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  ‘Não dá mais’, diz Zé Maria, ex-prefeito de Santa Bárbara

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8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
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  ‘Não dá mais’, diz Zé Maria, ex-prefeito de Santa Bárbara

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Entrevista

‘Não dá mais’, diz Zé Maria, ex-prefeito de Santa Bárbara

Prefeito por três mandatos em Santa Bárbara d’Oeste, ele descarta disputar a eleição em 2020, critica PSDB local e diz que ‘nunca fez parte’ do DEM

Por André Rossi

10 mar 2019 às 08:05 • Última atualização 10 mar 2019 às 15:32

Depois de três mandatos como prefeito, um como deputado estadual e de ter disputado todas as eleições de Santa Bárbara d’Oeste neste século, José Maria de Araújo Júnior, o Zé Maria (DEM), afirma que “não dá mais” e descarta ser candidato a prefeito em 2020. Lançado na política pelo MDB e com uma extensa história no PSDB, o político de 77 anos admitiu em entrevista exclusiva ao LIBERAL nunca ter se sentido em casa no DEM, seu atual partido.

Zé Maria diz ainda que as redes sociais e o desejo da população por políticos jovens pesou em suas duas derrotas para Denis Andia (PV), em 2012 e 2016. Ele acredita, no entanto, que o prefeito precisa parar de achar que “vai tirar nota 10 em tudo” e admitir problemas, como o parcelamento de salários dos servidores.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Zé Maria foi prefeito de Santa Bárbara em três ocasiões: entre 1983 e 1988, 1993 e 1996 e 2005 e 2008

Durante a campanha para prefeito em 2016, o senhor dizia não entender o motivo de não ter se reelegido em 2012. Atualmente, como você avalia aquele momento?

ZÉ MARIA 
Acho que tem dois aspectos que foram muito importantes na vitória do Denis (Andia, prefeito). Primeiro que ele vinha ao encontro com aquilo que o povo deseja. Novos nomes, gente mais jovem, não querem mais os velhos políticos e, goste ou não, eu pertenço a essa geração. Sou político há muito tempo.

Outra coisa que considero fundamental que ele fez foi o uso da rede social. Confesso que ainda hoje mal busco algumas coisas (na internet). Não tenho por hábito me ligar às redes sociais. Continuo lendo os melhores jornais, gostando dos programas de televisão que incluem debates, geralmente políticos, mas a rede social eu nunca soube utilizar, e o Denis foi muito feliz, equipou-se de maneira adequada para aproveitar o apelo da rede social.

A forma como a internet interfere na eleição é brutal. Eu não acreditava muito nisso porque as eleições que eu participei, a grande maioria, foram em épocas onde o trabalho pessoal, o corpo a corpo, o encontro com grupos de pessoas, discutir propostas… essa era a forma de comunicação.

Nas eleições municipais de 2016 o senhor fez uma aliança com Paulo D’Elboux e Fabiano Pinguim, que já tinham sido desafetos, e admitiu que era algo que te deixava desconfortável. Vocês ainda são aliados?

ZÉ MARIA
Na verdade com o Pinguim eu não tinha nada, nem a favor e nem contra. O Paulo tinha sido meu adversário numa eleição lá em 1992, foi candidato a prefeito, e depois quando ele foi assessor do Adilson Basso (ex-prefeito entre 1997 e 2000). Foi meu adversário, sem dúvida nenhuma. Só que no PSDB eu não senti que podia permanecer.

O PSDB local fez uma opção de, na verdade, ser uma continuação do reinado dos Macris. O PSDB de Santa Bárbara se rende às conveniências e interesses políticos do Vanderlei Macris, que é uma liderança incontestável há muito tempo. Eles respeitavam minha condução do partido. A partir do momento que eles decidiram que não deveria mais ser assim, eu entendi que não devia mais permanecer no partido.

Não tinha intenção sequer de disputar a eleição, acabei sendo influenciado por um grupo de pessoas que me procuraram, numa junção grande de partidos, e disputei. O resultado, obviamente, que não foi bom.

Como é o seu relacionamento com o Joel Oliveira, reeleito presidente do PSDB de Santa Bárbara?

ZÉ MARIA
O Joel Oliveira é extremamente capaz, executa a liderança, foi um importante secretário em todos os governos que eu fiz parte, com exceção do primeiro que ele não era o secretário, mas nos demais ele foi. E o Joel é muito versátil, muito capaz profissionalmente falando, mas obviamente que eu até entendo como natural que ele tivesse aspirações (concorreu a prefeito em 2016), coisa que antes ele não havia demonstrado.

E a partir do momento que ele pretendeu ser o candidato, como alguém com uma certa influência no partido e apoiado pelo Vanderlei e pelo Cauê, ele resolveu ficar o mandatário do partido para poder viabilizar a sua própria eleição.

A nível nacional, o PSDB mudou bastante desde a fundação. Qual a sua leitura do partido atualmente?

ZÉ MARIA 
Olha, eu sou muito franco. Alguém que trilhou diversos caminhos na política com mudança de partido… não sou o mais qualificado (para responder), mas eu lastimo porque o PSDB, em algum momento, representava pra mim a grande saída política para esse País, e hoje já não vejo mais assim. Não acho que o Doria (governador) possa representar os anseios do PSDB original. Ele está a uma distância muito grande de Franco Montoro, Mário Covas, de jeito nenhum… de Fernando Henrique Cardoso.

O que o Doria pretende é um engano, ele é o enganador. Eu não vejo no Doria legitimidade para o discurso que ele pratica. Então é uma decepção porque, de qualquer forma, discutir o partido é muito complicado, mas algumas lideranças dão rumo. Não posso acreditar que um partido que teve homens do porte que o PSDB teve, e que governou não só São Paulo como o próprio País com muita eficiência, possa agora imaginar que vamos nos referir à maior liderança do PSDB como João Doria. É lamentável.

Durante a eleição para presidente no ano passado houve diversos atritos dentro do PSDB. Entre as novas forças do partido, Cauê Macris chegou a dizer que políticos como FHC e Tasso Jereissati não se reciclaram, que não trazem votos hoje. Existe uma tendência de distanciamento entre o que era o PSDB e o que está se tornando hoje?

ZÉ MARIA
Pela expectativa que provocou, hoje é um partido que está se enfraquecendo. E o discurso do Cauê é tão fora de propósito. Se ele quer saber o que hoje é o Fernando Henrique, é ele daqui 30 anos. Quando alguém da idade do Cauê, jovem, presidente da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), resolve classificar o Fernando Henrique, o rapaz precisa tomar um banho frio, precisa cair na real.

Nós sabemos como é que se elege presidentes da assembleia, eu fiz parte dela. Imaginar que quem está lá é pelos seus largos méritos, olha, é fazer pouco da cabeça de quem lê jornal, de quem milita na política.

Voltando a falar sobre Santa Bárbara. Assim como ocorre em Nova Odessa, o Denis Andia aparenta não ter um sucessor definido. Você vê alguém sendo preparado por ele?

ZÉ MARIA
O Denis fez parte do meu governo, conheço bem. O pai dele (Laerson Andia) trabalhou em todos os governos que eu fui prefeito e acho que o Denis vem fazendo um bom mandato, e será alguém muito influente no momento da sucessão. Obviamente, a história mostra que nem sempre essa equação dá o resultado desejado, mas eu não tenho dúvida que o Denis é o peão desse jogo.

Ele tem boas possibilidades de indicar alguém, mas não será surpresa nenhuma se surgir uma outra corrente que possa levar a eleição. Hoje tem umas coisas que contam muito: idade, grupo jovem e que saiba usar bem as ferramentas que estão à disposição. Pode surgir alguma surpresa.

Recentemente a secretária de Fazenda da cidade confirmou que há parcelamento de salário dos servidores desde janeiro, o que a prefeitura nunca tinha admitido. Não admitir por ser uma medida impopular é uma alternativa efetiva para lidar com esse tipo de situação?

ZÉ MARIA
Esse é um dos mais graves equívocos que ele está cometendo. Não tem nota 100, não tem como você fazer tudo. O Denis precisa acabar com essa história de achar que ele vai tirar nota 10 em tudo. Ele precisa tirar 5,5, 6, para passar. Essa coisa de não admitir quando algo não está bem… O povo não quer alguém que acerte tudo, mas alguém que tente acertar tudo. Quando está errado, admita o erro. Não tem nada demais.

Eu fui prefeito, sei o quanto é complicado para o funcionário que só tem aquela receita você pagar em parcelas. Eu fiz questão sempre, absoluta, de não falhar nesse aspecto. O prefeito não pode deixar de recolher o Fundo de Garantia, não pode deixar de recolher os impostos, não pode ultrapassar o número de funcionários que a Lei de Responsabilidade Fiscal estabelece. E aí, se tiver, faça o restante, mas isso é lição de casa, isso não pode voltar para trás.

No cenário atual, você cogitaria disputar a prefeitura em 2020?

ZÉ MARIA
Não. Entendo que já contribui. Gosto da política, se puder ser outro, apoiar alguém que eu veja com condições, com qualidade. Mas não dá mais. Não fiz curso para ser político, acabei virando prefeito e tenho muito orgulho da tarefa que executei.

Dentro do seu atual grupo político, no DEM, existe algum nome para ser lançado?

ZÉ MARIA
O DEM, na verdade… eu nunca fiz parte. Eu fui eleito pelo MDB, sempre fui muito alinhado ao Mário Covas, que eu considero um modelo de político brasileiro. Eu ia encerrar a carreira no PSDB porque foi uma continuação do MDB do Mário Covas, mas nessa eleição (2016), no final das contas, como o PSDB foi invadido por conveniências do PSDB de Americana, aquilo me chateou muito e eu falei “tô fora”.

Houve uma pressão, um grupo de pessoas que me procurou com pesquisas, mostrando que eu ainda tinha uma boa possibilidade, e aí o DEM foi o partido que tinha vaga, que topava fazer. Não tenho realmente intenções, não tenho objetivo de ser candidato e, dependendo do quadro, posso até dizer que fulano de tal é bom candidato, mas não pretendo participar do processo. Continuo filiado ao DEM, mas não é um amor novo, nem o primeiro. Não tem como fazer política pela metade.