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Economia

Taxas fecham em forte alta, afetadas por aversão ao risco externo e temor fiscal

Por Agência Estado

12 de março de 2020, às 18h18 • Última atualização em 12 de março de 2020, às 20h52

Os impactos nocivos do coronavírus na economia global somados à piora do risco fiscal, após o Congresso ter ontem derrubado o veto ao projeto que eleva o limite de renda o Benefício de Prestação Continuada (BPC), fizeram os juros futuros novamente disparar nesta quinta-feira, a ponto de as principais taxas terem passado boa parte da sessão travadas no limite de oscilação máxima da B3. Além da perspectiva sombria sobre os efeitos da pandemia, internamente, a deterioração do cenário fiscal, não só pelo BCP mas também pelos gastos extras que o combate ao surto exigirá, enfraqueceu a aposta de corte de juros. Muitos economistas já estão revendo novamente suas projeções para manutenção da taxa básica em 4,25% no Copom da semana que vem.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 fechou em 4,950%, de 4,215% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2022 subiu de 5,032% para 6,20%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 8,880%, ante 7,602% ontem.

Desde ontem, o noticiário tem sido muito pesado a respeito do coronavírus, que teve os efeitos amplificados hoje no mercado de juros pelos temores fiscais. Após o fechamento ontem, os Estados Unidos anunciaram interrupção de voos para e vindos da Europa, numa medida considerada extrema, enquanto, no Brasil, o Congresso derrubava o veto, o que, para o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, “pode significar o fim do teto de gastos”. O governo estima um impacto de R$ 217 bilhões em uma década com a derrubada do veto, sendo R$ 20 bilhões apenas este ano.

Após a abertura, as taxas já tocaram os limites de alta e tiveram um alívio pontual com o anúncio de uma ação coordenada entre Banco Central e Tesouro para reduzir a disfuncionalidade dos mercados. O Tesouro iniciou hoje leilões de compra e venda de NTN-B, LTN e NTN-F para dar saída a detentores de papéis até a próxima quarta-feira, medida muito bem recebida pelos investidores.

Porém, logo as taxas de médio e longo prazos voltaram para os limites de oscilação máxima em que ficaram por horas e, no início da tarde, as curtas também seguiram o mesmo caminho. Até que à tarde a B3 decidiu ajustar para cima essas marcas e as taxas voltaram a oscilar. Nesse meio tempo, o Federal Reserve anunciou injeção de mais de US$ 1,5 trilhão no sistema financeiro por meio de operações de recompra de ativos, mas o alívio nos mercados foi pequeno.

“Há um coquetel de maldades, uma tempestade perfeita para dar errado, que pegou o mercado sobrevendido. O caminho do mercado de juros estava num ‘trade’ de baixa há dois anos com as taxas renovando sucessivas mínimas”, avaliou Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos. E, ontem, lembra, o Congresso contribuiu para aumentar o estresse, “enfraquecendo a reforma da Previdência”.

Ele afirma que a perspectiva é de que o Copom não deve mexer nos juros mesmo com o maior esfriamento da atividade com o coronavírus, por causa do fiscal. “Baixo crescimento, baixa arrecadação”, disse, lembrando ainda que o não-repasse do câmbio aos preços tem limites. “Chega uma hora que pass-through vai começar a pesar, principalmente numa amplitude de abertura do câmbio desse tamanho”, explicou.

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