. Segundo ele, embora tenha sido finalmente ratificado pelo Parlamento Europeu, o tratado comercial tende a continuar provocando divergências, sobretudo porque ele precisará ser revisado em 2025.

“Enquanto os conservadores permanecerem no governo, é improvável que o acordo forneça a plataforma para um relacionamento mais harmonioso, como os pró-europeus esperavam. Do jeito que as coisas estão, é mais provável que seja uma receita para confrontos e conflitos permanente”, prevê.

O impacto disso na economia se reflete na hesitação de empresas britânicas em exportar para a UE, segundo o economista-chefe da High Frequency Economics (HFE), Carl B. Weinberg. Ele cita pesquisas que mostram que pelo menos 25% de pequenas empresas paralisaram os envios ao continente por dúvidas sobre questões legais. “Mesmo que todas as restrições relacionadas à covid terminem de uma vez, a Grã-Bretanha ainda estará lutando com o Brexit”, salienta.

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