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  Ação de igreja traz venezuelanos para a região

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8 de Agosto de 2019 Grupo Liberal Atualizado 13:56
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  Ação de igreja traz venezuelanos para a região

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Refugiados

Ação de igreja traz venezuelanos para a região

Em Americana e Nova Odessa são sete famílias que tentam recomeçar a vida fugindo das condições precárias no país vizinho

Por André Rossi

17 mar 2019 às 07:53 • Última atualização 17 mar 2019 às 08:01

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Membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias viabilizaram desde o início de janeiro a vinda de sete famílias de venezuelanos para cidades da RPT (Região do Polo Têxtil), em um total de 26 pessoas. Quatro destas famílias estão em Americana e três em Nova Odessa. Santa Bárbara d’Oeste deve também receber venezuelanos.

A ação é uma iniciativa unificada da igreja no País, que tem um representante voluntário em Boa Vista (RR), na fronteira com a Venezuela. Ele recebe os venezuelanos e os encaminha para as cidades de atuação do grupo. Os imigrantes, que são fiéis da mesma igreja na Venezuela, já chegam no Brasil sabendo que serão acolhidos.

O presidente da igreja em Americana, Benedito de Oliveira, explica que instituição é formada por “estacas”, “alas” e “ramos”. As estacas são consideradas unidades administrativas, compostas por um certo número de alas e ramos.

Os limites da Estaca Americana Brasil de Sião compreendem as cidades de Americana, Nova Odessa e Santa Bárbara d’Oeste, sendo as alas distribuídas da seguinte forma: três na primeira e uma nas outras duas.

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
Sete famílias tentam recomeçar a vida fugindo das condições precárias no país vizinho

A primeira família venezuelana chegou em Americana na primeira quinzena de janeiro. Todas estão hospedadas em casas alugadas pela igreja, que busca imóveis direto com o proprietário, sem a intermediação de uma imobiliária. Já os móveis e demais itens da residência foram doados por membros da igreja, segundo Benedito.

De acordo com o bispo (figura responsável pela ala) de Americana, Nilson Madureira Pará, o valor do aluguel e das contas de água, luz e alimentação são bancados por um fundo próprio da igreja, originado de doações dos fiéis que jejuam todo primeiro domingo do mês e doam os valores que gastariam nas refeições.

A ideia é que a igreja arque com os custos por pelo menos três meses, tempo que eles projetam que os venezuelanos estarão adaptados e trabalhando na região. Para isso, a igreja está oferecendo aulas de português para os imigrantes aprenderem a língua. As crianças já conseguiram vaga nas escolas (três em Nova Odessa e duas em Americana).

Presidente dos Rapazes (grupo de jovens com idade entre 12 e 18 anos) da estaca, Alexsander Sotelo afirma que há uma “comoção muito grande” entre os membros para ajudar os venezuelanos. Itens de alimentação e higiene para as casas também foram frutos de doações.

“As pessoas se prontificam na hora para ajudar. Nossos vizinhos ficam sabendo, já levam lá (na casa), todo mundo se mobiliza. As primeiras três casas surgiram em 15 dias para termos condições para trazê-los. Esse é o primeiro passo, saber onde vão ficar”, explicou.

A estimativa da igreja é de que mais de mil famílias já foram direcionadas para várias estacas em todo o Brasil.

INTERIORIZAÇÃO

O trabalho da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é feito de forma independente e não tem nenhuma relação com o processo de interiorização formalizado pelo governo federal em abril de 2018. A ação leva imigrantes da capital Boa Vista para que se estabeleçam em outros Estados, como Bahia, Minas Gerais, Paraná e São Paulo.

De acordo com a pesquisadora do Nepo (Núcleo de Estudos da População) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Rosana Baeninger, no geral imigrantes são acolhidos em CTAs (Centro Temporários de Acolhimento), quase sempre destinados à população de rua. Os demais são recebidos por associações religiosas da sociedade civil.

O Ministério da Cidadania, responsável pelo programa, informou que não há venezuelanos do processo de interiorização nas cidades da RPT.

‘Me ensinaram que eu tenho que ajudar o paciente, não matá-lo’

Desilusão com a profissão, esperança de dias melhores e o sacrifício de deixar uma filha para trás. Esses são alguns dos elementos que envolveram a vinda de uma das famílias que está em Americana. A enfermeira padrão Lexandra Marrero , de 38 anos, chegou no Brasil com o esposo George Salazar, de 35, que trabalhava com segurança patrimonial, e com a irmã Angelys Marrero, de 28, técnica de enfermagem.

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
Lexandra Marrero

As dificuldades para exercer a profissão com dignidade influenciaram na mudança. “Eu trabalhava em sala de parto. Vi colocarem equipamento médico de uma pessoa na outra sem esterilizar. São coisas que estão acontecendo na Venezuela. Como profissional da saúde, me ensinaram que eu tenho que ajudar o paciente, não matá-lo. E é isso que está sendo feito na Venezuela, estamos matando pacientes porque não há remédios, não há equipamentos”, contou Lexandra.

Já a irmã Angelys teve de deixar sua filha na Venezuela, com seu pai e outras irmãs. Ela tem esperança de conseguir reunir a família no Brasil. “Não tenho outra palavra a não ser gratidão. Estou agradecida com o seu povo (brasileiros). Viemos como imigrantes e nos receberam de braços abertos. E que Deus possa ajudar a minha família porque queremos trabalhar para termos a possibilidade de trazer nossos parentes, se o país permitir”, comentou Angelys.

Sem remédio para esposa, idoso de 64 anos deixa o país pela primeira vez

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
George Salazar

George Salazar (mesmo nome do filho de 35 anos), de 64 anos, nunca tinha saído da Venezuela e nunca pensou que um dia teria de abandonar o próprio país. Entretanto, a dificuldade para conseguir o básico, incluindo os remédios de hipertensão para sua esposa Deise de Salazar, de 56, não lhe deixou escolha.

“A decisão, primeiro, foi espiritual, pedindo orientação para o pai celestial. Não tive medo porque sempre precisamos estar decididos. Saímos porque sabíamos onde íamos chegar e quem íamos encontrar. Os médicos estão deixando o país e não há remédios. Ela (esposa) é hipertensa e precisa de especialista, de remédios”, desabafou Salazar.

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
O casal Yolimar e Jesus Gonzzales

O casal está hospedado em Nova Odessa com a filha Yolimar de Gonzzales, de 39, professora, seu esposo Jesus Gonzzales, de 32, e três netos. “Pensávamos muito nos nossos filhos na hora de tomar a decisão. Obviamente também passamos pelo mesmo processo que ele (George) explicou, de receber revelação pessoal para poder vir aqui”, afirmou Jesus.

O futuro dos filhos foi determinante para Yolimar, que deixou para trás o emprego de professora e demais parentes. “Se nos estabelecemos aqui (Brasil) com emprego, meus filhos terão uma melhor educação e um futuro melhor”, disse.

Foto: João Carlos Nascimento - O Liberal
Deise de Salazar e Enller Pacheco

Já matriculado em uma escola de Nova Odessa, Enller Pacheco, de 13, um dos filhos do casal, contou que os colegas de classe e sua professora se esforçam para ajudá-lo a acompanhar as aulas. “Eu não entendo muito o idioma, mas a professora foi muito legal comigo, foi explicando, me ajudando a acompanha pouco a pouco. Ela fala devagar e os colegas também me ajudam”, contou.