Igreja Católica
Dom Vilson nega deixar Diocese por investigação
Polícia Civil abriu no último dia 23 um inquérito para apurar denúncias contra bispo e o padre Pedro Leandro Ricardo, que está afastado da Basílica
Por George Aravanis
31 jan 2019 às 06:57 • Última atualização 31 jan 2019 às 06:59
Link da matéria: https://liberal.com.br/arquivo-de-noticias/cidades/americana/dom-vilson-nega-deixar-diocese-por-investigacao-952556/
Investigado pela polícia por supostamente interferir em apuração de casos de abuso e por suposta tentativa de extorsão, o bispo de Limeira, dom Vilson Dias de Oliveira, disse nesta quarta-feira que seus “inimigos querem derrubar Deus e todo mundo”. O religioso fez a declaração ao descartar a possibilidade de deixar o comando da diocese. Segundo ele, é isso que os “inimigos querem”. O bispo diz que está lidando com “bandidos.”
A Polícia Civil de Americana abriu no último dia 23 um inquérito para investigar dom Vilson e o padre Pedro Leandro Ricardo, que está afastado da Basílica de Americana desde sábado – Leandro era subordinado a Vilson. No caso do padre, a polícia apura supostos casos de assédio sexual de menores e de desvio de dinheiro da igreja – sua defesa diz que Leandro é inocente.
Em relação ao bispo, a Delegacia Seccional investiga se ele coagiu padres a depor a favor de Leandro em uma investigação policial anterior, que apurava supostos abusos sexuais. Também será investigado se dom Vilson usou seu cargo para extorquir dinheiro de outros párocos.
A investigação é baseada em denúncia anônima enviada ao MP (Ministério Público). Dom Vilson falou com o LIBERAL durante quatro minutos, por telefone. Por várias vezes, disse que não poderia responder a perguntas, pediu que a reportagem procurasse seu advogado e afirmou que não queria que nada fosse publicado (a reportagem o avisou de que não atenderia ao pedido).
Questionado se soube das denúncias contra o padre Leandro em algum momento, o religioso disse que iria passar o telefone de seu advogado. A reportagem insistiu e ele afirmou que vai responder isso no inquérito. “Nós estamos numa bola de neve agora.”
O LIBERAL perguntou se o sacerdote analisava a hipótese de pedir afastamento do comando da diocese, já que é investigado. Dom Vilson rechaçou a ideia. “Eu particularmente não tenho medo da verdade, nada temo”. E então começou a falar de “inimigos”.
Ainda disse que qualquer coisa que dissesse seria alvo de críticas. “Estamos lidando com bandidos”, completou.
Dom Vilson diz que está com a consciência tranquila sobre as denúncias, que não teme a justiça e que seus bens estão contabilizados no imposto de renda – na denúncia anônima, consta que ele teria patrimônio incompatível com sua renda. A denúncia relaciona dez imóveis.
O sacerdote não quis responder quantos imóveis adquiriu depois que se tornou bispo. Quando o LIBERAL perguntou qual seu salário, dom Vilson pediu mais uma vez para a reportagem procurar seu advogado e desligou. O defensor do sacerdote, Virgílio Ribeiro, disse que o religioso está tranquilo. “Temos documentos, provas suficientes para dizer que o bispo está supertranquilo na situação dele”.
Delegado deve ouvir testemunhas em 10 dias
O delegado José Luiz Joveli, assistente da Delegacia Seccional e responsável pelo inquérito que investiga o padre Leandro e o bispo dom Vilson, diz que deve começar a ouvir as testemunhas por volta do dia 10 de fevereiro. O policial afirma que tem apenas um escrivão à disposição e também outras atribuições, mas que está fazendo “o melhor” que pode em relação a este inquérito, que corre sob sigilo.
Na investigação, devem ser ouvidos pais de quatro pessoas que, segundo a denúncia, teriam sido alvo de abuso sexual por parte do padre Leandro (que nega tudo, por meio de seu advogado). Devem ser convocados ainda padres e fiéis que participavam de ações dentro da igreja. A ideia é que testemunhem tanto sobre supostos desvios de recursos como sobre abusos sexuais.
O LIBERAL conversou com um padre que conhece Leandro e dom Vilson e pediu anonimato. Este religioso afirma que foi procurado por um rapaz (hoje maior) que relatou que, quando adolescente, foi assediado por Leandro, que teria passado a mão em suas coxas. A reportagem conversou com este homem, mas ele não quis falar sobre o caso. Apenas afirmou à reportagem que dirá tudo à Justiça.