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Gravidez e trabalho

Mulheres grávidas ganham vagas na contramão do mercado

Sete em cada dez mulheres afirmaram que o tema gravidez foi abordado nos últimos processos seletivos dos quais participaram

Por Bianca Zanatta / Agência Estado

06 de maio de 2021, às 19h45

Difícil encontrar uma mulher que não tenha ouvido, em uma entrevista de emprego, a fatídica pergunta: “Você pretende engravidar?”. De acordo com uma pesquisa divulgada pela Catho em 2019, sete em cada dez mulheres afirmaram que o tema foi abordado no último processo seletivo de que participaram.

Outro dado que chama a atenção é que, além de 30% já terem deixado o mercado de trabalho para cuidar dos filhos – ante 7% dos homens -, 47% abriram mão de oportunidades melhores ou promoções pela dificuldade que teriam em conciliar a vida profissional e a nova realidade familiar.
A maternidade também é alvo de preconceito em países desenvolvidos.

A ampliação da representatividade feminina faz parte de um contexto maior de diversidade e inclusão no mercado de trabalho – Foto: Divulgação

Segundo um estudo realizado em 2020 pelo Instituto Holandês de Direitos Humanos, 20% das mulheres foram rejeitadas como candidatas devido a gravidez, maternidade ou intenção de ter filhos.

Na tentativa de mudar esse quadro sob a bandeira de equidade, inclusão e diversidade, algumas organizações decidiram quebrar o tabu. Para elas, em vez de impeditiva, a gravidez é bem-vinda e abraçada – inclusive no momento da contratação.

É o caso da administradora de planos de saúde coletivos Qualicorp, que realizou dois processos seletivos focados em equidade em 2020 e hoje tem 55% dos quadros de liderança ocupados por mulheres. Três delas foram contratadas grávidas.

Segundo Flávia Bossolani, diretora de pessoas e cultura da Qualicorp, a ampliação da representatividade feminina faz parte de um contexto maior de diversidade e inclusão.

“Quisemos trazer mais mulheres para a liderança porque a ideia é contar com a profissional pelo que ela é, seja mãe de criança, de pet ou uma mulher que não quer ter filhos”, explica. “O talento precisa ser valorizado, independentemente das condições da pessoa, então aqui a gente discute faixa salarial por posição e define antes de saber quem vai ocupar o cargo”, ela exemplifica. “Rejeitar um talento pelo que a pessoa é não é aceitável.”

CONSCIENTIZAÇÃO
Tendo as pessoas como principal ativo, a everis, empresa de tecnologia do grupo japonês NTT Data, não só contrata mulheres grávidas como tem um programa específico, chamado de everbaby, que acompanha as funcionárias ao longo da gestação e apoia no retorno após a licença-maternidade.

“Uma executiva qualificada que gesta uma criança tem muito a acrescentar do ponto de vista humano ao dia-a-dia de uma empresa de serviços”, diz o CEO Ricardo Neves, que participou do projeto He for She da ONU.
Ele conta que a everis é parceira da Laboratoria, organização social que forma mulheres em tecnologia na América Latina e da qual contratam profissionais para atuar em projetos da empresa, e da PrograMaria, que busca empoderar meninas e mulheres por meio da capacitação em tecnologia e programação.

Para Neves, o “novo normal” também serviu como acelerador das mudanças de comportamento e cultura. “Pela situação de pandemia e home office, as pessoas estavam muito mais abertas a conversar e abrir um pouco mais de suas realidades, até porque as imagens de suas cozinhas, filhos, animais de estimação e companheiros ou companheiras apareciam de forma espontânea durante nossas conversas”, ele analisa.

“Como CEO, tomei decisões que creio que foram muito mais embasadas na realidade dos colaboradores, que aprendi por meio da minha ‘invasão’ às suas casas.”

CONTRATAÇÕES OBJETIVAS
Para a chefe de aquisição de talentos da multinacional NordVPN, Lauryna Gireniene, a empresa não tem o direito de questionar gravidez ou estado civil dos candidatos. Ela fala que uma nova estratégia de contratação foi adotada com a chegada da pandemia, eliminando fatores como gênero, raça, idioma e País de residência.

“A gravidez não afeta nosso processo de atração de talentos ou nossas escolhas”, diz. “Fazemos nossas avaliações com base na experiência profissional de trabalho e personalidade”.

Com 95 vagas abertas, ela afirma que a empresa – atualmente com um time de 700 pessoas distribuídas por países como Brasil, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Japão, Coreia do Sul e China – está à procura de especialistas para atuar em funções de tecnologia ou marketing digital.

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