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  Brigas entre adolescentes se tornam rotina em escolas

  Brigas entre adolescentes se tornam rotina em escolas

8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
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  Brigas entre adolescentes se tornam rotina em escolas

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Revista L

Brigas entre adolescentes se tornam rotina em escolas

Mas afinal: o que faz alguém chegar a esse ponto? E por que o pessoal filma e põe na rede?

Por Núria de Oliveira

17 abr 2015 às 11:20 • Última atualização 20 jan 2017 às 15:23

O vídeo, na maioria das vezes gravado de forma amadora, apresenta dois adolescentes com uniforme da escola brigando. Enquanto eles se estapeiam, chutam e se socam, uma galera em volta incentiva com celular em punhos, gravando o “momento”. Vídeos como esses são comuns e surgem com frequência na timeline das redes sociais. E o pior: são aclamados por muitos “likes” e compartilhamentos.

Foto: Marcelo Rocha / O Liberal
Entre os jovens, briga na escola parece algo comum, apesar de poucos terem presenciado

Uma pesquisa encomendada pela CNTE (Confederação dos Trabalhadores em Educação) apontou que 89% dos entrevistados – todos com idade acima de 16 anos – acreditam que há muita violência nas escolas públicas. Mas será que esse é um problema só neste ambiente ou é um problema da idade?

Para o psicólogo e autor do livro “Meu Primeiro Dia de Aula”, Rafael Alvarenga, o adolescente quando se sente enfraquecido por dentro, tenta sempre compensar com ações exteriores. “As brigas são bons exemplos de conflitos internos mal resolvidos. Em algumas situações, apenas pela violência os jovens recebem atenção e contato físico. A carência por um abraço verdadeiro pode virar o desejo por agressão física direcionada”, alerta.

Filmar e divulgar a briga na internet só é uma forma de aumentar a plateia para essa vontade de chamar atenção. Segundo Alvarenga, a curiosidade em ver esse tipo de vídeo não faz parte apenas do universo adolescente. “O ser humano é atraído para violência por curiosidade, morbidez e o sentimento de prazer associado ao ver o outro sofrendo. O que nos é pouco conhecido muitas vezes se cerca de glamour”, comentou.

O que elas acham?

Entre os jovens, briga na escola parece algo comum, apesar de poucos terem presenciado. Maria Eduarda Silva, 14, nunca viu no ambiente escolar, mas já olhou na internet, apesar de garantir que não dá clic no “play”. “Eu não gosto de briga, sempre que eu vejo fico com dó”.
Julia Panzan, 14, acredita que os motivos das brigas entre adolescentes são sempre por motivos banais e acha que publicar vídeos na internet com esse teor só piora. “Porque pode influenciar outra pessoa que não sabe muito sobre o assunto ou é mais nova”, diz. A estudante Pietra Boareto, 14, costuma clicar em vídeos de ‘tretas’ porque, segundo ela, “dá uma curiosidade”, mas não curte. Ela conta que só presenciou brigas verbais e garante ser integrante da turma da paz. “Eu não gosto de brigar, eu prefiro não responder”, completa.

No mundo dos meninos

Entre os meninos, a palavra “briga” é bem mais corriqueira. Eduardo Santarosa, 13, já viu, mas nunca participou. “Menino gosta de partir pra briga, não quer conversar e já vai batendo. Eu ‘saio fora’ e acho que o certo é chamar alguém para apartar”. João Pedro de Oliveira Romero, 14, comentou que já viu os ânimos alterados em um jogo de futebol. “O pessoal ficou todo em volta, só vendo. Ninguém fez nada até porque gosta de ver. Eu mesmo não interfiro porque posso apanhar junto”, declara.

Apesar de nunca ter brigado, Pedro Lucas Sprogis, 14, já presenciou várias brigas entre jovens. “Nunca me dei ao trabalho de descobrir o porquê, mas os motivos são absolutamente tudo e qualquer coisa”, sentencia. Para ele, as pessoas em volta estimulam a briga e em poucos casos existe uma turma tentando apaziguar. “Ele tá lá, tem a galera, se ele recua vai sendo zoado, ele esquenta a cabeça, as pessoas vão fazendo a piada até que perde a paciência e parte pra briga sem pensar”, explicou.

Como ajudar?

Se você tem um amigo “brigão” ou que gosta de filmar essas brigas para se gabar depois na internet, a orientação do psicólogo é ser um exemplo de bom comportamento. “O jovem violento deve ter contato com outras formas de ‘diversão’ e ‘prazeres’ mais saudáveis”. Para os pais, Alvarenga destaca a importância de punir atitudes agressivas. “É indispensável que se estabeleçam regras claras e consequências reais para as brigas”.