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Brasil

Questionada, lição de casa ganha novos formatos

Por Agência Estado

15 de outubro de 2019, às 15h01 • Última atualização em 15 de outubro de 2019, às 16h43

Por muito tempo, lição de casa foi assunto polêmico apenas dentro da sala de aula, com a molecada torcendo para só daquela vez o professor se esquecer de avisar sobre o dever a ser entregue no dia seguinte. Já há alguns anos, no entanto, a discussão mudou de rumo. Estudiosos se debruçaram sobre o assunto e avaliaram questões como as novas configurações familiares – com todos os membros no mercado de trabalho e menor tempo de convívio diário – , a permanência estendida na escola e a função pedagógica dessa prática.

O que tem se mostrado como tendência é o caminho do meio: nem a abolição da lição de casa nem a manutenção de atividades nos moldes antigos. Para atrair os estudantes e se mostrar eficaz no processo de aprendizagem, a atividade precisa falar na linguagem que o aluno gosta (e ele gosta de ferramentas digitais) e tratar de temas que o instiguem.

“Não enxergamos quantidade de lições como uma meta ou como qualidade de trabalho, e sim como ela compõe o processo de formação e autonomia”, comenta Rafael Martins, coordenador-geral da Escola Bakhita, na zona oeste de São Paulo.

A forma que a escola encontrou de fazer isso foi aplicar as “trilhas educativas”, atividades em que é definido um eixo de pesquisa com formas livres de execução, de forma a valorizar o protagonismo do estudante.

“Eles podem realizar entrevistas no espaço público ou com familiares, visitar instituições que contribuam com o tema investigado ou pesquisar algum material para alimentar a discussão”, explica Martins. “Em todo o tempo, têm papel ativo no percurso. Sem qualquer resquício do que a gente entendia de lição de casa.”

No extremo leste da capital paulista, o professor Anderson Reis Félix segue a mesma receita na Escola Municipal Virgílio de Mello Franco, onde leciona Geografia. Na rede pública que tem a tarefa de casa como atividade obrigatória, o desafio dele foi fazer desse momento um dos favoritos dos adolescentes. Ele criou um roteiro de estudos, sugeriu um tema e propôs aos alunos que desenvolvessem o assunto da maneira que considerassem, sem seguir o padrão de responder um questionário dado. A cada encontro, os alunos retornam com as dúvidas e, a partir delas, as tarefas são organizadas.

“São novos tempos que exigem novas propostas. Ao fazer a lição de casa, o aluno deve ser posto como pesquisador. Esse deveria ser o nosso objetivo”, afirma o professor, fundamentado em dados.

Recentemente, questionados em assembleia sobre que práticas mais ajudaram na aprendizagem, os alunos citaram o roteiro de estudos como a melhor forma de aprender os conteúdos trabalhados em sala de aula.

Computador

Se boa parte do tempo que os estudantes passam fora da escola é gasto em bate-papos virtuais, por que não tirar proveito desse cenário para trabalhar a lição de casa? A proposta privilegia os meios de comunicação favoritos dos alunos e ainda é possível usar a tecnologia para o desenvolvimento de habilidades importantes – como o trabalho em equipe e a colaboração.

Na Escola da Vila, por meio de fóruns virtuais com a plataforma moodle, as lições definidas pelos professores ganharam um caráter colaborativo.

“O fórum motiva a interação, leva os alunos a trocarem ideias enquanto executam as tarefas, explicando os assuntos uns aos outros”, afirma Celina Martins, coordenadora do Fundamental 2 das unidades Butantã e Morumbi, na zona sul de São Paulo.

Não à toa estar em contato com os amigos é a parte favorita da atividade para muitos, como afirmam Dora Sardenberg, Isabela Abrahão e Sofia Ludovico, todas alunas do 6.º ano. “Ao vermos o que os outros publicam, construímos melhor nossos argumentos”, diz Dora.

“As atividades ficam mais organizadas, com a possibilidade de sermos notificados quando alguém acrescenta algo aos fóruns”, afirma Isabela.

“E tudo sem gastar papel, valorizando a sustentabilidade”, lembra Sofia.

Já os estudantes um poucos mais velhos, como Ana Luiza Almeida, João Moraes e Andrea Garcia, no 9.º ano, ressaltam outros trunfos do ambiente virtual. “O que desenvolvemos fica registrado de uma forma facilmente acessível, na nuvem. É mais fácil de recorrer e lembrarmos”, comenta Ana.

Para Andrea, a agilidade é o maior benefício da plataforma. “Temos as respostas instantâneas para algumas tarefas, o que ajuda a perceber na hora como está o desempenho.”

Já João ressalta a possibilidade de as tarefas serem ampliadas, ultrapassando os limites físicos da escola. “Podemos interagir com alunos de outras unidades da Escola da Vila, o que cria trabalhos com múltiplos pontos de vista.”

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