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Na capital

Corregedoria da PM diz que ação em Paraisópolis foi legal

Ocorrência em baile funk na favela de Paraisópolis, em São Paulo, terminou com nove mortos por pisoteamento em dezembro do ano passado

Por Agência Estado

07 de fevereiro de 2020, às 21h40 • Última atualização em 07 de fevereiro de 2020, às 22h07

A Corregedoria da Polícia Militar encerrou o inquérito que apurava a responsabilidade de policiais militares em uma ocorrência no baile funk de Paraisópolis que terminou com nove mortos por pisoteamento em dezembro. Para a corporação, segundo divulgado pela TV Globo, os agentes atuaram em legítima defesa e de forma lícita, não devendo responder judicialmente pelas mortes. A ocorrência também é investigada em inquérito da Polícia Civil, que ainda não foi encerrado.

Desde dezembro, 31 policiais do 16º Batalhão estão afastados do serviço operacional nas ruas e cumprem expediente em áreas administrativas. O afastamento ocorreu a pedido do governador João Doria (PSDB), que atendeu ao apelo feito por parentes das vítimas. O inquérito agora está no Tribunal de Justiça Militar que deve solicitar parecer do Ministério Público. A investigação pode ser arquivada ou o MP pode solicitar novas diligências complementares visando a entender melhor a ocorrência.

Foto: Wikimedia Commons / Divulgação
Para corregedoria da PM, ação de militares foi legal em Paraisópolis

A PM diz que tiros disparos por suspeitos contra agentes deu início a uma perseguição em Paraisópolis. Na versão da corporação, esses suspeitos entraram na multidão e causaram correria, o que explicaria o pisoteamento. Testemunhas relataram, no entanto, que a polícia não ofereceu opção de saída durante a confusão, fechando os dois lados da via e levando os presentes a vielas da localidade. As mortes aconteceram em duas dessas vielas.

Ao jornal O Estado de S. Paulo em dezembro, uma jovem que estava em uma dessas vielas disse que a polícia chegou a atirar bombas nesses locais, piorando a confusão. Ao sair de lá, ela relatou ainda ter sido atingida no rosto por uma garrafa de vidro atirada por um policial. A jovem tomou 50 pontos em decorrência dos ferimentos causados.

Ex-ouvidor critica conclusão da Corregedoria

O ex-ouvidor da polícia Benedito Mariano discorda da conclusão da Corregedoria. Seu mandato de dois anos à frente do órgão foi encerrado nesta quinta-feira, 6, quando Doria decidiu não o reconduzir para o posto. Mariano estava produzindo um estudo detalhando a posição da Ouvidoria sobre a investigação. “Minha visão do que aconteceu é totalmente diferente da conclusão da Corregedoria. Foi uma ocorrência sobretudo improvisada e precipitada e que tem relação, mesmo que indireta, com o resultado final trágico”, disse.

Ele estava analisando as mais de mil páginas do inquérito da Polícia Civil e confrontando os procedimentos com as previsões do manual de controle de multidões da PM. O ex-ouvidor disse ver descumprimento de ao menos dois pontos previstos no protocolo. “Não se planeja uma ação como essa em 10 ou 15 minutos. E não se levou em conta a garantia para amplas rotas de dispersão. O meu relatório iria aponta que, tecnicamente, houve erro operacional”, acrescentou ele.

A conclusão da Corregedoria também foi criticada pela União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, que disse ter recebido a informaç]ao com “profundo pesar”. “A pergunta que se faz é como diante de todas as imagens disponíveis daquela noite o resultado do inquérito foi pelo arquivamento do caso?. Os policiais assumiram o risco e devem responder por isso”, declarou em nota Gilson Rodrigues, presidente da União.

A postura da Corregedoria, reforçou a associação, aumenta o sentimento de injustiça e de impunidade. “Hoje, os nove jovens do Baile da 17 foram novamente encurralados, pisoteados e asfixiados por essa decisão. Por isso, convoco toda a sociedade e as comunidades do Brasil a se mobilizarem em apoio às famílias das vítimas”, afirmou Gilson.

Arquivamento condiz com lógica da defesa, diz advogado

Advogado de parte dos policiais afastados, Fernando Capano disse que a conclusão da Corregedoria “condiz com a lógica adotada pela defesa desde o início do processo”. “Não há como apurar nexo de causalidade entre a conduta dos policiais na ocorrência e as lamentáveis mortes ocorridas, conforme falamos desde o princípio”, declarou o advogado.

Ele disse que aguardará a posição da Justiça Militar, esperando que homologue as conclusões do inquérito e determine o arquivamento. Capano disse esperar que as investigações a partir de agora, “finalmente centrem esforços para apurar quem são os verdadeiros responsáveis pela tragédia, visando evitar tristes ocorrências dessa natureza.”

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