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Fake news

Grupos antivacina mudam foco para coronavírus

Análise produzida pela União Pró-Vacina mostra que grupos no Facebook passaram a divulgar informações falsas da Covid-19

Por Agência Estado

01 de abril de 2020, às 07h02 • Última atualização em 27 de abril de 2020, às 10h44

Dois grupos antivacina no Facebook mudaram o foco de suas publicações para a epidemia do novo coronavírus e têm divulgado informações falsas sobre a doença e seus tratamentos. É o que revela uma análise produzida pela União Pró-Vacina, um grupo criado por pesquisadores do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP de Ribeirão Preto para combater a desinformação sobre vacinas.

Eles avaliaram 213 postagens feitas entre 15 e 21 de março nos dois maiores grupos públicos brasileiros de conteúdo antivacina no Facebook, “O Lado Obscuro das Vacinas” e “Vacinas: O Maior Crime da História”, que atuam há cinco e dois anos. “Os métodos da desinformação continuam os mesmos: distorcer conteúdo científico e jornalístico, espalhar teorias da conspiração e até oferecer falsas curas usando produtos conhecidamente tóxicos para a saúde humana”, apontam os pesquisadores.

“Entre as publicações, há insinuações de que o vírus seria uma ferramenta para instituir uma nova ordem mundial ou mesmo uma arma produzida pela China. Outras afirmam que a vacina da gripe seria a responsável pela disseminação da covid-19 e a doença seria facilmente curada por meio da frequência do cobre ou de zappers, supostos antibióticos eletrônicos”, afirmam.

As páginas na rede social estavam na mira dos pesquisadores desde o fim do ano passado, quando a União Pró-Vacina começou a funcionar. A equipe, multidisciplinar, conta com vários especialistas de saúde e comunicação.

“Já tentamos dialogar, trabalhamos sempre com linguagem cordial, mas eles não aceitam. Qualquer manifestação contrária é excluída”, disse ao Estado João Henrique Rafael, analista de comunicações do IEA e idealizador do projeto.

Fluxo maior

Os dois grupos, que em geral produzem 30 publicações por dia, aumentaram o ritmo de postagens no período analisado – no dia 21, chegaram a 43. Durante a semana analisada, 65,3% dos posts (139) foram sobre coronavírus. O período, dizem os pesquisadores, coincide com o aumento de buscas no Google de informações sobre a doença.

“A gente sempre monitora o que eles estão falando, mas percebemos que algo estava estranho, que o tom tinha mudado. Na semana em que todo mundo estava buscando informações sobre coronavírus, eles deram uma guinada”, diz Rafael.

A equipe resolveu, então, analisar todas as postagens dos dois grupos naquela semana. “Virou um repositório de conteúdo problemático no meio da pandemia”, afirma Rafael.

Segundo os pesquisadores, 78,4% das postagens “apresentam sérios problemas, como a disseminação de teorias da conspiração, utilização de informações falsas e de afirmações sem evidências, a distorção de informações confiáveis, a sugestão de uso e até a comercialização de produtos e tratamentos que não têm comprovação científica ou aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Segundo a análise, a postagem com maior envolvimento (204 interações) abordou o uso do chamado “MMS na cura da covid-19”, ou solução mineral milagrosa, na sigla em inglês. “O produto é composto por dióxido de cloro e é semelhante à água sanitária usada como alvejante. Sua ingestão ou administração pelo reto pode causar lesões no intestino, vômito, diarreia, desidratação, insuficiência renal, anemia, entre outros problemas de saúde graves”, escreve o grupo. O Estado não conseguiu contato com os administradores das páginas citadas. Procurado pela reportagem, o Facebook não se manifestou até as 19h30.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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