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Mundo

Al-Qaeda e Estado Islâmico ganham força com pandemia no Oriente Médio

Por Agência Estado

12 de julho de 2020, às 08h00 • Última atualização em 12 de julho de 2020, às 12h09

Dia 12 de março, o “Guia Islâmico para lidar com epidemias” foi publicado pelo Estado Islâmico (EI) em sua revista Al-Nabaa. Em 31 de março, “Como sair da barriga da baleia: comandos e revelações sobre a pandemia do novo coronavírus” foi divulgado pela Al-Qaeda no Afeganistão. Além de dizer como evitar a covid-19, essas publicações e as seguintes orientam a aproveitar o momento para realizar ataques, recrutar novos seguidores pela internet e libertar prisioneiros.

A ideia de que esses grupos jihadistas haviam desaparecido com o fim de seu domínio territorial é precipitada e a chegada da pandemia ao Oriente Médio trouxe uma oportunidade para eles se fortalecerem.

Desde 19 de março, mais de 2 mil ataques do EI foram registrados no Iraque e na Síria. “Neste momento, uma ameaça global é relativamente pequena. O difícil é saber como minimizar a influência do EI em áreas sunitas da Mesopotâmia e do Levante (área da atual Síria e países vizinhos). Porque os governos na Síria e no Iraque são fracos”, afirma Graeme Wood, professor de ciência política em Yale e autor do livro A Guerra do fim dos tempos: o Estado Islâmico e o mundo que ele quer.

“Os dois grupos são seguidos como ideologias e perderam controle territorial, mas com as redes sociais e a internet, não vão desaparecer, e seguirão recrutando. No mundo muçulmano, eles fazem ataques maiores, existe uma articulação regional”, explica Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM-SP .

Os grandes ataques no Ocidente, como o 11 de setembro ou a série de atentados na Europa entre 2015 e 2017, perderam espaço. “O grande combate ao Ocidente caiu para segundo plano, agora os grupos tentam sobreviver. Eles perderam a capacidade de articulação global. Ainda há ataques, mas no Ocidente eles são isolados e não organizados por células. Esses grandes ataques ficaram mais difíceis”, diz Gunther Rudzit. No entanto, as ações no mundo muçulmano continuam durante a pandemia.

No dia 2 de abril, a Comissão de Segurança e Defesa do Parlamento iraquiano emitiu um alerta de que o EI poderia se aproveitar do fato de a preocupação das forças militares ser o combate ao coronavírus e afirmou que o grupo havia realizado três ações, deixando centenas de militares mortos. Outro alerta foi para o fato de o grupo estar se movendo com mais facilidade entre as cidades do país.

No dia 28 de abril, uma nova ação do EI deixou 10 militantes iraquianos mortos no norte de Bagdá. Na mesma data, esses jihadistas fizeram um ataque com um homem-bomba contra a direção da central de inteligência da cidade de Kirkuk, ferindo quatro pessoas. As ações mostram o EI atuando de forma coordenada dentro do Iraque, explica um estudo publicado no site do Pulitzer Center.

“A pandemia interrompeu a luta contra o terrorismo, o que contribui para o renascimento do EI no Iraque”, diz o artigo. No dia 19 de março, a Otan e a Missão de Treinamento da Coalizão Internacional suspenderam as operações militares por dois meses por causa do novo coronavírus. No dia 29, países como Reino Unido, Espanha, França e Portugal retiraram seus instrutores militares da região e os EUA deixaram suas bases de operações em Mossul, Kirkuk e outras cidades iraquianas.

“O que vem piorando a situação é o desengajamento do governo americano. Na Síria, o EI ganhou um respiro quando os EUA retiraram o apoio aos curdos, o grupo que mais e melhor combatia o EI. O presidente (Donald) Trump, a contragosto dos militares, vende a ideia de derrota do EI para retirar as tropas”, afirma Rudzit. Nos últimos dois meses, mais de 34 ataques foram feitos pelo grupo jihadista na Síria, tendo como alvo as estradas por onde passam os carregamentos do governo de Bashar Assad.

No dia 7 de maio, 11 militares sírios foram mortos no deserto. No dia 9 de abril, 27 morreram em confrontos com jihadistas na cidade de Sokhna, em meio ao temor de que o EI liberte centenas de seguidores das prisões locais.

No Egito, segundo o mesmo estudo do Pulitzer, os ataques do EI foram intensificados na região do Sinai. No dia 1.º de maio, um veículo do Exército egípcio foi atacado e 10 pessoas morreram.

No Afeganistão, o EI aproveita o momento de negociação de paz entre o Taleban e os EUA para tentar ganhar espaço. No dia 5 de março, o grupo atacou um evento com a presença de lideranças iraquianas na capital Kabul, matando 29 pessoas.

Recrutamento

O jornalista Wood explica que, com a perda territorial, o EI volta ao passado também em sua forma de recrutar seguidores. “Não há espaço para uma audiência global. Ao invés disso, o EI faz ameaças violentas e divulga mensagens em áreas sunitas do Iraque, como fazia entre 2011 e 2013. Apenas quando eles têm o controle territorial, conseguem fazer uma abordagem agressiva ao exterior e recrutar seguidores, por exemplo, no Ocidente.”

Segundo a ONU e os EUA, o EI tem 14 mil combatentes espalhados pela Síria, 11 mil pelo Iraque e mais 25 mil em outros países do Oriente Médio.

A Al-Qaeda, afirma Rudzit, não tem a ambição de controlar um território. “Bin Laden dizia que a partir do momento em que se toma um território, se torna um alvo estático, tanto que para desarticular e matar Bin Laden quantos anos foram? Muitos”. O grupo continua forte em áreas da Síria. “É praticamente impossível erradicá-lo sem um imenso esforço. Idlib é uma casa confortável para eles”, diz Wood.

A Al-Qaeda também tem atuado no Iêmen – onde as disputas tribais continuam e alguns grupos passaram a se alinhar aos jihadistas, no Afeganistão e na região do Sahel, realizando pequenos ataques no Mali e em Burkina Fasso, por exemplo, inclusive na disputa de bens básicos, como água e alimentos.

“Esses grupos são oportunistas e aproveitam as falhas dos governos e instituições para fornecer segurança, bem-estar e autoridade religiosa aos seus seguidores”, afirma Wood. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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