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Cotidiano

Estudo da Unicamp adianta identificação do câncer de colo de útero

Pesquisa conduzida pela Unicamp sugere a substituição do Papanicolau pelo exame DNA-HPV para rastreamento da doença

Por Isabella Holouka

05 de dezembro de 2021, às 08h01

Decorrente de uma infecção persistente pelo vírus HPV, contra o qual existe vacina, e detectável em exame preventivo antes da ocorrência de tumor, o câncer de colo uterino é um dos poucos que pode ser erradicado. Apesar disso, a baixa adesão ao exame e à imunização contribuem para a alta mortalidade pela doença: uma brasileira morre em decorrência deste câncer a cada 90 minutos.

Para transformar essa realidade e gerar evidência científica, com dados que possam servir de base para políticas públicas mais eficientes, o Caism (Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a Prefeitura de Indaiatuba e a Roche Diagnóstica se reuniram para condução de estudo que pode permitir o rastreamento mais rápido de câncer de colo de útero, cujos primeiros resultados foram publicados em novembro.

“Sou ginecologista oncológico, trabalho no serviço público. Atualmente, de cada três casos que vemos de câncer de colo de útero, dois estão em estágio avançado, em mulheres com uma média de 45 anos”, relatou ao LIBERAL o médico Júlio Cesar Teixeira, pesquisador principal do estudo.

Vacinação contra HPV em adolescente no Jd. Aurélia, em Campinas – Foto: Pedro Amatuzzi / Código19 / Estadão Conteúdo_10.3.2014

De acordo com ele, o exame citopatológico, popularmente chamado de Papanicolau, utilizado no programa nacional de rastreamento desde 1980, não teve impacto sobre a mortalidade pela doença.

Embora o SUS disponha de exames suficientes para atingir a cobertura de 90% das mulheres, o que garantiria a efetividade no rastreamento, eles acabam sendo feitos nas mesmas pacientes ou em idades em que não oferecem nenhuma proteção, resultando em uma cobertura que varia de 15 a 30%.

O estudo de demonstração amparado por pesquisadores da Faculdade de Ciências Médicas consistiu na mudança do protocolo de atendimento em Indaiatuba, atingindo mais de 80% da população-alvo projetada e trocando a realização do exame Papanicolau pelo teste de DNA de HPV.

Como funciona?

O teste DNA-HPV também é feito através de coleta de amostra em exame ginecológico. Entretanto, ele detecta, de forma automatizada, as cepas do vírus que causam o câncer, sem dúvidas na interpretação dos resultados.

Em comparação, a citologia tem elevada sensibilidade e performance mediana, podendo deixar escapar casos de lesões precursoras e até o câncer já estabelecido.

A Prefeitura de Indaiatuba viabilizou a participação das mulheres da cidade com idades entre 25 e 64 anos, usuárias do SUS, por meio de campanhas informativas, busca ativa, estrutura para a realização dos testes e acompanhamento. A Roche disponibilizou testes DNA-HPV, com um total de 16.384 já realizados, em 30 meses de atividade, até março de 2020, e o Caism da Unicamp conduziu todo o protocolo científico do estudo e assessorou a condução do programa municipal.

Foram detectadas 21 mulheres com câncer de colo de útero, com idade média de 39,6 anos, com 67% dos casos em estágio inicial. Para uma comparação quanto à eficiência do novo método de diagnóstico, no rastreamento com Papanicolau nos 30 meses prévios ao estudo foram detectados apenas 12 casos de câncer, com idade média dez anos superior (de 49,3 anos), e apenas um caso em estágio inicial.

“Com alta cobertura, fez-se um pente fino na população, com um teste mais sensível. Adiantamos o diagnóstico em 10 anos, esse é o ganho imediato. Seriam casos aparecendo na próxima década, com sintomas em estágio avançado. E temos um ganho a longo prazo, que é a detecção de lesões pré-câncer. Este teste detecta 3 vezes mais lesões pré-câncer do que o Papanicolau, e isso demonstraremos em uma próxima publicação”, adiantou Teixeira.

O pesquisador explicou que, considerando o custo de aplicação dos testes Papanicolau e DNA-HPV com a mesma cobertura da população alvo, o poder de detecção de cada um, além dos gastos do sistema público de saúde com tratamentos contra cânceres, a mudança mostra-se positiva quanto ao custo-efetividade. Ou seja, substituir o Papanicolau pelo teste DNA-HPV será uma estratégia mais eficiente e barata a longo prazo.

Vacinação

Outro programa defendido pelo pesquisador e aplicado em Indaiatuba com base em estudos demonstrativos da Unicamp é a vacinação contra o HPV nas escolas municipais, com duas doses anuais, em meninos e meninas de 9 e 10 anos.

As escolas concentram 87% das crianças nesta faixa etária no município. “Estamos conseguindo altas coberturas. Indaiatuba está sendo o nosso piloto em relação a países como a Austrália, Reino Unido, Suécia, Holanda, na eliminação de câncer de colo de útero e outras doenças pelo HPV”, comentou Teixeira.

Vacinação contra HPV em Americana

A vacina é oferecida em todas as 17 unidades básicas de saúde, de segunda a sexta-feira. Em 2021, até setembro, foram aplicadas 3.270 doses em adolescentes. Não há percentual de cobertura vacinal exigido pelo Ministério da Saúde

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