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Brasil

Salário não é fator mais importante para levar médicos a áreas remotas

Por Agência Estado

21 de dezembro de 2019, às 19h06 • Última atualização em 22 de dezembro de 2019, às 09h39

O aumento de salários não é o principal fator para atrair médicos a regiões mais pobres do Brasil, segundo estudo realizado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps). O levantamento, obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que, mais do que dinheiro, o que pesa na decisão são as políticas de ampliação de vagas em escolas de Medicina em regiões desassistidas, além da criação cotas para estudantes que vivem próximos dessas instituições de ensino.

Os resultados da pesquisa indicam que os principais fatores por trás da escolha dos médicos são proximidade do local onde eles nasceram ou estudaram. Ainda assim, maiores remunerações e boa infraestrutura também importam, “mas em escala consideravelmente menor”.

Conforme as simulações feitas, a maioria das políticas baseadas no aumento de vagas em faculdades ou cotas reduziria até pela metade a desigualdade regional na distribuição de médicos, enquanto a subida do salário derrubaria apenas 13,4% deste indicador.

O levantamento indica ainda que criar reserva de vagas em universidades seria uma política com melhor relação custo-benefício. “É uma medida que tem de ser olhada com cautela. Há implicações ao bem-estar da sociedade, mas é um indicativo importante”, afirma a pesquisadora Letícia Nunes.

Em programas como Mais Médicos e Médicos Pelo Brasil, o governo federal aposta em salários mais altos para atrair profissionais ao interior do País. Para Nunes, a política lançada no governo Jair Bolsonaro acerta ao tratar da carreira do médico e incentivar a distribuição dos profissionais em regiões desassistidas, mas ainda é preciso pensar na abertura de vagas em escolas de Medicina em cidades pobres.

“Seria um incentivo à retenção desses médicos nos locais de nascimento ou de estudo. Não deveria ser visto com tanto pé atrás”, diz a pesquisadora.

Dados do Demografia Médica no Brasil 2018, usados pela pesquisa, mostram que as capitais dos Estados mais ricos contam, em média, com cinco médicos por mil habitantes, enquanto a maioria das áreas do interior tem um profissional por mil habitantes. “A situação é ainda mais grave nos Estados do Norte e Nordeste”, informa o levantamento.

A pesquisa avaliou qual seria o custo de cada política para produzir uma redução de um ponto porcentual na desigualdade regional do acesso a médicos. Na simulação, ao aumentar em 50% o salário de médicos, o impacto para cada ponto porcentual reduzido seria de US$ 10,72 milhões anuais (o equivalente a cerca de R$ 43,7 milhões). Já a ampliação de vagas em escolas de Medicina custaria entre US$ 2,71 milhões e US$ 6,36 milhões por ano (de R$ 11 milhões a R$ 25,9 milhões) a cada ponto reduzido na desigualdade regional do acesso a médicos.

“Ao associar bases de dados, conseguimos traçar uma trajetória do médico, desde onde nasceu, onde estudou, e local que escolheu trabalhar no começo de sua carreira. Isso ajuda a entender o que de fato está impactando na decisão profissional do médico”, diz Letícia.

Avaliação

Para chegar a esses dados, foram usadas informações do universo de 49.989 médicos generalistas formados no Brasil de 2001 a 2013. Os pesquisadores avaliaram, por exemplo, local de nascimento, gênero, faculdade onde estudaram esses médicos e cruzaram com características das regiões em que eles escolheram trabalhar após formados, como média de salário salarial.

O estudo analisou então as características dos médicos e das regiões afetam onde esses profissionais escolhem trabalhar. Os pesquisadores concluíram que aumentar a oferta de vagas de Medicina em regiões mais pobres e pensar em maneiras de levar estudantes dessas regiões às escolas “parecem alternativas importantes a serem consideradas”.

O custo para implantar o aumento de 50% dos salários ou de vagas em universidades foi simulado com base em dados de custo médio dos cursos em escolas privadas e públicas e dos rendimentos médios em cada região.

Segundo a pesquisadora Letícia Nunes, o Ieps já começou nova pesquisa em moldes similares, agora para avaliar a distribuição de profissionais de enfermagem pelo País. “Grande parte dos eventos pode ser coberta por enfermeiros. Precisa olhar mais para essa profissão. Para a contribuição deles e distribuição no Brasil.”

O IEPS é uma instituição sem fins lucrativos, fundada pelo economista Armínio Fraga, que estuda políticas públicas do setor de saúde no Brasil.

Oferta

Em nota, o Ministério da Saúde disse que aposta no Médicos Pelo Brasil como trunfo para melhorar a distribuição de profissionais de saúde no País. “O programa vai ampliar a oferta de serviços médicos em municípios de difícil provimento ou de alta vulnerabilidade, além de formar médicos especialistas em Medicina de Família e Comunidade. Assim, a estratégia ampliará em cerca de 7 mil vagas a oferta atual de médicos em municípios onde há os maiores vazios assistenciais do Brasil”, afirma o ministério.

Nesta semana, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que, das 18 mil vagas que o governo quer preencher com o Médicos Pelo Brasil, 13.800 devem ser destinadas ao Norte e Nordeste. No programa, os profissionais passam por formação de dois anos. Depois, contratados via CLT, recebem já no primeiro nível salarial entre R$ 21 mil e R$ 31 mil. Locais mais pobres oferecem benefícios de salário melhores.

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