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  Livro realiza mergulho em um novo Brasil após vários anos de ditadura

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8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
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Literatura

Livro realiza mergulho em um novo Brasil após vários anos de ditadura

Jornalista que se inspirou na viagem de Mário de Andrade na década de 1920 pelo interior do país, relança obra de 1982

Por Luciano Assis

05 mar 2017 às 12:00 • Última atualização 04 mar 2017 às 17:14

Foto: Arquivo - O Liberal
Região sul do Estado de Minas Gerais foi um dos locais visitados tanto por Mario de Andrade, nos anos 1920, quanto por Miguel de Almeida, nos anos 1980

O Brasil de 1982 era um novo país. O Regime Militar que por 20 anos manteve a sociedade sobre suas botas dava seus últimos suspiros rumo à democracia. Por outro lado, àquele país mais romântico e rural cedia espaço para um estado/continente de extremo capitalismo industrial alimentado pelo êxodo do campo para a cidade que se iniciara pelo menos dez anos antes com maior intensidade.

Foi nesse ambiente que o então jornalista e escritor Miguel de Almeida, então repórter do Caderno Ilustrada, da Folha de S. Paulo, se lançou rumo a uma viagem que desaguaria no livro “Trilha nos Trópicos”, relançado agora pela Companhia Editora Nacional.

A obra é diretamente inspirada pela obra prima “O Turista Aprendiz”, de Mário de Andrade. Nele, o escritor modernista relata sua viagem pelo norte e Nordeste do país do País entre os anos de 1927 e 1929, descrevendo os costumes e a música brasileira dos mais remotos cantos do sertão e do literal. “Eu tinha acabado de ler o livro do Mário que me deixou completamente fascinado e vi paralelos entre o momento em que ele se lançou nessa aventura e o momento em que vivíamos. Em 1982 o Brasil voltava as mãos dos brasileiros e eu tinha interesse em reunir algumas linhas dessa cultura então pouco desvelada, ainda mergulhada em ignorância e preconceito”, explicou o escritor, que fez várias atualizações para esta nova reedição do livro.

A ideia de rumar em direção ao norte e nordeste do país foi aceita pela direção do jornal Folha de S. Paulo, que na época tinha como editor-chefe Boris Casoy. Pelo caminho, o jornalista foi se deparando com personagens que até então haviam sido obscurecidos pelos governos autoritários. Gente como o médico e escritor Pedro Nava, os músicos Elomar e Alceu Valença e o amigo de Mário de Andrade, o também escritor Câmara Cascudo.

“São pessoas que muitos brasileiros não conheciam ou que estavam exilados até pouco tempo, como o compositor Jorge Mautner. O livro é uma troca de percepções sobre assuntos diversos com essas pessoas e os locais onde elas viviam”, explica Miguel.

Diferente de Mário de Andrade, o jornalista estendeu sua viagem para estados como Rio de Janeiro e Bahia, locais que não haviam sido descritos pelo modernista.

“Eu terminei a minha viagem em Brasília, lugar que não existia em 1929, quando o Mário fez sua trajetória”, comentou Miguel.

Século 21. “’Trilha nos Trópicos’ é um livro que flui gostoso através de um Brasil sonolento, quase todo muito parecido, tantos anos depois, com aquele que Mário de Andrade visitou”, disse em 1983 o crítico literário Antonio Callado, em uma resenha sobre o livro de Miguel.