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Economia

Dólar sobe 0,53% com temores de piora das contas públicas

Por Agência Estado

03 de agosto de 2021, às 17h55 • Última atualização em 03 de agosto de 2021, às 18h23

Temores de deterioração das contas públicas na esteira da ameaça de uma onda populista do governo Jair Bolsonaro, em meio ao debate sobre o pagamento de precatórios e o reajuste do Bolsa Família, pautaram os negócios no mercado de câmbio no pregão desta terça-feira, 3, em mais um dia de muita volatilidade.

Depois do alívio ontem, quando o dólar caiu 0,86% devolvendo parte da alta de 2,57% na sexta-feira, a moeda americana voltou a subir com força por aqui, operando a maior parte do pregão acima de R$ 5,20 e registrando, no início da tarde, máxima de R$ 5,2746.

Ao longo do período vespertino, com a virada do Ibovespa para o campo positivo, acompanhando as bolsas em Nova York, e declarações do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), as pressões sobre o real diminuíram um pouco.

Lira negou que haja conversas em torno do aumento do Bolsa Família para R$ 400 na PEC dos precatórios e refutou a possibilidade de rompimento do teto dos gastos. “O Bolsa família virá por MP própria, dentro do Orçamento e do teto, com valor médio de R$ 300”, afirmou, assegurando que não há possibilidade, no que depender da vontade do Legislativo, de estourar o teto.

Ainda assim, o dólar à vista fechou em alta firme (+0,53%), negociado a R$ 5,1927. A volatilidade foi, uma vez mais, extremada, com oscilação de quase 10 centavos entre a mínima e a máxima. Na B3, o dólar futuro para setembro apresentou giro forte, de mais de US$ 18 bilhões, o que pode sugerir ajuste expressivo de posições.

Lá fora, o índice DXY – que mede a variação da moeda americana ante seis divisas fortes – operava perto da estabilidade, na casa dos 92,000 pontos. Em relação a emergentes, o comportamento do dólar era misto, com alta frente ao peso colombiano e a lira turca, mas queda ante o rand sul-africano e o peso mexicano.

Para head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, o encaminhamento da questão dos precatórios e o desejo de aumento do Bolsa Família passam a sensação de um governo “displicente” com a questão fiscal. E o risco de deterioração das contas públicas deve aumentar cada vez mais, à medida que se aproximam as eleições de 2022. “Bolsonaro parece disposto a sacrificar o fiscal se for para garantir a sua reeleição, enquanto Lula já disse que vai acabar com o teto de gastos. Isso tudo pressiona a moeda”, diz Netto.

Pela manhã, o ministro Paulo Guedes afirmou que o valor do pagamento de precatórios em 2022 chega a R$ 90 bilhões, o equivalente a 93% das despesas discricionárias. Para aliviar as contas, o governo quer emplacar uma PEC que permita o parcelamento de parte dos precatórios em até 10 anos. Guedes negou que haja calote, mas usou a expressão popular clássica dos inadimplentes: “Devo, não nego; pagarei assim que puder”. Ao falar da questão, o ministro acrescentou que acha que não será preciso “nem mexer no teto de gastos”.

O diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, afirma que os “sinais internos sugerem que a cena política fará os fundamentos econômicos sucumbirem”, o que aumenta a volatilidade e impede que a taxa de câmbio vá para um nível compatível com a alta do juros internos. “Dentro de ambiente de normalidade, o preço do dólar tenderia a R$ 5 ou até menos, caso os investidores estrangeiros, em especial especulativos ancorados em operações de “carry trade”, retornassem ao País em volume considerável”, escreve Nehme, em relatório.

A expectativa predominante no mercado é a de que o Copom acelere o passo e anuncie amanhã uma alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 5,25% ao ano. Boa parte dos economistas já acredita em Selic na casa de 8% no fim do ano, em razão do aumento das pressões inflacionárias.

Na visão do economista-chefe Instituto Internacional de Finanças (IFF), Robin Brooks, não há banco central de país emergente que sobe os juros de forma tão proativa quanto o brasileiro. “Nós esperamos 7,5% no fim de 2021. Um ciclo de alta como nenhum outro atualmente, que vai beneficiar o real”, afirma Brooks, no Twitter.

Para Netto, da Acqua-Vero Investimentos, o ciclo de aperto monetário já está incorporado às expectativas e não deve abrir espaço para uma rodada de apreciação do real. Netto vê um dólar forte nos próximos meses com a aproximação do debate eleitoral e a possibilidade crescente de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anuncie o início da redução de estímulos monetários.

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