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Talis

No Brasil, falta de preparo dificulta inclusão de alunos com deficiência

Educadores reconhecem ter dificuldade para atuar com turmas onde há crianças com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento

Por Agência Estado

20 de junho de 2019, às 08h03 • Última atualização em 20 de junho de 2019, às 13h29

Apesar da baixa taxa de inclusão de alunos com algum tipo de deficiência nas salas de aula, professores brasileiros são os que mais demandam treinamento e formação para dar ensino de qualidade a esses estudantes. Dados da pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis, na sigla em inglês), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostram que os educadores reconhecem ter dificuldade para atuar com turmas onde há crianças com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento.

Só 11% dos professores do 5º ao 9º ano do Brasil disseram atuar em salas de aula com ao menos 10% de alunos com alguma deficiência – a média da OCDE é de 27%. Apesar de 73% dos docentes afirmarem que receberam algum tipo de orientação sobre como atuar com alunos com deficiência durante a graduação, 58% dizem que sentem muita necessidade de ter um treinamento voltado especificamente para o assunto – enquanto a média da OCDE é de 22%.

Nos últimos quatro anos, o Brasil registrou aumento de matrículas de alunos desse grupo na educação básica, com 90,9% deles estudando em classes regulares, como é recomendado. No entanto, não há levantamento que indique quantas crianças com algum tipo de deficiência ainda estão fora da escola.

“É um problema que ainda estamos enfrentando a passos lentos e não sabemos nem quão longe estamos de resolver. Além disso, há diferenças regionais preocupantes. Em Estados ricos, como São Paulo, a inclusão é maior. Em regiões mais pobres, essas crianças não chegam à escola”, diz Maria da Paz Castro, a Gunga, que atua na formação de professores e é assessora de educação inclusiva em colégios particulares.

O baixo índice de inclusão também está ligado à prática ilegal de uma parte dos colégios particulares, que se nega a matricular crianças com deficiência ou cria “cotas” para um número máximo de estudantes desse grupo por turma. A arquiteta Karen Neves, de 42 anos, enfrenta há anos dificuldades para encontrar uma escola inclusiva para a filha Nina, de 8 anos, que tem autismo.

A família mudou para São Paulo para que a menina pudesse ter acesso a educação e tratamento de melhor qualidade. “Morávamos em Poços de Caldas (MG), ela passou por duas escolas e percebi que não tinham condições de dar a educação de que minha filha precisa. Em uma das delas, foi ‘convidada a sair’ aos 2 anos de idade e na outra, por mais boa vontade que houvesse dos professores para incluí-la, não tinham conhecimento ou experiência.”

Para Maria da Paz, escolas que sejam de fato inclusivas beneficiam a todos e deveriam ser uma demanda de toda a sociedade, não apenas das famílias de crianças com deficiência. “Educação inclusiva significa ensinar a todos os alunos, independentemente da dificuldade de cada um. Todos se beneficiam.”

Segundo o relatório do OCDE, um primeiro passo importante para os sistemas educacionais é investir na identificação de deficiências e transtornos dos alunos. “O que professores percebem como problemas de comportamento pode ter outras explicações. O erro de diagnóstico é custoso para os estudantes, docentes e o sistema educacional como um todo”, diz a entidade. Procurado, o Ministério da Educação (MEC) informou que uma proposta de revisão da política de educação especial foi encaminhada ao Conselho Nacional de Educação (CNE) no fim do ano passado.

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