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A arte das ruas

Jovens grafiteiros transformam o cenário urbano com cores, ideias e talento

Por Débora De Souza

26 jun 2015 às 13:26 • Última atualização 20 jan 2017 às 16:14

Basta olhar a volta: muros, portas, caixas de energia elétrica, de pouco em pouco o cenário urbano da RPT (Região do Polo Têxtil) se transforma com frases e desenhos ultracoloridos como as mulheres de Laryssa e os pandas de Juliano.

A adesão dos jovens ao grafite cresce junto com as cidades. Uma arte nascida em meio a “selva de pedras” com a missão de protestar contra o preconceito e injustiças sociais, e encanta pelo seu espírito rebelde.
[img-1]”O grafite é a arte de se rebelar. A arte fala muito com os jovens por estar na rua, nas roupas e acessórios que eles usam. As cores são chamativas. A ideia de subvenção, de rebeldia, de mudar o mundo são sentimentos que estão nos jovens e fazem parte universo do grafite”, explica Juliano “Pandemia”, 24, grafiteiro e criador do logo “Pandemia”.

“Foi na falta do que fazer que inventei minha liberdade”, escreve a iniciante Laryssa Luiz de Souza, 17, em sua página no Facebook. Há um ano, a estudante foi atraída para o grafite pelas cores e conheceu um mundo de expressões diversas e amizades. “Comecei fazendo um curso em Americana, mas foi encerrado, então, para aprender mesmo eu tive que meter a cara [risos]. Saía com os ‘caras’ que tinham mais experiência. Eles me ajudavam com o material também, porque eu não tinha condições para comprar e… nossa, usar spray é muito mais difícil do que parece”, ri ela.

Laryssa mergulhou na arte há três meses quando definiu sua marca: desenhar mulheres. “A mulher é símbolo de força e delicadeza. Todas as minhas mulheres têm cabelos longos para ressaltar a feminilidade e… porque acho bonito”, explica.

Seus primeiros desenhos estamparam primeiro a fachada de sua casa (até hoje grafitada) e se espalhou pela cidade, em especial no bairro Jardim da Paz, onde existe uma pista de skate que frequenta. “Quero levar um pouco de cor e arte para lá”, diz.

Vitória Jordan Santorelli, 18, também fez os muros de sua casa de alvo. “Sempre fui ligada a artes e meus pais também gostam. Então quando comecei a desenhar as paredes de casa, ninguém achou estranho, apoiaram”, ri ela.

A paixão pelo grafite surgiu durante uma aula no curso de Comunicação Visual. Há três meses ela sai de Nova Odessa, onde mora, para aprender as técnicas em curso específico em Santa Bárbara d’Oeste. “Hoje eu só rabisco, mas não vejo a hora de ir para o muro”, empolga-se.

A busca do artista
Grafite é uma arte e, como arte, é uma forma de expressar pensamentos e sentimentos. Os traços e a intensidade das cores revelam ideias e o estado de espírito de cada artista.

E para se destacar na multidão e ser “ouvido”, cada artista persegue sua marca, seja um personagem, um traço diferente, as cores que usa ou uma logomarca como o pandemia, criado há dois anos por Juliano. “É um trocadilho que fiz com a figura de um panda e a palavra pandemia que tem o sentido de espalhar e causar uma reação nas pessoas. Esse é o meu logo, essa é minha arte”, orgulha-se o artista reconhecido pelo estilo stencil (uso de moldes vazados).

O material usado pelos grafiteiros vai desde sprays a tintas látex e canetas específicas. O traço do desenho é definido pelos bicos usados no spray, se grosso, médio ou fino. É mais usado para contornos e detalhes. Devido ao baixo custo em relação ao spray [cada lata sai por R$ 15], a tinta látex é usada para preenchimento, com auxílio de pincéis. As canetas geralmente são usadas para detalhes menores e tags (assinatura do artista).
[img-2]Um vizinho chamou a polícia
Apesar dos anos de prática e reconhecimento – incluindo fãs que copiam sua arte em outros cantos, cadernos e skates -, Juliano “Pandemia” já foi impedido de realizar seu trabalho enquanto “fazia” um muro, no meio da tarde. “Nem todo mundo entende nossa arte e, mesmo sendo de dia, tipo, eu não estava fazendo nada escondido, um vizinho chamou a polícia e não deixaram que eu terminasse aquele desenho”, conta.

Vitória acredita que o preconceito acontece porque o grafite ainda é confundido com vandalismo. “O grafite é arte, é desenho, existe uma composição. A pichação não, é qualquer coisa em local proibido”. Juliano também chama a atenção para a postura de alguns grafiteiros: “Se ele faz seu trabalho à noite, em local proibido, ele tem mais chances de ser repreendido do que se ele fizesse de dia. Mas nem todo mundo entende o grafite. É normal”, diz.

A fim de distanciar a arte do vandalismo, grafiteiros adotam uma espécie de código de ética. Por exemplo, muros recém-pintados ou com propagandas estão proibidos. Desenhar em áreas particulares como a parede de uma casa está fora de cogitação, a não ser que o morador autorize.
Essas pequenas atitudes também ajudam a valorizar o trabalho de cada artista.

Curso é gratuito
Juliano “Pandemia” é tutor no curso de grafite realizado no CEU “Ariovaldo Inácio” na cidade de Santa Bárbara d’Oeste. As aulas acontecem todo sábado, das 9h às 11h, em parceria com o também grafiteiro “Vozinho”. Atualmente são 15 alunos que aprendem as técnicas e estilos que compõem o grafite.

O curso é gratuito. O CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) está localizado na Rua Argeu Egídio dos Santos, no Planalto do Sol 2.

Estilos mais comuns
Stencil: desenhos e letras são feitos com auxílio de moldes vazados

Freestyle: como o nome diz, é o estilo livre. Vale tudo aqui: caricaturas, personagens de história em quadrinhos, figurações realistas e também elementos abstratos

Grafite 3D: são desenhos concebidos a partir de ideias visuais de profundidade, sem contornos. Exige domínio técnico na combinação de cores e formas, noção de iluminação e planos

Wildstyle: é mais elaborado, com letras distorcidas e contornos fortes, bem coloridos. Chama a atenção pela dificuldade em se ler, principalmente por pessoas que desconhecem esta arte.

Bomber ou Throw-up: são letras grandes, arredondadas e que parecem ter vida; geralmente possuem duas ou três cores que contrastam entre si. É o melhor estilo para quem quer começar na arte do grafite

Principais termos e gírias:

Grafiteiro/writter: o artista que pinta
Bite: imitar o estilo de outro grafiteiro
Crew: é um conjunto de grafiteiros que se reúnem para pintar ao mesmo tempo
Tag: é a assinatura de grafiteiro
Toy: é o grafiteiro iniciante
Spot: lugar onde é praticada a arte do grafitismo

Fonte: Brasil Escola