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Cotidiano

‘A minha família não procurou, mas o raio caiu na minha casa’

Por Agência Estado

10 de maio de 2020, às 07h25 • Última atualização em 10 de maio de 2020, às 09h30

Na família, ninguém escapou da covid-19. A mãe Maristela Andreoli, de 58 anos, foi a primeira a manifestar sintoma: uma dor forte lhe martelava a cabeça sem parar. Logo depois os filhos começaram a tossir, perderam olfato, não sentiam mais o gosto da comida. Até febre e dor no corpo a mais nova teve. Ajudando a cuidar de todos, o pai e empresário Carlos Eduardo Andreoli, de 59, era diabético e adoeceu por último. “Meu marido saiu de casa bem, para tomar insulina, e nunca mais voltou.”

No sábado, 9, dia em que o Brasil ultrapassou a marca de 10 mil mortos pelo novo coronavírus, famílias relataram ao jornal O Estado de S. Paulo histórias por trás do número de vítimas da pandemia. Em comum, demonstram preocupação com desrespeitos às medidas de isolamento social no País e descrevem o comportamento de uma doença traiçoeira que, agora, as obriga a lidar com a ausência de pessoas amadas.

Seis semanas após o sepultamento, que só pôde ser acompanhado a distância pela família, Maristela diz que vive a morte de Andreoli diariamente. “A gente não viu ainda nossos familiares, não pudemos abraçar ou ser consolados. Estamos fechados dentro de casa, com todas as lembranças do meu marido, o tempo inteiro. É como se ele tivesse morrido ontem. Todos os dias são iguaizinhos.”

Mesmo com a renda interrompida pelo fechamento de serviços não essenciais, Maristela diz que o isolamento só deve ser flexibilizado quando o número de casos começar a cair.

“É muito importante parar essa roleta-russa. A minha família não procurou, mas o raio caiu na minha casa. Podia ser na casa de qualquer um. Ninguém está livre da doença. O que me revolta, hoje, é que estamos esticando esse assunto porque boa parte das pessoas não está nem aí para os outros. Se tivéssemos feito o isolamento direitinho desde o começo, nos resguardando, já poderíamos estar retomando nosso dia a dia”, afirma ela. “Só depende da gente assumir que é nossa responsabilidade parar de transmitir. Por causa dessas pessoas, estamos sofrendo e pagando uma conta muito alta.”

Pelo celular

O sepultamento não demorou mais do que dez minutos. No cemitério em Paulista, no Grande Recife, o empresário Aécio Prado Júnior, de 33 anos, estava sozinho ao lado do caixão do pai, José Aécio, de 80, vítima da covid-19. “Tive de transmitir pelo celular e ficar mandando foto para a minha família: ‘como estava a coroa de flor, gravar o funcionário fechando o túmulo…’ Infelizmente, tive de criar registro daquilo que, normalmente, ninguém quer ficar lembrando.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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