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Belorizontina

Justiça autoriza Backer a retomar produção parcial

Decisão permite que a empresa faça o envase de tanques não lacrados e relativos a marcas que não sejam a Belorizontina e a Capixaba

Por Agência Estado

17 de janeiro de 2020, às 09h10 • Última atualização em 17 de janeiro de 2020, às 13h44

Foto: Erwin Oliveira - Framephoto - Estadão Conteúdo
A Backer segue proibida de comercializar seus produtos

A Justiça Federal em Minas Gerais autorizou nesta quinta-feira, 16, o retorno parcial do funcionamento da fábrica da cervejaria Backer em Belo Horizonte. A decisão permite que a empresa faça o envase de tanques não lacrados e relativos a marcas que não sejam a Belorizontina e a Capixaba, rótulos que, conforme as investigações da Polícia Civil, estão sob suspeita de contaminação pelas substâncias tóxicas dietilenoglicol e monoetilenoglicol. A Backer segue proibida de comercializar seus produtos.

A decisão, da juíza federal substituta Anna Cristina Rocha Gonçalves, da 14ª Vara na capital, foi tomada a partir de pedido da Backer para suspensão da interdição de sua fábrica.

“Quanto à liberação total do parque industrial, tão logo a impetrante apresente comprovação de que toda e qualquer irregularidade apontada nas inspeções foi sanada, caberá ao Ministério da Agricultura suspender a ordem”, pontuou.

A juíza relata na sentença que a Backer anexou ao pedido de retorno de atividades um vídeo com supostos indícios de sabotagem. Negou, no entanto, a análise do texto, por se tratar de decisão em liminar.

“O impetrante juntou aos autos vídeo supostamente contendo indícios de sabotagem nos barris de monoetilenoglicol por ele adquiridos junto ao seu fornecedor. Todavia, não cabe a análise dessa questão na via estreita do mandado de segurança, mormente porque a presente impetração dirige-se contra ato coator específico, atribuído aos representantes do Ministério da Agricultura.”

Na tarde desta quinta, a Polícia Civil cumpriu mandado de busca e apreensão em uma fábrica em Contagem, na Grande Belo Horizonte, fornecedora de insumos para a Backer. Um ex-funcionário desta empresa foi apresentado ao policiais para prestar depoimento. Um ex-funcionário da Backer também foi ouvido.

14 pessoas correm risco de morte

Os 14 pacientes internados com suspeita de intoxicação por dietilenoglicol depois de beberem a cerveja Belorizontina, da Backer, estão em estado grave e correm risco de morte, segundo a Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais. Todos estão internados na rede privada hospitalar de Belo Horizonte. Até o momento, são 18 notificações de possível intoxicação pela substância, com quatro mortes, sendo três suspeitas e uma confirmada.

O número de notificações pode aumentar, segundo o superintendente de Vigilância e Saúde do Estado, Felipe Laguardia. A Vigilância Sanitária de Belo Horizonte colocou em monitoramento outras 16 pessoas que procuraram a rede municipal de saúde e afirmaram terem bebido a Belorizontina.

A diretora de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura, Lúcia Paixão, afirmou que, com o início dos casos de intoxicação, foi registrado aumento na procura por unidades básicas de saúde e também de pronto-atendimento. Não há, porém, um porcentual que dê dimensão a esse aumento.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) passou a ser procurado agora, com a divulgação. Muito pelo temor”, justificou a diretora.

Os 14 pacientes estão sendo tratados com o antídoto para o dietilenoglicol, o etanol. As investigações apontaram também a presença de monoetilenoglicol na produção da Backer e na fábrica da cervejaria. Porém, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, todas as intoxicações foram pelo dietilenoglicol. As duas substâncias são altamente tóxicas – ambas provocam danos graves aos rins. Em relação a problemas neurológicos, o dietilenoglicol é um pouco mais brando.

Sintomas

Os pacientes apresentaram ainda cegueira, perda de movimentos de cima para baixo e paralisia facial. Os sintomas iniciais, dores abdominais e vômitos, começam a ocorrer em até 72 horas depois da ingestão da substância tóxica.

O superintendente de Vigilância Sanitária do Estado afirmou que todos os casos suspeitos que chegam são colocados para análise e só depois de confirmado que pode se tratar de contaminação pelo dietilenoglicol é que são acrescentados ao rol de notificações.

As autoridades de saúde pedem que, em relação a pessoas que tenham a cerveja em casa, não a joguem no lixo. A entrega deve ser feita, no caso de Belo Horizonte, nas administrações regionais da capital. Quanto aos bares e restaurantes, a recomendação é para que os proprietários dos estabelecimentos entrem em contato com a empresa.

A Prefeitura identificou descarte irregular de garrafas da cerveja, conforme a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), responsável pela coleta de lixo na cidade. “Com isso, passa a existir o risco de consumo da bebida por pessoas em situação mais vulnerável”, explicou Lúcia Paixão.

A Secretaria de Estado da Saúde negocia com a Polícia Civil transferência de tecnologia para exames de identificação da presença do dietilenoglicol, hoje exclusivo no Estado, na rede pública, à corporação.

Idosos estão mais sujeitos a riscos de cerveja contaminada, dizem especialistas

Especialistas afirmam que pessoas mais velhas estão mais suscetíveis a complicações causadas pela intoxicação por dietilenoglicol, composto químico achado na cervejaria investigada em Belo Horizonte. Dos óbitos investigados, havia dois homens, de 55 e 89 anos, e uma mulher de 60 anos – existe um quarto morto de idade não divulgada. Além desses, estão sob apuração mais 14 casos de intoxicação. Os pacientes têm apresentado sintomas de insuficiência renal e lesões neurológicas.

Geriatras ouvidos pela reportagem dizem que o organismo do idoso tem mais dificuldade para tolerar efeitos da toxicidade do que um jovem. “Jovem e adulto conseguem ter mecanismos de defesa que podem ser recrutados rapidamente pelo organismo para se adaptar a um estresse físico. O idoso tem menos desses mecanismos, por isso fica em desvantagem ao enfrentar a mesma situação de risco”, explica Thaisa Segura da Motta Rosa, especialista pela Sociedade Brasileira de Geriatria.

Conforme Milton Luiz Gorzoni, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com o passar da idade, o corpo perde sua reserva funcional, ou seja, a capacidade de enfrentar nova situação de estresse. “Uma substância que o organismo jovem consegue processar e expelir sem muita dificuldade, no organismo do idoso a chance de produzir um risco adverso é bem maior.”

Segundo Gorzoni, o dietilenoglicol é um produto químico tóxico. “Qualquer uma dessas substâncias químicas pode gerar acidose e isso altera a função do coração, que pode desenvolver arritmia, produzir até parada cardíaca, além de também afetar outros órgãos e o cérebro.”

O médico explica que a função do fígado e do rim é de metabolizar essas substâncias e retirá-las do corpo. “Numa pessoa de mais idade, o rim e o fígado trabalham mais devagar, e a substância fica circulando por mais tempo, podendo lesar outros órgãos, como o coração e o pulmão. Sabemos que também o coração, depois de uma idade mais avançada, passa a ter menos músculo e fica mais sujeito a lesões que podem resultar em parada cardíaca.”

Diálise

Como não há antídoto para a substância, afirma Gorzoni, uma intervenção possível seria um tratamento de diálise para evitar o comprometimento do rim. “O problema é que, quando as pessoas apresentaram a intoxicação, ainda não se sabia a causa”, diz.

Paulo Villas Boas, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), diz que cada caso deve ser analisado com cautela. “Mesmo entre idosos há diferenças, em virtude dos diferentes graus de capacidade funcional. Se uma pessoa tem um rim a menos, via de regra, tem a capacidade funcional diminuída. Se, além disso, é idosa, o risco é ainda maior.”

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