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  Candidatos eleitos pagaram metade das campanhas com autodoações

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8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
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  Candidatos eleitos pagaram metade das campanhas com autodoações

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eleições 2016

Candidatos eleitos pagaram metade das campanhas com autodoações

Mudança na regra eleitoral fez com que concorrentes vitoriosos da Região do Polo Têxtil aumentassem os investimentos do próprio bolso

Por João Colosalle / Thomaz Fernandes

13 nov 2016 às 07:35

Um levantamento feito pelo LIBERAL na prestação de contas das eleições municipais mostra que metade da campanha dos eleitos na RPT (Região do Polo Têxtil) foi bancada pelos próprios candidatos. Os cinco prefeitos e os 87 vereadores vitoriosos gastaram R$ 2,9 milhões segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Para bancar a disputa, eles investiram do próprio bolso R$ 1,5 milhão.

Confira os valores movimentados pelos candidatos a prefeito que foram eleitos na região, assim como dos vereadores.

Os números totais são bem diferentes da eleição passada. Em 2012, prefeitos e vereadores eleitos gastaram R$ 5,1 milhões nas campanhas, mas os investimentos do próprio bolso foram menores. Na comparação das campanhas de candidatos a prefeito, por exemplo, em 2012, apenas o então candidato Antonio Meira (PT), de Hortolândia, havia informado ao Tribunal doações próprias, que somaram R$ 12,5 mil. Nas eleições de outubro deste ano, os prefeitos eleitos doaram a si mesmos R$ 597,4 mil. O empresário Omar Najar (PMDB), eleito em Americana, foi o que mais gastou o próprio dinheiro. Doou R$ 306,4 mil para sua campanha.

Foto: João Carlos Nascimento / O Liberal
Candidato com o maior patrimônio declarado, Omar Najar também foi o que mais doou a si mesmo

Entre os vereadores, candidatos vencedores chegaram a bancar quase toda a campanha em Americana. Marschelo Meche (PSDB) gastou R$ 33,3 mil para se eleger. Ao TSE, ele informou ter doado R$ 53,9 mil do próprio bolso. A sanitarista Maria Giovana Fortunato (PCdoB) gastou na campanha o mesmo valor doado a si mesma – R$ 39,7 mil.

A prestação de contas das eleições foi encerrada no último dia 1º e ainda é analisada. A mudança no perfil das doações e gastos eleitorais é fruto das alterações na legislação. Neste ano, os candidatos estavam proibidos de receber doações de empresas. Somente pessoas físicas poderiam doar, o que acabou estimulando investimentos dos próprios concorrentes. Para especialistas, a autodoação, no entanto, beneficia candidatos ricos.

Com calendário reduzido e arrecadações mais modestas, o custo das campanhas ficou mais barato em todas as cidades da região neste ano. Em 2012, cada voto para o tucano Diego De Nadai, na época, custou R$ 14,91. Em outubro deste ano, Omar Najar gastou apenas R$ 4,21 para se eleger. Redução semelhante na disputa majoritária ocorreu em Nova Odessa e Sumaré.

Por outro lado, o cenário incerto e acirrado da disputa em Hortolândia fez com que os antigos aliados Antonio Meira e Angelo Perugini (PDT) investissem pesado nas campanhas. Cada um gastou mais de meio milhão de reais. No final, cada um dos pouco mais de 58 mil votos de Perugini custou R$ 9,96. Em 2012, cada voto de Meira valeu R$ 5,40. Entre os vereadores, os gastos com as campanhas recuaram 41% neste ano em comparação com as eleições de 2012. A diferença foi tão drástica em 2016 que 43 dos 87 vereadores eleitos gastaram menos de R$ 10 mil nas campanhas. Quatro anos atrás, foram apenas 11 que investiram baixo.

Sistema ajuda mais ricos, diz especialista

O filósofo Roberto Romano avaliou o fenômeno da alta do financiamento como um retrocesso para a política eleitoral brasileira. Depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu o financiamento por meio de empresas, ele diz entender que os candidatos com dinheiro passam a levar vantagem na escolha de candidaturas como no passado.

“Antes da chamada propaganda eleitoral gratuita, essa era a prática. Os mais ricos compravam votos, faziam propaganda e havia uma desigualdade imensa para os candidatos mais pobres. Essa desigualdade inspirou a produção da programação gratuita da propaganda”, explicou. “O modelo de financiamento foi uma oportunidade de pobres concorrerem com ricos sem que os ricos sempre ganhassem”, afirmou.

O especialista vê a necessidade de haver um equilíbrio maior nos modelos de financiamento, inclusive passando pela mistura entre financiamento público e privado. “Essa proibição não levou em conta a realidade nacional [de má distribuição de renda]. As pessoas que não têm recursos ficam sem condições de disputar. Aprofundou a elitização”, disse.

A compreensão do filósofo se dá, sobretudo, para os casos de escolha do poder Executivo, onde há um alto custo de campanha. O fenômeno de ricos candidatos se expande, na opinião do especialista, para todo o país. Thomaz Fernandes