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Economia

Presidente critica 11 meses de home office de Castello Branco

Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro ainda questionou o salário recebido pelo dirigente da empresa

Por Agência Estado

23 de fevereiro de 2021, às 08h01 • Última atualização em 23 de fevereiro de 2021, às 08h39

Presidente da Petrobrás disse ter sido acusado injustamente de falta de transparência - Foto: Fernando Brazão - Agencia Brasil

Após indicar o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o comando da Petrobras, Jair Bolsonaro voltou a criticar na segunda-feira, 22, o fato de o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, estar trabalhando em home office desde março, em razão da pandemia de covid-19. Castello Branco tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco da doença. Em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, Bolsonaro ainda questionou o salário recebido pelo dirigente da empresa.

“O atual presidente da Petrobras está há 11 meses de casa, sem trabalhar. Trabalha de forma remota. O chefe tem de estar na frente, bem como seus diretores. Isso para mim é inadmissível. Descobri isso faz poucas semanas”, afirmou o presidente. “O ritmo de trabalho de muitos servidores lá está diferenciado”, completou.

“Ninguém quer perseguir servidor, muito pelo contrário, temos de valorizar os servidores, agora o petróleo é nosso ou é de um pequeno grupo no Brasil? Ninguém vai interferir na política de preços da Petrobras”, afirmou Bolsonaro.

Na conversa com seus apoiadores, Bolsonaro ainda questionou o grupo se sabiam quanto ganha um presidente da Petrobras. Ao ouvir “R$ 50 mil”, rebateu com outra pergunta: “R$ 50 mil por semana?”.

Como mostrou o Estadão no fim do ano passado, na Petrobras, os membros da diretoria executiva receberam, em média, R$ 2,9 milhões em 2019. Os integrantes dos conselhos de administração e os membros do conselho fiscal ganharam, em média, R$ 194,3 mil e R$ 132,4 mil, respectivamente.

O mercado reagiu mal ao anúncio de troca no comando da empresa e as ações da Petrobras , e de outras estatais, tiveram forte queda ontem puxando o Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa de São Paulo.
Interferência. Após pedir a saída de Castello Branco, o presidente voltou a negar que tenha interferido na estatal. Ele, no entanto, deixou clara sua insatisfação com a política de preços adotada pela Petrobras, que entrou na mira do presidente nos últimos dias.

“Falam em interferência minha. Baixou o preço do combustível? Foi anunciado 15% no diesel, 10% na gasolina. Baixou o porcentual? Não está valendo o mesmo porcentual? Como que houve interferência? O que eu quero da Petrobras, exijo, é transparência e previsibilidade”, disse.

Apesar de afirmar que “ninguém vai interferir” na política de preços da estatal, Bolsonaro questionou a metodologia de reajuste da Petrobras, que, para ele, “precisa ser explicada”. “Eu não consigo entender num prazo de duas semanas ter um reajuste no diesel em 15%. Não foi essa a avaliação do dólar lá fora, do dólar aqui dentro, nem do preço do barril lá fora. Então tem coisa aí que tem de ser explicada. Eu não peço não, exijo transparência de quem é subordinado meu. A Petrobras não é diferente disso aí”, disse Bolsonaro.

O presidente ainda disse que a Petrobras, num estado de calamidade, “tem de olhar para outros objetivos também”. “Ele (Silva e Luna) é um general, sim. E esteve à frente da Itaipu Binacional por dois anos. Saneou toda a empresa, só no ano passado investiu R$ 2,5 bilhões em obras. Dentre essas obras, duas pontes com o Paraguai. A extensão da pista de Foz do Iguaçu, que vai começar a receber voos internacionais, bem como atendeu a mais de 20 municípios, com as mais variadas obras, isso não é eficiência?”

Remuneração está dentro da realidade

Apontada como excessiva pelo presidente Jair Bolsonaro, a remuneração – quando se soma salário fixo com bônus e outros benefícios – do comando da Petrobras pode chamar atenção quando comparada com os demais cargos do serviço público e, principalmente, com o ganho médio do brasileiro, mas parece comum ou até abaixo da média no mundo corporativo.

O salário médio dos presidentes de companhias abertas que compõem o Ibovespa – ou seja, as principais empresas do mercado – foi de R$ 11,3 milhões no ano em 2019. Principal executivo da Petrobras, Roberto Castello Branco ganhou R$ 2,7 milhões naquele ano, um quarto do valor médio. Em bases mensais, a remuneração média dá um salário de R$ 940 mil por mês, enquanto o presidente da Petrobras ganhou “apenas” R$ 226 mil por mês.

No fim de 2019, a remuneração média do trabalhador brasileiro, entre formais e informais, foi de R$ 2,3 mil por mês, segundo o IBGE. Os dados sobre executivos de alto escalão são de levantamento do especialista em governança corporativa Renato Chaves, ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil. Os valores foram levantados em outubro, nas informações que as empresas abertas são obrigadas a passar à Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador do mercado. As empresas precisam informar a remuneração anual total da diretoria, discriminando o valor mais baixo e o mais alto – o mais alto, quase sempre, é o do presidente.

O levantamento incluiu 71 companhias. Quando ordenadas segundo a maior remuneração paga ao presidente, a Petrobras fica na posição 58. Entre as dez empresas que pagam melhor seus presidentes, se destacam os bancos – Itaú, Bradesco e Santander estão entre as dez. Para Marcelo Apovian, sócio da consultoria global especializada em recrutamento de executivos de alto escalão Signium, não parece que os valores de remuneração do presidente da Petrobras estejam fora da realidade do setor de petróleo e gás, na média global. “A remuneração do primeiro nível e segundo nível está adequada com valores do mercado.”

Segundo Apovian, a remuneração dos executivos de alto escalão varia conforme o setor. Tradicionalmente, setores cujas margens de lucro são mais apertadas pagam menos. O setor de petróleo e gás, globalmente falando, paga bem a seus executivos de alto escalão, porque é um “negócio que precisa ter pessoas boas e a margem (de lucro) permite pagar bem.”

Chaves, que levantou os dados sobre remuneração, avalia que o montante pago pela Petrobras está dentro do normal para uma companhia estatal com ações em Bolsa. Por outro lado, o especialista vê excessos nos salários médios pagos aos altos executivos do País. “A remuneração de presidentes de companhias no Brasil é excessiva, quase sempre descolada de seus resultados e extremamente desigual em relação às dos demais funcionários”, diz Chaves.

O levantamento de Chaves comparou a remuneração do presidente de cada companhia com o salário médio pago aos funcionários como um todo. No caso extremo, o presidente ganha 600 vezes mais do que a média da empresa. No quesito desigualdade, a petroleira está entre aquelas com menores diferenças, com oito vezes.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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